À medida que provedores e pagadores transitam para uma saúde baseada em valor, incluindo novas formas de se mensurar resultados e interpretar custos, a gestão da saúde populacional se tornou um mecanismo básico para realizar essa transformação de forma sustentável.
Este é um termo ouvido cada vez mais e presente tanto a nível governamental quanto institucional. Não é de hoje que se percebe que dinheiro puramente investido em saúde não é proporcional à qualidade, e nem resultados. É necessário um trabalho forte de gestão e políticas na alocação desse recurso. Para se ter uma ideia, nos EUA, 17,1% do PIB é gasto com saúde, o que se converte em uma expectativa de vida de 78.8 anos, com um acesso público de 34% da população. Enquanto isso, no Reino Unido, 100% da população têm acesso à saúde pública, com expectativa de 81.1 anos, realizados com um orçamento de 8.8% do PIB.
O gerenciamento da saúde é uma abordagem abrangente para descobrir lacunas no atendimento através de dados e programas de gestão que alinhem os cuidados aos indivíduos, que podem ainda não ser pacientes, de forma a otimizar resultados e receita. Desenvolver e implantar esses projetos pode ser uma proposta difícil, especialmente devido a limitações de orçamento e transição de cultura.
São muitas as evidências de que a gestão da saúde populacional pode reduzir o impacto das doenças crônicas, a utilização inadequada de serviços e promover a melhora na qualidade de vida dos pacientes. O gerenciamento efetivo da saúde da população beneficia pacientes, médicos, organizações de saúde, todo o sistema de saúde e o país como um todo.
Os pacientes recebem melhor atenção coordenada – e desfrutam de melhor saúde – porque são acompanhados e recebem atenção primária. Os médicos são mais bem informados e seus pacientes são mais engajados, e consequentemente, vemos melhores resultados nos cuidados. As organizações de saúde são mais lucrativas – qualquer que seja seu modelo de pagamento – porque as lacunas no atendimento são preenchidas, o volume de pacientes aumenta e o custo de prestação de cuidados pode ser quantificado com mais precisão.
O sistema de saúde se beneficia do aumento do atendimento preventivo, o que ajuda a evitar procedimentos mais caros e leva a uma atenção de qualidade, mais eficiente e coordenada entre as organizações de saúde. O país se beneficia de custos reduzidos com saúde, melhor gerenciamento de doenças e uma população geralmente mais saudável.
Começar pequeno e com o básico é a chave para qualquer primeiro contato com uma nova iniciativa, neste caso, para o desenvolvimento de um programa bem sucedido de gestão de saúde da população. Os agentes devem se perguntar qual iniciativa economizará mais dinheiro e produzirá as melhorias clínicas mais mensuráveis com o mínimo de esforço. Um case-piloto, como desenvolver estratégias para aumentar as taxas de vacinação contra gripe ou pneumonia, por exemplo, pode servir como prova de conceito para os executivos enquanto ajuda uma organização a desenvolver uma base de melhores práticas para casos de uso futuros. Novamente, não existem respostas prontas que caibam em todos os contextos, mas um consenso é que a abordagem voltada aos dados para o gerenciamento pró-ativo e preventivo da população provavelmente produzirá resultados mais positivos a longo prazo para os pacientes.
Um programa de gerenciamento da saúde da população (PHM) bem sucedido é aquele que fornece insights tanto para o corpo clínico quanto para administradores, permite que os mesmos identifiquem os pontos de melhoria e tomem ações visando a dupla resultado-custo. O PHM procura melhorar os resultados de saúde de um grupo, monitorando e identificando pacientes individuais dentro deste grupo. Isso requer que dados clínicos, financeiros e operacionais estejam disponíveis para elaborar uma infraestrutura de gerenciamento de atendimento, incluindo a estratificação de risco, entrega do cuidado e monitoramento continuado do desfecho, individual e seu impacto no grupo. As métricas de qualidade são fundamentais para avaliar um programa PHM, mas muitas organizações têm dificuldade em entender quais métricas devem ser usadas, quais dados são necessários e como podem traduzir números de desempenho em melhorias acionáveis.
