Num palco diante de 2,3 mil professores, gestores educacionais e autoridades do setor, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, mostrou desenvoltura ao apresentar, sem cola, uma infinidade de números que apontavam avanço quantitativo da educação brasileira nos últimos 20 anos. Ontem, na abertura do "Encontro Internacional de Educação Salamundo 2013", evento organizado pelo Grupo Positivo em Curitiba, ele arrancou aplausos da plateia ao reconhecer que os dados não escondem graves problemas qualitativos, como professores com baixos salários e políticas públicas complicadas, enquanto que o foco deveria ser no básico: português, ciência e matemática.
Mas Mercadante focou o positivo: anunciou que o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) atingiu 4 milhões de matrículas em julho deste ano e que, das 240 mil vagas abertas no Sisutec, o MEC registrou em menos de 24 horas 92,6 mil inscrições para cursos profissionalizantes no programa anunciado por ele na segunda-feira.
Em conversa reservada com o Valor ele falou que o governo angariou apoio da Câmara ao programa Mais Médicos e que a presidente Dilma Rousseff está com uma nova postura na relação com o Parlamento. "O governo quer conversar e ouvir mais." A seguir, trechos da entrevista concedida no carro, durante locomoção até a base aérea de São José dos Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense.
Valor: O governo está concentrado em angariar apoios ao programa Mais Médico. O resultado da reunião da presidente com líderes aliados da Câmara indica que a base vai votar com o governo?
Aloizio Mercadante: Eu senti que todos os líderes defenderam o programa. Liga para qualquer líder e pergunta como foi: todos estavam lá e se manifestaram positivamente, o Eduardo Cunha [PMDB-RJ], o [Anthony] Garotinho [PR-RJ], o José Guimarães [PT-CE], o André Figueiredo [PDT-CE], o Jovair Arantes [PTB-GO], do governo estava o Henrique Fontana [PT-CE]. Todos se manifestaram favoráveis, elogiaram, vão defender.
Valor: Foi uma conversa tranquila?
Mercadante: Não é que foi tranquila, foi muito boa, primeiro porque a presidenta estava lá, ouviu, todos os líderes falaram, se discutiu com profundidade o Mais Médicos, todos eles destacaram que quando é assim eles têm muito mais convicção na defesa. Por exemplo, a obrigação dos dois anos a mais no curso de medicina gerou resistência muito forte. Com a solução da residência médica de um ano focada na urgência e emergência e atenção básica do SUS, houve adesão. Eles foram às suas bases e viram que há grande aceitação popular ao programa.
Valor: Vocês conversaram sobre a questão da falta de diálogo entre governo e Congresso?
Mercadante: A disposição do governo foi essa, mais diálogo, negociar, conversar. A questão do diálogo foi tratada positivamente. Eles achavam muito positivo estar fazendo aquela reunião, que aquilo podia ser feito com as matérias mais relevantes, tanto é que marcamos uma para a semana que vem para discutir royalties do pré-sal e o PL que eleva os gastos da União com saúde
Valor: Então a presidente está comprometida a dialogar mais?
Mercadante: Se comprometeu a já na semana que vem fazer uma nova reunião para discutir alguns temas.
Valor: O senhor acha que ela está com uma postura nova depois das manifestações de junho?
Mercadante: O governo está buscando construir uma relação politicamente mais consistente com o Parlamento. O parlamentar precisa de argumentos sólidos para fazer a defesa da sua posição. Você [governo] precisa fundamentar, dar dados, informar, se dedicar às bancadas, não só aos líderes. Isso nem sempre resolve, mas ajuda... tenho certeza que vai melhorar a relação da base com o governo.
Valor: A recente liberação de emendas parlamentares é uma tentativa nesse sentido?
Mercadante: Ela [Dilma Rousseff] também se empenhou, o governo está se empenhando na questão das emendas que foram autorizadas: de empenhar, acompanhar o parlamentar nesse processo. Veja o MEC: não temos restos a pagar, sempre empenhamos e liberamos, porque no nosso caso o prefeito tem que entrar no PAR [Plano de Ação Articuladas, sistema do MEC para fechar convênio e transferir recursos federais para entes federados]. Se o parlamentar quer uma creche, não adianta só dizer se o prefeito não entrar no sistema, não apresentar o terreno, o domínio do terreno, dizer a opção do método construtivo. Há uma série de procedimentos, não tem como viabilizar emendas sem diálogo. Estamos dizendo aos parlamentares como fazer.
Valor: Voltando ao Mais Médicos: com a simpatia da população e apoios parlamentar, de entidades de saúde, grandes especialistas, das universidades, com toda essa costura o governo fica mais preparado para vencer a atual polêmica e transformar o programa numa importante marca num contexto eleitoral?
Mercadante: Não. Estamos há mais de um ano construindo esse programa, estudamos a experiência de vários países do mundo. Chegamos a um modelo adequado ao Brasil dialogando com essas outras experiências. É uma necessidade inquestionável. Como não reconhecer 700 cidades sem um único médico ou 1,2 mil cidades, além das 700, com um médico para cada 3 mil habitantes?
Valor: Como ainda ecoa no governo o clamor das recentes manifestações?
Mercadante: Lançamos cinco pactos que avançam. O projeto da presidente nasceu na rua, a gente dialoga, ouve, constrói junto com os movimentos sociais. Há uma agenda de realização. Quando a narrativa desse período histórico for feita, será o governo federal que aparecerá como quem teve iniciativa, propôs, encaminhou solução para os problemas dos serviços públicos, da representação política, de mais valores na politica.
Valor: Na busca por respostas aos protestos muito se falou em enxugamento de ministérios e reforma ministerial. O senhor vai para a Casa Civil?
Mercadante: Não. Problema de equipe ministerial quem responde é a presidenta, eu sou ministro da Educação, acho que é uma das funções mais importantes do país. Passaram muito tempo dizendo que eu já era o ministro das Relações Exteriores, depois eu fui para a articulação política, Defesa. Houve até quem me colocasse na Fazenda. Estou no lugar onde preciso estar. Em momentos de crise, eu tive desempenho além da minha competência. O governo precisava dar respostas rápidas, fui ajudar com minha experiência parlamentar. Temos que dar um salto numa nova sociedade que é digital, mas tem respostas políticas analógicas e até cartoriais. Se não estivesse extremamente focado o MEC não teria o melhor volume de execução de investimentos de toda a Esplanada.
O repórter viajou a convite do Grupo Positivo
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