Escritório do futuro valoriza encontros
Valor Econômico
07/08/2013

Escritório do futuro valoriza encontros

 

 
Por Angela Klinke | Para o Valor, de Zeeland (EUA)
 
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Estudo classificou dez modos de trabalho em empresas, como o Plaza (foto), espaço para amenidades, com grande visibilidade do entorno, numa área de cruzamento de pessoas

 

O "stop" do "home office" anunciado em fevereiro pela CEO do Yahoo, Marissa Mayer, foi um alento para os fabricantes de móveis corporativos. Quando uma empresa de tecnologia no domínio do virtual e da mobilidade aponta que é mais produtivo os funcionários voltarem para os escritórios, ela sinaliza para os demais setores a retomada estratégica do espaço físico.

A americana Herman Miller nem contava com essa ajudinha quando montou um grupo de estudos envolvendo especialistas em quatro continentes para discutir como imaginam o ambiente de trabalho até 2018. Ela já tinha adotado como diretriz para os próximos cinco anos domesticar onde se ganha o pão, ou seja, transformar o "office" num "living". E foi essa proposta que apresentou na feira mais importante do setor, a NeoCon, em Chicago, em junho.

O mobiliário que era feito para suportar a tecnologia e funcionários com caras enterradas nas telas agora precisa lidar com pessoas com a informação em suas mãos. O que antes era secundário no trabalho - como "camaradagem, conexão, interação espontânea e expressão em grupo" - tornou-se fundamental. Gente é mais importante que cadeira, ainda que seja ergonômica.

Apostar no design não só para ser contemporânea, mas para alcançar o futuro, tem sido a motivação da empresa com uma origem improvável. O fundador, D.J. de Pree, abstêmio e cristão praticante, colocou o nome de seu sogro na empresa em homenagem à sua retidão moral. A fábrica, que começou fazendo mobiliário residencial, foi erguida há 108 anos em Zeeland. Trata-se de uma cidadezinha localizada em Michigan, a três horas de Chicago e tão conservadora que só há pouco mais de dez anos liberou a venda de álcool. Criada no século XIX por religiosos vindos da Holanda, o lugar tem moradores que até hoje não aceitam quem trabalhe no domingo. E apontam na rua o vizinho que ousa macular o dia sagrado de descanso.

Um dos méritos de De Pree foi sempre cercar-se de gente criativa, que fez a diferença na construção da marca, como George Nelson, que colocou a companhia conectada com o design internacional e fez a guinada para o mercado corporativo; o casal Charles e Ray Eames, que buscava a viabilidade econômica de suas peças e criou ícones do século XX, como a "chaise" que leva o nome da dupla. A empresa tem um hotel particular, o Marigold, em que reúne essas criações nas áreas sociais para mostrar a consistência de sua história para os clientes. De qualquer forma, a premissa do fundador se mantém viva até hoje. "Ninguém sabe quem são os designers da Apple. Aqui nós celebramos o design", diz Gary Smith, diretor de novos produtos da companhia.

As casinhas fofinhas nas ruas certinhas de Zeeland correspondem à caricatura de cidade americana do interior suspensa no tempo. Por isso, ao vencer a porta do "prédio do design" da Herman Miller, um mundo organizado para o século XXI emerge. As soluções que eles investigam estão ali integradas na rotina de seus funcionários. Logo na entrada, o cartão de visitas é um imenso balcão no espaçoso edifício térreo. Ali uma moça sorridente tira espressos de verdade (produto raro na cidade). Jarras com águas aromatizadas estão disponíveis para quem quiser se servir. E o cidadão pode se abanquetar, apoiar seu laptop e morder um sanduíche sem se sentir um workaholic por comer em cima do computador. O lugar é sedutor e prazeroso. Mas, pera lá, também não é Paris. É um "fast-relax".

 
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A dupla de designers Sam Hecht e Kim Colin, que participou da pesquisa

 

Ao redor há as mais diferentes composições de ambiente de trabalho. Mesas com tampos que sobem e descem e que podem se transformar em balcão, estação para laptops para grupos de três ou cinco pessoas, sofazinho que também é cadeira de trabalho, cabine para chamadas telefônicas que exigem discrição. Nas paredes, frases inspiradoras dos designers que fizeram a fama da companhia. "Bom design, como boa pintura, cozinha, arquitetura e qualquer outra coisa que você goste, é a manifestação da capacidade do espírito humano de superar as limitações" - frase de George Nelson, diretor de design da companhia entre 1947 e 1972.

