Indústria pressiona por menor custo do convênio
28/08/2018
Silvia Zamboni / Valor
Marcia Agosti, executiva da GE no Brasil: "O nosso desafio é conseguir parceiros para
compartilhar erros e acertos num modelo mais centrado no paciente"


A indústria está pressionando as operadoras de planos de saúde, hospitais, laboratórios e consultórios a trabalhar com novos modelos de remuneração e de atendimento para reduzir o custo do convênio médico - benefício que representa, atualmente, cerca de 12% da folha de pagamento dessas companhias. O que se busca é um modelo em que o pagamento seja feito de acordo com a performance, diferentemente do atual formato, em que se paga por serviço, método conhecido no setor da saúde como "fee for service".

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) montou, no começo de 2017, um grupo de trabalho com representantes de 44 empresas - como Petrobras, Vale, Gerdau, Odebrecht, Ambev, GE, Volkswagen e Coca-Cola - para tratar especificamente dos planos de saúde. Recentemente, esse grupo da CNI tornou-se um representante junto ao governo para tratar de temas como reajuste dos convênios, inclusão de novos procedimentos no rol de serviços obrigatórios, coparticipação e franquias, entre outros. A primeira reunião da indústria na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) será realizada no próximo dia 30.

"Somos os pagadores do plano de saúde e não podíamos participar das discussões", disse Marcia Agosti, líder de gestão de saúde da GE Brasil. "O grupo de trabalho da CNI tem o papel de articular, influenciar, mobilizar", complementou Emmanuel Lacerda, gerente-executivo de saúde e segurança do trabalho do Serviço Social da Indústria (Sesi).

As 44 empresas possuem juntas 1,5 milhão de usuários de planos de saúde. Somada, a receita anual dessas fabricantes equivale a mais de 13% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e a pelo menos 70% do PIB industrial do país.

Todo o setor industrial brasileiro concede convênios médios para 10,2 milhões de funcionários e dependentes - o que representa quase 22% dos 47 milhões de usuários de planos de saúde no Brasil. Considerando apenas os planos empresariais, a representatividade da indústria pula para um terço.

Setor defende modelo de remuneração de médicos e hospitais que leve em conta o resultado do atendimento ao paciente

A CNI apresentou aos candidatos à presidência da República, no mês passado, seis propostas para frear os custos do planos de saúde, sendo que uma delas é a mudança na forma de remuneração. Foi a primeira vez que o tema entrou na pauta de reivindicações da entidade.

Na semana passada, durante evento promovido pela Abramge, associação das operadoras de planos, representantes da indústria reclamaram da falta de engajamento de operadoras e prestadores de serviços para mudar o modelo de pagamento e atendimento médico. Chamou atenção a apresentação da GE - empresa que faz parte do grupo da CNI e tem um dos casos mais bem-sucedidos de gestão de saúde. A GE criou uma rede de médicos e hospitais que presta um atendimento diferenciado aos seus funcionários. A empresa paga um adicional a esses prestadores. Mesmo somando esses gastos extras, a despesa da GE com saúde ainda é inferior ao que a companhia gastaria se tivesse que bancar o reajuste praticado no mercado. Em 2017, a variação do custo médico hospitalar na GE foi de cerca de 10% contra 19,2% calculado pelo IESS, instituto que mede os custos de planos individuais.

Criado há oito anos, esse modelo é totalmente bancado pela GE. "O nosso desafio é conseguir parceiros [operadoras e prestadores de serviço] para compartilhar erros e acertos num modelo mais centrado no paciente", disse Marcia Agosti, da GE Brasil, para uma plateia formada por representantes do setor de saúde. No decorrer de sua fala, as pessoas foram deixando a sala, mostrando desinteresse pelo tema. No fim de sua apresentação, a palestrante chamou o presidente da Abramge, Reinaldo Scheibe, ao palco para que ele pudesse puder ver o baixo quórum e como o assunto afugentava o público. Scheibe ponderou que o setor sofre com falta de políticas de Estado e de padronização das informações.

Segundo Martha Oliveira, diretora-executiva da Anahp, associação que representa os 100 maiores hospitais privados do país, um dos obstáculos para implementar novos modelos de remuneração por performance é a dificuldade de definir o que é um bom atendimento médico. "Nos Estados Unidos, conseguiram implementar um novo modelo de remuneração por causa do Obama Care. Lá foram definidos prazo e indicadores para que houvesse essa virada no modelo", disse Martha. A diretora da Anahp destaca que o formato "fee for service" é ineficiente porque é baseado na lógica de que quanto maior for a produção, maior será o ganho financeiro. Ainda assim, ela pondera que o sistema deve ser mantido para procedimentos em que é difícil prever os custos e os resultados.

Hoje, já operadoras e hospitais trabalhando com novos formatos de remuneração no Brasil. Na Amil, cerca de 30% de sua despesa vem de procedimentos que já têm um valor pré-definido. Um dos hospitais que está trabalhando neste modelo é o Santa Paula, em São Paulo. O Hospital Alemão Oswaldo Cruz criou uma unidade em que todos os procedimentos médicos são realizados com valores pré-definidos.
 
Fonte: Valor




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