Mais startups criam programas de opções de ações para executivos
25/05/2018
Na esteira dos grandes grupos, startups estão oferecendo opções de compra de ações para os funcionários. Conhecido como "stock options", o modelo de bonificação é geralmente cedido a executivos em postos de liderança, atrelado ao desempenho da empresa. As ações são vendidas a um preço pré-estabelecido, depois de um determinado período de permanência do profissional na organização. A iniciativa funciona para manter e atrair talentos que dificilmente iriam trabalhar em uma companhia em crescimento, sem um bom pacote financeiro.

Na Endeavor, organização de estímulo ao empreendedorismo que apoia mais de 300 empresas em oito cidades do Brasil, cerca de 15% do total já utilizam o método. "É uma estratégia de retenção de currículos de alto nível, sem precisar usar todo o caixa da companhia", diz o diretor Igor Piquet.

Somente no último ano, o SBAC Advogados, especializado em startups e pequenos negócios, ajudou a implementar o sistema em cerca de 50 empreendimentos. "A principal razão para a adoção é conseguir contratar alguém cujo salário os empresários não conseguiriam pagar", explica o fundador do escritório, Pedro Schaffa. "Com a possibilidade de transformar o executivo em sócio, a startup traz para o quadro um talento que estava além do seu alcance."

Na prática, o sistema de stock options funciona como uma concessão do direito de comprar ações. O funcionário também não embolsa os papéis "de graça": vai pagar por elas. Somente depois de um período determinado pela direção, as ações poderão ser vendidas. Na avaliação de especialistas, além de ajudar a formar um time de ponta, o recurso é um bom negócio para as startups porque faz com que o profissional se sinta "dono do negócio" e trabalhe de olho na geração de lucros para a companhia.

Na curitibana Olist, que conecta pequenos vendedores a marketplaces de varejistas, a novidade chegou um ano depois da fundação, em 2015. É restrita a funcionários selecionados, mas a intenção é ampliar a participação. "Os nossos resultados devem ser compartilhados com lideranças e colaboradores estratégicos", justifica o CEO e fundador Tiago Dalvi, que comanda 140 pessoas.

Para o gestor, manter um bom currículo "retido" no longo prazo e blindado para ofertas no curto é uma das principais vantagens. Na Olist, é possível optar pela compra de ações quatro anos após o período de "vesting" e "cliff". O "vesting" é o contrato que oferece o direito à aquisição da participação societária. Já o "cliff" é o prazo que deve ser cumprido para adquirir esse poder. Algumas companhias estabelecem um "vesting" em que se outorga até 10% das quotas em quatro anos, com um "cliff" de 12 meses.

"Estamos contratando executivos e ter stock options é uma condição importante para compor a oferta", diz Dalvi. A Olist tem 25 funcionários inscritos no programa, ou 18% do total. Até agora, todos os participantes continuam na companhia. É o caso da chefe de pessoal Daiane Peretti, contratada há mais de dois anos. "Optei por participar porque acredito no futuro da companhia", diz. Quando entrou na Olist, a política de ações já existia e integrou a proposta de trabalho da executiva.
"Isso pesou muito na decisão de sair de uma multinacional, estável financeiramente, e aceitar o convite para começar um departamento de RH do zero." Em 2016, a startup recebeu investimentos liderados pelo fundo Redpoint eventures. Os valores não foram divulgados, mas aportes classificados como "série A", caso da Olist, variam de US$ 2 milhões a US$ 20 milhões.

Na opinião de Luciana Carvalho, diretora de gente da Movile, dona do aplicativo iFood, iniciativas de stock options devem ser usadas também para reforçar a meritocracia nas organizações. "Oferecemos a funcionários que se destacam nos resultados, na aderência à cultura corporativa e ainda mostram potencial para serem protagonistas do negócio no futuro", diz. "A retenção ou a atração de talentos são consequências de um objetivo maior, que é reconhecer quem faz a diferença na companhia."

Fundada em 1998, a Movile tem 1,6 mil funcionários, sedes em São Paulo e Campinas (SP), além de 15 escritórios em outros sete países, como Argentina, EUA e França. No último ano, anunciou investimentos na colombiana Mercadoni, do segmento de compras de supermercados; lançou a Wavy, de conteúdo móvel, e fez um aporte estimado em US$ 18,3 milhões na fintech de pagamentos Zoop. Os negócios também incluem a startup de ingressos Sympla e o aplicativo de transmissão de vídeos PlayKids.

As compras de ações foram franqueadas a partir de 2008 e todos os funcionários são elegíveis. Até agora, 20% do quadro aderiu ao modelo. Para Luciana, um dos reflexos da criação do programa aparece no crescimento da companhia, de 60% ao ano, em média. "Isso acontece porque há gente comprometida com resultados", diz. "Ainda aumentamos a nossa força como marca empregadora."

Há 13 anos na Movile, o diretor de negócios Paulo Curio foi um dos primeiros a participar da iniciativa. "Já comprei ações, virei sócio e também vendi", diz. Em mais de uma década, ele adquiriu mais de 30 mil ações. "O importante não é a quantidade e sim o valor delas, quando você negocia." O executivo acredita que várias conquistas materiais e investimentos planejados para os três filhos são frutos da negociação dos papéis da companhia. "Que venham mais programas assim", diz.
Fonte: Valor




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