O desafio de garantir assistência à saúde dos brasileiros está cada vez maior. O envelhecimento populacional, as mudanças nos padrões das doenças, o avanço tecnológico e os efeitos da crise – que aumentaram expressivamente a quantidade de pessoas que usam a rede pública – estão fazendo a meta de garantir o direito básico à saúde ficar mais distante.
Para resolver essa complicada equação, os governantes têm apostado em novas medidas de gestão administrativa e financeira para assegurar e aumentar o serviço para quem depende do atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS. Neste cenário, a união das forças pública e privada, que já apresentou resultados positivos em vários países, como Alemanha e Canadá, está se mostrado uma das opções mais eficazes.
Uniões estratégicas
A cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, conseguiu ampliar a conscientização e os cuidados contra o câncer de mama por este caminho público-privado. Em 2017, o Serviço de Mastologia do Hospital de Ensino Alcides Carneiro, a Faculdade de Medicina de Petrópolis, o Serviço Social Autônomo Hospital Alcides Carneiro, a farmacêutica Roche e a Prefeitura de Petrópolis colocaram em prática uma iniciativa de capacitação das equipes de saúde da família, visando à informação e à prevenção da doença entre as mulheres.
O principal objetivo foram as ações focadas no apoio a programas de educação médica continuada e na capacitação de profissionais da atenção básica, fornecendo instrumento para que eles ajam de maneira mais efetiva junto às comunidades, ajudando-as na prevenção, no reconhecimento dos sintomas, na detecção precoce, na orientação sobre cuidados da saúde mamária e nos tratamentos. Para isso, os profissionais participaram de treinamentos teóricos e práticos. Além disso, foram criadas duas cartilhas que são utilizadas como um guia rápido na orientação e consulta, uma para os médicos e enfermeiros e outra para os agentes comunitários.
Resultados: A iniciativa no Rio de Janeiro, que está prevista para acabar no fim de 2018, resultou em ganhos importantes. Foram registradas 296 horas de atendimento ambulatorial no período entre maio e setembro de 2017, o que apontou um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano anterior. Houve um crescimento de 41% no número de atendimentos e de 42% na quantidade de cirurgias realizadas na mesma época em 2016.
Mais eficiência, mais serviço
No Espírito Santo, o panorama da saúde pública no estado começou a mudar desde 2017. A Secretaria de Estado da Saúde investiu na modernização da gestão e, entre outras medidas, fez parcerias com a ONG Espírito Santo em Ação e empresas privadas de diversos setores. Esse trabalho teve importante impacto na Rede Cuidar – uma iniciativa com foco na alta resolutividade, na regulação, na educação sobre doenças, no plano de cuidado integral e no prontuário único. Até agora, foram abertas três novas unidades de atendimento integral à saúde no interior do estado, e a previsão, de acordo com a Secretaria, é de que mais duas serão abertas até o próximo ano.
Resultados: Após o projeto, houve aumento da oferta de serviço regionalizado no estado, mais perto da casa das pessoas. De setembro de 2017 a setembro de 2018, as três novas unidades atenderam 30.905 pessoas, realizando 60.174 consultas e exames. Registram também um menor índíce de deslocamentos de pacientes nas estradas. Considerado referência pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), e com alto potencial de ser replicado, o projeto tornou-se lei estadual, o que garantirá a sua continuidade.
Emergência sem superlotação
Outra instituição que merece destaque no que diz respeito às parcerias público-privadas é o Hospital Sírio-Libanês. Ele investirá mais de R$ 547 milhões entre 2018 e 2020 como parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). A instituição tem ainda convênio com as secretarias de saúde municipal e estadual para administrar cinco unidades públicas em São Paulo. Entre os projetos do Proadi-SUS, o Sírio-Libanês implementou um programa do Ministério da Saúde que tem o objetivo de reduzir a superlotação e melhorar o atendimento em emergências e urgências de hospitais que atendem pelo SUS.
O Ciclo Zero do programa aconteceu entre agosto e dezembro de 2017 e foi implementado em seis unidades públicas de saúde, treinando suas equipes e auxiliando na incorporação de melhorias para garantir agilidade e eficiência nos processos de urgências.
A partir do sucesso obtido no Ciclo Zero, o projeto foi ampliado para outros 10 hospitais do SUS espalhados pelo País. No fim de 2020, a meta é chegar a 100 serviços de emergência. Além disso, o Sírio-Libanês está envolvido no Projeto Regula+Brasil, que chega a cinco capitais brasileiras com o objetivo de reduzir as filas de atendimento de especialistas no SUS, fortalecendo a atenção primária. Neste cenário, o paciente que precisa de encaminhamento especializado passa de imediato por uma avaliação feita por médicos que, ligados a um serviço de telemedicina, avaliam o quadro do indivíduo e indicam a gravidade do caso. A medida vai evitar que ele seja encaminhado de forma desnecessária a especialistas, além de reduzir filas de espera no atendimento.
A ação aumenta ainda a taxa de resolução na própria Unidade Básica de Saúde (UBS) e ajuda a capacitar os médicos das UBSs a partir da discussão de casos.