A inteligência artificial é inevitável, inexorável e irá, certamente, tornar mais eficientes as tarefas repetitivas e sujeitas a falhas, além de proporcionar custos mais baixos. Também irá nos ajudar muito a termos em mãos informações precisas, relevantes, atualizadas e contextualizadas a tempo para que se tome a decisão correta.
Não tenho dúvida de que chegaremos, em breve espaço de tempo, a um outro paradigma operacional, seja na indústria, no comércio e em serviços. Entretanto, ainda não estou convencido, e acho que não serei convencido tão cedo, de que as máquinas irão aprender raciocínio subjetivo, valores éticos e humanos, além de outros aspectos que levam o ser humano a decidir – bem ou mal – quando o assunto sai da operação e vai para o tático ou estratégico. Este tema me leva diretamente a olhar algo muito básico que o ser humano: aprendizado. Trazendo isso para mundo corporativo, me faz refletir sobre como deveria ser o olhar sobre a capacitação e treinamento de pessoas nos dias de hoje.
Em meu dia a dia, tenho demandas diárias de empresas para treinamentos. Muitas são relacionadas a questões específicas, mas a maioria é bem abstrata, bem diferente das que tínhamos há alguns anos, quando treinamento de vendas era treinamento de vendas, comunicação era comunicação. Ou seja, tudo dentro de contextos operacionais muito bem definidos e padronizados. Hoje, não são mais. Cursos de ferramentas, temas e conhecimentos operacionais são fartos na internet, o que me faz crer que a maior parte das demandas desta natureza são atendidas pela imensa oferta de conteúdo que a internet proporciona.
Mas não é essa a demanda que me preocupa, e nem é essa que tenho procurado dedicar meu tempo em procurar atender, mas aquelas que, de tão subjetivas, parecem ter muito mais relação com o modo como as pessoas vão utilizar tudo isso. Todas essas novidades tecnológicas, todos os novos conceitos que só pessoas podem fazer: tomar as atitudes e decisões estratégicas ou táticas adequadas, como liderar pessoas e organizações; atender clientes com foco em seu sucesso e em seu benefício; gerenciar contratos para que agreguem valor a clientes e às suas organizações; ou vender e entregar relevância e experiência positiva.
Bots, Machine Learning e inteligência artificial respondem a perguntas, mas o grande desafio é saber se a tecnologia conseguirá responder de forma personalizada, e não apenas seguindo um padrão pré-determinado. Ouvir, contextualizar, entender e se comunicar com as pessoas são processos humanos. Eventualmente, estas tecnologias podem ser sistematizadas, mas a diretriz ainda é humana. Gerar valor para suas empresas, para seus fornecedores e clientes, fazer do trabalho em equipe e da colaboração instrumentos para geração de resultados e tentar de todas as formas preservar a qualidade de vida são tarefas inerentes aos humanos.
Não se trata mais de professores e alunos, slides ou vídeo-aulas, mas de métodos de treinamento que permitam o aprendizado dos conceitos e de suas práticas no dia a dia. O Human Learning exige que as formas de capacitar mudem, sejam mais dinâmicas, rápidas, colaborativas e aplicadas na solução dos problemas, otimizando a qualidade do serviço e a experiência do cliente. Não é só um treinamento, é uma consultoria entregue de outra forma.
Esta ainda é uma responsabilidade a qual creio que as organizações têm consigo mesmas e com as suas pessoas. E é uma responsabilidade que empresas de consultoria, como a que faço parte, precisam assumir. É isso que vejo refletido em boa parte das novas demandas. As outras, não considero mais como capacitação corporativa, mas como formação ou auto aprendizado. Mas este é assunto para outro artigo.