Uma das maiores farmacêuticas do mundo, a anglo-sueca AstraZeneca desenhou uma estratégia para crescer em ritmo forte no Brasil. Uma das principais metas é elevar o número de pacientes atendidos no país, de 3,3 milhões atualmente para 5,5 milhões até 2025. Para chegar a essa população, a multinacional pretende ampliar presença no mercado público de saúde e, nos próximos três anos, lançar localmente ao menos 10 medicamentos. Investimentos em capacidade também é uma das opções.
Em entrevista ao Valor, o presidente da AstraZeneca Brasil, Fraser Hall, mostra otimismo com o desempenho do mercado farmacêutico doméstico, a despeito da desaceleração sentida por alguns segmentos específicos do setor durante a crise econômica. No país, as vendas do laboratório cresceram 12% em 2017, com destaque para novas áreas, entre as quais imuno-oncologia, em linha com a taxa de expansão média da indústria.
"Em 2018, vemos a mesma tendência. Não temos sido afetados por uma eventual desaceleração", disse o executivo, acrescentando que ainda não está claro como o cenário eleitoral pode afetar - e se vai afetar - o desempenho do setor.
Para alcançar a meta de pacientes atendidos até meados da próxima década, a companhia aposta na combinação de lançamento de medicamentos de prescrição em oncologia, doenças metabólicas e cardiovasculares e sistema respiratório e maior presença no mercado público, onde há grande oportunidade de crescimento.
No campo dos lançamentos, as novidades começam a chegar ao mercado brasileiro já neste mês, em imuno-oncologia com o Imfinzi (durvalumabe). Em julho, outro novo medicamento deve estar disponível. No que tange à venda de terapias ao governo, a farmacêutica quer maior presença nos hospitais públicos. "O mercado vai continuar crescendo, especialmente algumas áreas muito expostas a governo", afirmou.
Para atender ao crescimento das vendas, a AstraZeneca, que opera uma fábrica em Cotia (SP), pode ampliar a capacidade local. Hoje, seis linhas terapêuticas são embaladas no país. "Estamos avaliando a oportunidade de trazer uma nova linha", afirmou Fraser. A decisão deverá ser tomada nos próximos três ou quatro meses, com execução do projeto nos próximos dois anos.
No mundo, a companhia teve receitas de US$ 22,5 bilhões em 2017, uma queda de 2%. Para este ano, porém, a previsão é de recuperação das vendas de medicamentos, com alta de "um dígito baixo" nessa linha. O Brasil integra a divisão de mercados emergentes da multinacional, junto com China e Rússia. Esses países respondem por cerca de 30% das vendas globais, um ponto percentual abaixo do maior mercado para a farmacêutica no mundo, os Estados Unidos.
Assim como outras "big pharma", a AstraZeneca também tem feito uma revisão de portfólio com vistas a reduzir a exposição ao mercado de cuidados primários e se concentrar e buscar terapias cada vez mais específicas e biológicas em certas áreas, no seu caso oncologia, doenças cardiovasculares, metabólicas e renais e respiratórias.
Nesta semana, a farmacêutica anunciou que vai vender os direitos do medicamento Seroquel, usado no tratamento da esquizofrenia e doença bipolar, à Luye Pharma por US$ 538 milhões. O acordo abrange licenças no Reino Unido, China, Brasil, Austrália, Coreia do Sul e alguns outros países.
No ano passado, a companhia investiu globalmente US$ 5,9 bilhões em pesquisa e desenvolvimento e tem 144 projetos de desenvolvimento clínico em andamento. Conforme Fraser, há intenção de trazer mais pesquisas clínicas para o Brasil. "Ao trazer mais pesquisas, também se estimula a inovação", afirmou.
Além disso, a iniciativa vai ao encontro do plano da farmacêutica, o de construir uma robusta base de dados de pacientes no país. A análise mais acurada dessas informações será usada como guia para futuros lançamentos.