Após perda de 3 milhões de clientes, cem planos de saúde fecham as portas
06/08/2018
As operadoras de convênios médicos e as entidades de defesa do consumidor concordam em um ponto: os planos de saúde podem ficar insustentáveis nos próximos anos.

Com o envelhecimento da população e a queda do número de usuários durante a crise, as empresas têm reajustado preços e pleiteado uma maior partilha das despesas com os clientes. Já o consumidor, com o orçamento apertado, se queixa de aumentos abusivos e da queda de qualidade.

Afetados pela crise econômica, mais de cem planos encerraram suas atividades entre o fim de 2014 e maio deste ano, segundo os dados mais recentes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No mesmo período, cerca de 3 milhões de brasileiros perderam renda e tiveram de abrir mão do plano.

Enquanto os reajustes dos planos individuais são limitados pela ANS a até 10%, entre os planos coletivos, que correspondem a quase 80% dos contratos, não existe teto definido. Nos convênios com até 30 beneficiários, que servem de base para a regulamentação, essa alta foi de até 70% na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2017.

Para Ana Carolina Navarrete, advogada e pesquisadora em saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), as empresas do setor alegam que há muita regulação, mas o histórico dos últimos anos mostra que a ANS regula mal esse serviço. "O foco da agência é o equilíbrio econômico-financeiro das operadoras, não a qualidade do serviço prestado ao consumidor." O diretor da ANS, Rodrigo Aguiar, admite que os reajustes altos nos planos médicos são a questão mais sensível à agência neste momento e que têm sido monitorados intensamente nos últimos três anos, apesar de ainda não haver uma solução.

As operadoras, por sua vez, argumentam que, com o avanço da tecnologia utilizada em exames e procedimentos médicos, os custos para a prestação desses serviços subiram. Como o Brasil ainda importa a maior parte dos equipamentos hospitalares e os princípios ativos para a fabricação de medicamentos, esses produtos são sensíveis às variações do dólar.

Os números da ANS recentemente divulgados mostram que em 2017 foram 1,5 bilhão de procedimentos (consultas, atendimentos ambulatoriais, exames, terapias, internações e procedimentos odontológicos), 3,4% mais do que em 2016.

Além do desperdício, as fraudes e a judicialização, tanto no SUS quanto no serviço privado, encarecem o serviço.

No caso do desperdício e das fraudes, eles já correspondem a um quinto dos gastos assistenciais, de acordo com o Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS). "O sistema corre risco", diz Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).




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