Dados importantes para a estratificação de risco podem incluir o número e tipo de doenças crônicas, histórico de utilização hospitalar, dados pessoais, diagnóstico de saúde mental ou outros fatores como ambientais, sociais e econômicos. Pacientes com notas de risco mais altas podem receber atenção extra, incluindo acompanhamento mais frequente, apoio social e comunitário, serviços de coordenação de cuidados aprimorados, orientação para adesão à medicação ou um convite para se inscrever em um programa educacional de apoio ao paciente. Pacientes com notas de menor risco ainda podem se beneficiar de serviços como lembretes de exames preventivos, opções para se comunicar com provedores, e incentivos para manter hábitos de vida saudáveis.
Apesar das doenças crônicas estarem entre as doenças mais caras, prevalentes e evitáveis que afetam a saúde da população, nem sempre os participantes deste grupo retornarão aos melhores resultados. Isso porque, em algumas vezes, não há muito o que se fazer além de acompanhamentos para, de fato, alterar uma situação médica. Já indivíduos em baixo risco podem potencialmente se beneficiar de forma muito mais interessante desses programas, se engajando antecipadamente com a sua saúde e evitando custosos problemas futuros, naquilo que os compete.
Essas estratégias e serviços preventivos destinam-se a ajudar a manter o estado de saúde mais alto possível em cada indivíduo, evitando os eventos de crise, reduzindo as hospitalizações desnecessárias e melhorando a qualidade de vida geral. Como resultado, os provedores podem reduzir serviços caros, evitar duplicação de esforços, aumentar a satisfação do paciente e promover melhor saúde geral para seus pacientes.
A prevenção é um dos pilares de um conceito bem mais amplo e que volta a ter a sua importância reconhecida depois de anos de negligência. A atenção primária, em sua essência é o tratamento das pessoas, e não necessariamente de doenças ou condições específicas. Geralmente, é o primeiro ponto de contato entre o indivíduo e o sistema de saúde, isso significa que é nesse contato que podem ser vistos os primeiros sintomas de depressão, sinais precoces de câncer ou doenças crônicas e outros problemas de saúde. O objetivo é proporcionar a promoção da saúde, através da prevenção de doenças, manutenção da saúde, aconselhamento, educação do paciente, diagnóstico e tratamento de doenças. É um atendimento abrangente, acessível e baseado na comunidade, que atende às necessidades de saúde dos indivíduos ao longo da vida.
Neste modelo, os profissionais de atenção primária garantem que os pacientes recebam os cuidados certos, no ambiente certo, pelo provedor mais adequado, considerando a eficiência e o valor para o paciente. Cerca de 80% a 90% das necessidades de saúde de um indivíduo ao longo de sua vida podem ser atendidas na medicina básica. Um estudo americano mostrou que os adultos do país que têm um provedor de cuidados primários têm 19% menos chances de morte prematura do que aqueles que só vêem especialistas para seus cuidados. Além disso, as pessoas que têm acesso à cuidados primários poupam 33% de recursos financeiros em saúde sobre os seus pares que apenas consultam especialistas.
O acesso aos cuidados primários ajuda a manter as pessoas fora das salas de emergência, onde os cuidados custam pelo menos quatro vezes mais que os atendimentos ambulatoriais. Fato embasado por uma pesquisa da Carolina do Norte, que descobriu que quase 60% dos problemas dos pacientes poderiam ter sido abordados no modelo de atenção primária, o que teria gerado uma economia de três a sete vezes no custo total.
Quando implementada corretamente, a atenção primária é muito benéfica para a saúde dos pacientes e também reduz os encargos financeiros tanto do sistema de saúde quanto das próprias empresas. Um dado da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que companhias que possuem gestão de saúde, incluindo atenção primária, reduzem em até 30% as despesas de tratamento médico e absenteísmo de seus funcionários.
Apesar das incertezas, é importante reconhecer que a gestão da saúde da população será a base para a maioria das futuras iniciativas de reforma da saúde. Sem um embasamento firme na estratificação de riscos, cuidados preventivos e análises de big data, as instituições provavelmente não conseguirão lidar com seus indivíduos de forma sustentável e baseadas em valor.