Uma pesquisa brasileira realizada com mais de 100 mil pacientes comprovou a maior efetividade do medicamento Dolutegravir (DTG) para o tratamento do HIV, em comparação com outros antirretrovirais (remédios que bloqueiam a multiplicação do vírus no organismo). O DTG é usado em pacientes iniciantes no tratamento do HIV no Brasil desde janeiro de 2017.
O estudo - cujos resultados foram apresentados na terça-feira (24), na 22ª Conferência Internacional de Aids, na Holanda - coletou e analisou dados de 103.240 pacientes em início de terapia, entre janeiro de 2014 e junho de 2017.
Os resultados demonstram que o esquema de tratamento com DTG, associado ao "2 em 1" (tenofovir e lamivudina), foi 42% mais eficaz na supressão da carga viral do HIV em um período de seis meses, quando comparado ao "3 em 1" (combinação dos antirretrovirais efavirenz, tenofovir e lamivudina), esquema recomendado anteriormente. Em comparação a outros esquemas, o dolutegravir + "2 em 1" foi de 51% a 162% mais efetivo.
Os dados foram fornecidos por sistemas de informação em saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) que controlam a distribuição de medicamentos e de exames para monitorar a infecção. Estudos desse tipo têm sido muito utilizados na tomada de decisão sobre novos medicamentos, pois são conduzidos em ambiente do mundo real, cujas populações participantes são muito mais representativas da realidade do que aquelas selecionadas para ensaios clínicos.
A terapia
A terapia antirretroviral diminui significativamente a quantidade de HIV no sangue, suprimindo a carga viral a níveis indetectáveis. Além de trazer inúmeros benefícios para a saúde da pessoa vivendo com HIV, suprimir a carga viral reduz a quase zero o risco de transmissão do vírus por via sexual. Por isso, os resultados do estudo são ainda mais animadores para a resposta brasileira ao HIV.
"Os resultados que encontramos apoiam a decisão do Brasil de mudar seus protocolos de tratamento clínico, recomendando o Dolutegravir como esquema preferencial para terapia antirretroviral de primeira linha, em substituição aos esquemas com efavirenz", ressaltou Mariana Veloso, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo.
Atualmente, 122 mil brasileiros usam o DTG em seus esquemas de tratamento antirretroviral, o que equivale a 19% das 572 mil pessoas que fazem terapia gratuita por meio do SUS. Destaca-se também que 87% das pessoas que iniciaram o tratamento em 2018 começaram com DTG.