Questão de eficiência
28/09/2018
A nuvem pública avança no mundo corporativo. Na virada para 2019, a maioria das empresas globais, segundo a Forrester, dependerá de ao menos uma plataforma pública, como Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure, para crescer, ser mais eficiente e mudar a forma como se relaciona com clientes. Três em cada dez companhias de alto desempenho têm nuvem pública como um dos três investimentos prioritários, segundo o Gartner. No Brasil, o crescimento desse tipo de gasto segue a tendência global, diz o instituto.

A redução de custos é o apelo mais óbvio do modelo. As empresas se livram das altas despesas para operar e manter datacenters (espaços onde ficam os servidores) e passam a usar capacidades de computação, armazenamento e rede contratadas de terceiros. Elas pagam apenas pelos recursos que usam e podem facilmente aumentá-los ou diminuí-los conforme a demanda do negócio.

Mas o maior benefício da nuvem é abrir as portas para o futuro. Ela pode habilitar, a custos mais acessíveis, inovações com alto poder de ruptura, como inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT) e analytics. Isso abre um mundo de possibilidades de real transformação, impossível de ser obtida com infraestruturas convencionais.

No cerne dessa onda está a guerra de ofertas de gigantes que dominam a seara da nuvem pública - Amazon, Microsoft, Alibaba, Google e IBM. "A disputa resulta em maior variedade de serviços, preços mais baixos e maior integração entre fornecedores", diz Maiara Munhoz, analista de cloud computing da Frost & Sullivan, que captou crescimento acima de 44% nas receitas com nuvem pública no Brasil em 2017, superando US$ 611 milhões.

No mundo, o Gartner prevê receitas de US$ 58 bilhões em 2019 no âmbito da infraestrutura como serviço (IaaS, na sigla em inglês) e da plataforma como serviço (PaaS), duas das três principais modalidades de nuvem - a outra é software como serviço. O avanço é de 26% em relação aos US$ 46 bilhões de 2018. De forma geral, nuvem pública atingirá receitas globais de US$ 206 bilhões em 2019, aumento de 17,7% no ano.

Em IaaS, a AWS lidera, com receitas de US$ 12 bilhões em 2017, em mercado global de US$ 24 bilhões, segundo o Gartner. A tendência é que a liderança diminua com o avanço do chamado "multicloud" - uso de diferentes nuvens para diferentes aplicações - tendência forte no Brasil, segundo Pietro Delai, gerente de consultoria e pesquisa da IDC Brasil.

A Microsoft é a segunda no ranking de IaaS e a que cresce mais rápido - expansão de mais de 98% em 2017, com receita de US$ 3 bilhões. É seguida pela chinesa Alibaba (US$ 1,1 bilhão), que apeou o Google do pódio com estratégia agressiva de expansão fora da Ásia.

Embora IaaS seja a que mais cresce, sua convergência com PaaS será o motor da nuvem daqui para frente. A PaaS, dizem analistas, é a base da real transformação por abrigar componentes que aceleram e barateiam o desenvolvimento e implementação de aplicações.

"Provedores com tecnologia integrada oferecem maior flexibilidade aos clientes", diz Brandon Medford, analista de serviços de nuvem do Gartner. Ele orienta as empresas a não verem esses serviços como commodities. "Ofertas dos provedores de hiperescala diferenciam-se pela amplitude e profundidade de seus portfólios e por fatores como disponibilidade, desempenho, automação e segurança."

Na Microsoft Brasil, o diretor de nuvem, Roberto Prado, destaca a cloud híbrida como coração da estratégia da multinacional nesse segmento. O negócio total de nuvem comercial da fornecedora gera US$ 23 bilhões em receita global anual puxada, em grande parte, pelo Azure, uma coleção de serviços de IaaS e PaaS.
A abordagem híbrida promove a integração em ambientes multicloud. É o que permite, por exemplo, que um sistema empresarial ERP rodando on-premise "converse" com sistema de relacionamento com clientes que está na nuvem.

"Cloud híbrida significa que nossos clientes podem mover servidores para a nuvem de forma gradativa, sem risco para a operação", diz Prado. Ele informa que cresce no país o número de empresas que transferem para o Azure aplicações de missão crítica, como o sistema de gestão SAP. "Quando uma companhia migra o seu core, logo migrará o datacenter inteiro". Desde fevereiro, a Microsoft cobra os serviços de nuvem em moeda local. "Isso dá aos clientes previsibilidade e mais controle de custos."

Na IBM Brasil, Marcos Paraíso, líder de Watson e plataforma de nuvem, destaca experiência e soluções cognitivas como vantagens competitivas. "Acumulamos conhecimento em várias indústrias, temos todas as soluções em cloud que elas precisam e possibilitamos que essas soluções sejam melhoradas e potencializadas com o uso do nosso sistema cognitivo Watson."

Paraíso defende que as abordagens devem evitar rupturas desnecessárias e considerar investimentos já feitos pelos clientes em seus datacenters. A IBM Cloud tem como usuários vasta lista de marcas globais, mas Paraíso prefere citar a Oba Hortifruti, uma rede de varejo de 34 lojas, para ilustrar a democracia da nuvem. "Sem grande time de TI, eles mudaram de ambiente 100% próprio para 100% nuvem em apenas dois meses, com sucesso."

No Google, o futuro da nuvem também é multicloud e híbrido. "Acreditamos em implementações abertas que permitam aos clientes navegar entre diferentes fornecedores", diz João Bolonha, diretor do Google Cloud para a América Latina.

A tecnologia de contêineres - modo de empacotar um aplicativo para que possa ser movido e executado em diferentes sistemas - deve assegurar essa liberdade. "Essas caixas contendo sistemas podem ir para qualquer nuvem que suporte contêineres", diz Bolonha. A tecnologia é vista como uma vacina contra o chamado lock-in, situação em que clientes ficam presos a um provedor porque mover-se para outra nuvem torna-se caro ou complexo.

Fujitsu e Oracle também notam aquecimento de mercado. A Fujitsu enfatiza cloud híbrida. "A opção agrega benefícios da nuvem pública, como menor custo, aos da nuvem privada, como maior controle dos dados", diz Nilton Cruz, diretor de transformação. Na Oracle, o portfólio cobre de IaaS a SaaS, para permitir "migrações de cargas de trabalho de forma rápida e viáveis economicamente", diz Alexandre Maioral, vice-presidente de tecnologia.



 
Fonte: Valor




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