"Não faltam médicos, mas financiamento", diz Alckmin
Valor Econômico
05/09/2013

"Não faltam médicos, mas financiamento", diz Alckmin

Por Vandson Lima e Cristiane Agostine | De São Paulo
 
Marco Ambrosio/Frame/Folhapress / Marco Ambrosio/Frame/Folhapress
Alckmin no centro de reabilitação Lucy Montoro: "Estou só mostrando que é importante ter atendimento de qualidade, não é só médico, são equipes multiprofissionais"

 

Não era evento partidário, mas a cerimônia de ampliação de um centro de reabilitação na capital paulista, ontem, foi convertido em uma espécie de palanque para o PSDB marcar posição na área da saúde num momento em que o provável adversário tucano no Estado, o ministro Alexandre Padilha (PT), ocupa espaços com o programa Mais Médicos.

Ao passo que o governador, Geraldo Alckmin (PSDB), foi bastante contido em sua saudação e guardou munição para a entrevista coletiva, na qual fez críticas ao Mais Médicos, seus subordinados lançaram mão de avaliações mais partidárias já no púlpito do evento.

Para o secretário de Saúde Giovanni Guido Cerri, que cumpriu ontem seu último dia no cargo - será substituído pelo infectologista David Uip - a unidade que estava sendo ampliada era "uma mostra dos avanços contínuos dos últimos 12 anos", referindo-se à época em que Alckmin se tornou governador pela primeira vez, em 2001. "Na verdade, dos avanços em todos os esqueletos que [Mário] Covas e Alckmin receberam na área da Saúde [ao assumirem o governo, em 1995]", completou. "Todos os secretários de outros Estados invejam a situação da saúde em São Paulo", garantiu Cerri.

A secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Linamara Battistella, disse que o que se inaugurava ali "não é uma escultura de fumaça, é uma coisa palpável, um projeto que forma pessoas e estrutura uma rede de serviços. Esse é o modelo de SUS [Sistema Único de Saúde] que nós acreditamos e que gostaríamos de ver prosperar no Brasil, porque em São Paulo ele está estruturado". Seu adjunto, Marco Antonio Pellegrini, ele próprio portador de deficiência motora, foi mais longe e saudou Alckmin "por estarmos recebendo, em seu governo e nos governos anteriores do PSDB, os investimentos que mudaram a vida da gente. Muito obrigado ao governador por isso".

Aos jornalistas, Alckmin avaliou que a falta de médicos não é o maior problema da saúde pública brasileira. Para o governador, o debate não deveria focar na vinda ou não de médicos estrangeiros ao país, mas na necessidade de se melhorar o financiamento do setor. "Mais médico é bom, agora esse não é o problema da saúde brasileira hoje. O problema é financiamento", observou. "O SUS entrou em colapso, em crise, porque os prestadores de serviço não tem mais como prestá-lo. A tabela precisa ser corrigida. Um médico que atende pelo SUS ganha R$ 10. Então, a questão não é o médico ser de fora ou não. Esse não é o debate principal", continuou.

Alckmin aproveitou para alfinetar a administração federal da saúde. "Aqui está um bom exemplo do SUS, que funciona com qualidade. Não pode ser improvisado, mais ou menos". Questionado se fazia uma crítica à gestão Padilha e ao programa Mais Médicos, respondeu: "Estou só mostrando que é importante ter atendimento de qualidade, de forma bem feita. Não é só médico, são equipes multiprofissionais. Hoje em dia se trabalha em equipe".

O governador desconversou sobre a reunião que teve com prefeitos do PMDB no Estado, pela manhã, e disse não estar por ora buscando apoio da sigla para a disputa pela reeleição. "Não, não é isso, cada partido tem seu caminho e sua história. No momento correto, cada partido vai decidir o que fazer".

Filiado ao PSDB e com ligações históricas ao partido, o infectologista David Uip tomará hoje posse do comando da Secretaria Estadual de Saúde, com o desafio de projetar a pasta para se contrapor à atuação de Padilha no Estado. Médico de celebridades e de importantes políticos, Uip terá como missão dar visibilidade às ações do governo paulista na área com vistas a 2014.

Uip assume o cargo no lugar de Giovanni Guido Cerri, que pediu demissão por motivos pessoais, segundo o governo paulista.

O novo secretário é diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor titular de infectologia da Faculdade de Medicina do ABC. O médico já foi diretor do Instituto do Coração (Incor) e é considerado um dos maiores especialistas em Aids do país.

O infectologista foi médico particular do já falecido governador Mário Covas (1930-2001), que enfrentou um câncer. Na época, era um dos principais confidentes de Covas e acompanhava de perto a vida política e pessoal do então governador.

A decisão de trocar o comando da saúde se deu seis dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter lançado Alexandre Padilha à disputa pelo governo paulista em 2014.

 

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