Um grupo de cientistas internacionais está propondo a criação de uma espécie de “arca de Noé” de micróbios, cujo objetivo é proteger a saúde da Humanidade a longo prazo. Essa seleção de germes benéficos para o homem seria coletada ao redor do mundo, especificamente em populações que não foram expostas a antibióticos, comidas processadas e outras ameaças da sociedade moderna – que vêm contribuindo para uma perda significativa de diversidade microbiana e, consequentemente, para o aumento de várias doenças.
A microbiota humana é formada por trilhões de micróbios que habitam nosso corpo e nosso organismo, contribuindo para a (boa) saúde das mais diversas maneiras. Os pesquisadores, que divulgaram sua proposta na edição de ontem da revista Science, contam que se inspiraram no Cofre Global de Svalbard, na Noruega, a maior coleção de sementes do mundo, criada para preservar a diversidade da agricultura para o caso de uma catástrofe natural ou evento produzido pelo homem.
“Estamos enfrentando uma crescente crise global da saúde, que demanda a captura e a preservação da diversidade da microbiota humana enquanto ela ainda existe”, explicou a principal autora do manifesto, Maria Gloria Dominguez-Bello, dos departamentos de Bioquímica e Microbiologia e também de Antropologia da Universidade de Rutgers, em seu artigo. “Esses micróbios evoluíram com os humanos ao longo de milhares de anos. Eles nos ajudam a digerir a comida, fortalecem nosso sistema imunológico, nos protegem contra germes invasores. Ao longo das últimas gerações, vemos uma perda significativa dessa diversidade microbiana relacionada ao aumento global de problemas imunológicos e outras desordens.”
Os cientistas defendem a ideia de que um dia será possível prevenir doenças com a reintrodução de alguns micróbios perdidos. Mas isso só poderá ser feito se os pesquisadores conseguirem coletar esses germes “do bem” em populações que vivem isoladas em áreas remotas do planeta e, por isso, mantêm a microbiota original.