Na sala que exibia a inscrição "pessoas + pedagogia + lugar= possibilidades", um grupo de executivos dividiu-se na tarefa de apresentar as premissas que levaram à nova "solução" corporativa na qual aposta a Herman Miller, o Living Office. O entendimento é que para conquistar a nova geração e mantê-la no escritório, o espaço precisa ser não só adequado à forma de trabalhar, em especial no modelo colaborativo, mas traduzir emoções e expectativas de quem o usa. Não se trata mais de estações, mas de "atitudes de trabalho".

Foram necessários verdadeiros resgates psicanalíticos e investigações sociológicas para se montar os cenários que permitiram a criação do conceito Living Office. Afinal, o ambiente corporativo tornou-se fundamental não só na produtividade, mas no engajamento e criatividade dos funcionários. Agora, imagine a amplitude de possibilidades incorporando as realidades da China, da Índia ou da Austrália.

No processo de concepção, que teve como base mais de dois anos de pesquisas em vários países, inclusive no Brasil, a Hermann Miller também investigou o ponto de vista das empresas e chegou a resultados "dramáticos" de mal aproveitamento das áreas, como mostra seu dossiê: "Normalmente os escritórios particulares estão com espaços ociosos 77% do dia, enquanto as estações de trabalho estão desocupadas 60% do expediente; salas de conferência raramente são usadas em sua capacidade total e as pessoas escolhem espaços 'sociais' em detrimento de áreas menos sociais".

Para ocupar de forma mais eficiente as superfícies das corporações, o grupo de pesquisadores fez um raio X e identificou etapas do trabalho individuais e em grupo. Por exemplo, o estágio "drive" é quando o funcionário lida com e-mails, telefonemas e mensagens de texto no decorrer do trabalho. O "contemplate" é o momento em que precisa se desconectar das distrações, não sendo visto nem exposto a barulho. Ele precisa relaxar e pensar, refletir e explorar, dar um tempo e se reernergizar.

A etapa "quick chat" é quando há uma questão rápida para ser respondida, que precisa envolver um grupo, mas que poderia incomodar os demais. O "divide and conquer" define a situação em que, para se realizar uma tarefa, há uma divisão de funções, em que os envolvidos se sentam próximos, trabalhando para o mesmo objetivo e fazendo sua parte individualmente. E por aí vai.

 
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A cadeira Mirra 2, da marca Herman Miller, que possui um encosto mais ergonômico e será lançada em outubro

 

Com essas caracterizações, eles elaboraram os dez modos de trabalho que se repetem em escalas e situações diferentes dependendo do negócio e do setor de atuação da empresa como, por exemplo, Haven (espaço para uma ou duas pessoas, isoladas e com baixa carga cognitiva); Meeting 3.0 (4 a 15 pessoas, maioria sentadas, isoladas ou semi-isoladas, com um ponto focal); Plaza (espaço para amenidades, com grande visibilidade do entorno, numa área de cruzamento de pessoas).

Para cada um há uma ambientação condizente. Um sofá com uma mesinha na frente pode dar conta de uma reunião rápida e informal. Acople na mesma superfície um apoio para laptop, com espaço para apenas uma pessoa sentar. E está criado um posto só para checar e-mails antes de se correr para o almoço ou uma reunião, sem que seja preciso voltar ao departamento de origem.

O Living Office é apresentado como "solução holística". E um dos aspectos do lançamento é que a Herman Miller passa a oferecer para as companhias o diagnóstico customizado desses modos de trabalho. "Muitas vezes as salas de reuniões podem dar lugar para modelos mais flexíveis e mais acessíveis", diz Katie Lane, diretora de desenvolvimento de produtos.

Para responder ao desafio dos novos cenários, a empresa reuniu um grupo bem distinto de designers. Yves Behar criou a linha Public Office Landscape, cuja proposta é manter o escritório em estado de fluxo. Trata-se de um sistema de componentes que podem ser montados em superfícies lineares, com espaços individuais e coletivos em sequência. O Studio 7.5, de Berlim, propôs o Metaform, uma coleção de blocos, como um grande Lego corporativo, de fácil montagem, com displays para deixar tudo a mão, permitindo o ajuste de telas e tomadas. A dupla Sam Hecht e Kim Colin projetou o Locale, que propõe um ambiente com "vizinhança dinâmica", ou seja, móveis que acomodam vários colaboradores e convidam a interação.

"Às vezes, a organização é culturalmente favorável à colaboração, mas o espaço é um obstáculo", diz Brian Green, pesquisador que conduziu o estudo junto a empresas como IBM e Google, entre outras. Mas, ao mesmo tempo, não adianta a corporação investir numa ambientação que aproxime as pessoas, buscar soluções tecnológicas sob medida se a "cultura organizacional" não estiver em sintonia como esse modelo de "trabalho camarada" dos novos tempos.

A repórter viajou a convite da Herman Miller

 

 

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