Vox Capital tem lucro de 26% ao ano com 'negócio de impacto'
07/06/2018
O mundo dos investimentos financeiros com foco em negócios sociais tem seu primeiro resultado no Brasil: retorno de 26% ao ano com uma empresa da área de saúde com alto impacto para a população de baixa renda do país. E quem ganhou foi a Vox Capital, primeira gestora especializada em investimento de impacto no país, que vendeu uma participação de quase 30% que detinha na TEM, operadora paulista de cartões pré-pagos de saúde, em um movimento casado com a entrada de uma seguradora internacional - cujo nome ainda não pode ser divulgado por estratégia da matriz. O anúncio sobre o novo parceiro deve sair nas próximas semanas.

"Foi uma saída de oportunidade diante da chegada de um 'player' de peso que vai conseguir complementar a oferta de produtos, e tornará a TEM efetivamente uma alternativa ao plano de saúde", disse ao Valor Daniel Izzo, um dos quatro sócios da Vox - ao lado de Antonio Ermírio de Moraes Neto, Erik Cavalcante e Gilberto Ribeiro. Normalmente, a saída de um investimento ocorre a partir do sétimo ano. O aporte na TEM, de R$ 3 milhões, é de outubro de 2015.

Criada em 2009, a Vox lançou seu primeiro fundo de impacto em 2012, de R$ 84 milhões. O capital foi direcionado a dez empresas dos setores de saúde, educação e serviços financeiros. Um segundo fundo, de R$ 80 milhões, está em fase de investimento - duas empresas já receberam aporte e a expectativa é que outras duas sejam contempladas até o fim deste ano.

"A saída de um negócio social com retorno financeiro atraente é um marco na história do investimento de impacto no país, e crucial para destravar o segmento", diz Célia Cruz, diretora-executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e organizadora do II Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócio de Impacto, realizado entre hoje e amanhã em São Paulo.

Até o momento, três gestoras têm como foco projetos de impacto social no país - além da Vox, a MOV Investimentos (de Pedro Passos, Luis Seabra e Guilherme Leal, sócios da Natura) e a Kaeté Investimentos. No total, reúnem R$ 340 milhões, um naco diante do patrimônio de R$ 4,4 trilhões da indústria de fundos no Brasil.

Diferentemente do investimento clássico, cuja prioridade é o retorno financeiro, e da filantropia, caracterizada pela doação, os negócios de impacto buscam unir lucro com investimentos que promovam uma transformação social positiva.

No caso da TEM, seu propósito é levar serviços de saúde de qualidade e acessível para uma ampla gama de brasileiros. Ao contrário de concorrentes mais conhecidos, como o Dr. Consulta, a TEM não trabalha com clínicas próprias, que demandam investimento alto, mas por meio de convênios firmados com uma rede credenciada de quase 6 mil unidades de atendimento, entre médicos, dentistas e serviços laboratoriais. Além disso, o detentor do cartão tem descontos de pelo menos 20% em redes nacionais de farmácias.

Os valores dos procedimentos são definidos pela TEM com cada profissional de saúde a partir de tabelas médicas de referência, e deve ser necessariamente menor do que o praticado no atendimento particular. A empresa cobra uma mensalidade de R$ 21,90. "Os cartões, encontrados em lojas de varejo, são familiares, possibilitando a adesão de até seis pessoas, sem carência nem limite de idade", afirma Tuca Ramos, co-fundador da TEM, ao lado de Igor Pinheiro.

Com a entrada da seguradora - que no Brasil atua nos segmentos de seguro de pessoas e patrimonial -, o portfólio deverá crescer para plano hospitalar, seguro para doenças graves e serviço funerário, diferenciais importantes para classes sociais hoje não atendidas.

De 2015 até hoje, a TEM pulou de 11 para 39 funcionários e formou uma carteira de 1,5 milhão de cartões pré-pagos. O faturamento acompanhou essa guinada: passou de R$ 2,5 milhões em 2016 para R$ 6 milhões em 2017. Para 2018, a empresa ganhou fôlego significativo com a decisão da Natura de oferecer o cartão a 1,3 milhão de consultoras de cosméticos. Segundo Ramos, isso alavancará o faturamento da empresa para estimados R$ 10 milhões em 2018.

"Precisávamos de uma saída para mostrar que é possível investir em negócios de impacto e ainda ganhar dinheiro com isso", diz Izzo, da Vox. Ele lembra que 2016 e 2017 foram anos difíceis para captação financeira, de modo geral, devido à conjunção de economia fraca no país e juros altos. "Mas agora, com o cenário de queda nos juros, isso está mudando."
Fonte: Valor




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