A Amil, operadora de planos de saúde comprada pela americana UnitedHealth em outubro do ano passado, está negociando a compra de hospitais e já tem sobre a mesa várias propostas. A negociação mais avançada, já em processo de diligência, ocorre com o Grupo Carlos Chagas, maior empresa de saúde de Guarulhos, em São Paulo, segundo o Valor apurou.
O Carlos Chagas tem como atrativo uma rede própria com um hospital, seis centros clínicos de diferentes especialidades médicas e três unidades de atendimento, localizados em Guarulhos e em Arujá. Além disso, o grupo conta com uma operadora de convênio médico com 180 mil usuários, um plano dental com 54,5 mil clientes e uma empresa de saúde ocupacional.
A joia da coroa é o Hospital Carlos Chagas que conta com uma moderna infraestrutura com centro cirúrgico, maternidade, hemodiálise, laboratório de medicina diagnóstica e clínica oftalmológica. No ano passado, o hospital registrou uma receita líquida de R$ 127,1 milhões, um aumento de 10% sobre 2011. Já o lucro líquido somou R$ 1,9 milhão, um crescimento de 59%. Chama atenção esse percentual de expansão, uma vez que boa parte do setor hospitalar registrou crescimento tímido.
A investida da Amil em hospitais no Brasil vai na contramão da estratégia da UnitedHealth nos Estados Unidos e outros 17 países em que atua. Lá fora, a operadora americana não tem hospitais. Segundo fontes do setor, o que tem motivado a UnitedHealth a continuar investindo em uma rede própria no Brasil, como já fazia a operadora fundada por Edson Bueno, é o custo das internações, que tem subido pois falta leitos no país.
"Adquirir hospitais é uma forma que a UnitedHealth enxergou para regular o mercado de leitos. Como há uma carência de leitos, os custos com internação estão elevados", diz uma fonte do setor. No Brasil, a oferta é de 2,3 leitos para cada mil habitantes, quantidade inferior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que é de três a cinco leitos.
Segundo um executivo da área hospitalar, outro fator que pode estar motivando esse interesse da Amil é a retomada das conversas em torno do projeto que libera capital estrangeiro em hospitais.
As despesas com internação representam metade do custo médico-hospitalar de uma operadora de plano de saúde. O valor médio que um plano de saúde paga por uma internação é de cerca de R$ 5 mil, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entre as maiores operadoras de planos de saúde, o custo com internação aumentou 223% nos últimos cinco anos, principalmente por conta do uso de novas tecnologias e medicamentos modernos.
Hoje, a Amil é dona de 22 hospitais, 50 clínicas médicas e está construindo outros dois grandes empreendimentos hospitalares, no Rio e em São Paulo, que estão demandando recursos de R$ 550 milhões. Em novembro, a Amil adquiriu sete hospitais em Portugal, por € 85,6 milhões, que pertenciam ao grupo financeiro Caixa Geral de Depósitos.
A Amil, apurou o Valor, tem maior interesse em hospitais de médio porte, com cerca de 150 leitos, e que tenham plano de saúde em praças em que a operadora ainda tem pequena presença e com isso pode expandir sua atuação. O grupo Carlos Chagas enquadra-se nesse perfil.
O convênio médico do Carlos Chagas, operado pela Seisa, tem faturamento baixo e sua carteira vem encolhendo. Em 2011, a Seisa contava com 198,6 mil clientes. Um ano depois, diminuiu para 184,7 mil e em março deste ano a carteira da operadora contava com 180 mil usuários. No ano passado, a Seisa teve receita foi de R$ 188,7 mil e prejuízo de R$ 5,6 mil.
Apesar do resultado ruim, o plano de saúde Seisa serve também como uma garantia de que a Amil, controlada por um grupo americano, estaria respeitando a legislação brasileira. A lei impede que investidores estrangeiros comprem hospitais, mas não proíbe a compra de operadoras de planos de saúde com negócios hospitalares.
Procurada pela reportagem, a Amil informou que não comenta rumores de mercado. O Grupo Carlos Chagas declarou que desconhece a informação.
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