Mais da metade da população mundial continua sem acesso a um serviço adequado de saúde, apesar de políticas públicas e de avanços importantes na medicina. A partir desta segunda-feira, 21, em Genebra, ministros de 194 países estarão reunidos para marcar os 70 anos da criação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e traçar planos para as próximas décadas.
Mas ainda que avanços importantes tenham sido alcançados desde 1948, os números publicados neste fim de semana pela entidade revelam a dimensão dos desafios. De acordo com os dados, apenas 45% da população mundial de fato tem acesso a serviços médicos adequados.
Num total, serviços universais de saúde atendem ainda 64% da população mundial. E, mesmo assim, com sérios problemas. Só na África, 33 países contam com um serviço de saúde que atende menos da metade da população. No Chade, centro-norte do continente, apenas um quarto dos habitantes tem alguma cobertura.
Em 76 países ainda há menos de um médico para cada mil pessoas, e em 87 países existem menos de três enfermeiras para cada mil habitantes. No Brasil, as taxas de 2015 apontavam para 77% da população com serviços de saúde.
A cada ano, 100 milhões de pessoas sofrem uma perda de renda e passam por um processo de empobrecimento diante dos elevados custos de tratamentos. O Brasil é um dos que mais apresenta problemas, com 25% da população sendo obrigada a destinar mais de 10% de sua renda para pagar por remédios e atendimento.
Em proporção aos gastos gerais do governo, o Brasil também está abaixo da média mundial no que se refere aos investimentos em saúde. Em 2015, o governo destinou 7,7% de seus gastos totais para a saúde, uma taxa parecida a de mais de uma dezena de países africanos. Na média mundial, os gastos são de 9,9%. Na Alemanha ou no Uruguai, a proporção dos gastos do governo com a saúde chega a 20%.
Para a OMS, o resultado da falta de prioridade ao setor de saúde pelo mundo ainda é traduzido em mortes. Mesmo com avanços importantes no combate à mortalidade infantil, 15 mil crianças morrem no mundo a cada dia antes de completar 5 anos por falta de tratamento ou simplesmente por problemas de saneamento básico.
Para tentar mudar esse cenário, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, espera apoio internacional para conseguir aprovar nesta semana um projeto ambicioso: salvar 29 milhões de vidas extras até 2023.
"Esta será uma assembleia fundamental", declarou Tedros. "Ao marcar os 70 anos da OMS, estamos comemorando sete décadas de progressos na saúde que adicionaram 25 anos à expectativa média de vida no planeta, que salvaram milhões de vidas de crianças e fizeram avanços na erradicação de doenças", defendeu.
Segundo ele, porém, os novos números coletados pela OMS mostram "como o mundo ainda precisa percorrer uma distância enorme". "Muita gente ainda morre por doenças que podem ser prevenidas, muita gente ainda é jogada na pobreza por pagar do próprio bolso pela saúde e muita gente ainda não consegue o serviço de saúde que precisam. Isso é inaceitável", declarou.
Seu objetivo, portanto, é o de colocar em andamento um sistema que permita que a cobertura de saúde seja ampliada para um bilhão de pessoas extras.
Primeiro africano em 70 anos a assumir a OMS, o ex-ministro da Etiópia insiste que chegou a hora de "transformar a visão de mundo para garantir que todos tenham direito à saúde".
Tedros, que assumiu a entidade há um ano, tem sido alvo de críticas por sua politização de debates de saúde e por ter até mesmo sugerido que o ex-ditador do Zimbabue, Robert Mugabe, assumisse um papel de embaixador da OMS contra certas doenças.
Apoiado pela China e o grupo de países não alinhados, ele tem evitado criticar publicamente governos. Seu gabinete de imprensa, por exemplo, passou meses sem dar informações sobre a situação de saúde na Venezuela, alegando que não contava com informações. Questionado pelo Estado sobre seu silêncio, Tedros riu, negou qualquer politização e garantiu que o que vale em sua gestão "são princípios".
Brasil
Gilberto Occhi, ministro da Saúde, será o chefe da delegação brasileira na reunião anual da OMS e, segundo sua assessoria, defenderá temas como acesso a remédios e o fortalecimento do sistema para lidar com emergências.
Um dos principais temas do Brasil será o de fortalecer o papel dos BRICS dentro do processo de formulação de políticas de saúde da OMS, além de vacinas e insumos. Encontros estão programados com ministros do restante do bloco, além de reuniões com a cúpula da agência internacional para reforçar a posição dos emergentes.