Na guerra por talentos tecnológicos vale até prêmios por indicação
03/05/2018
Para conseguir preencher vagas em um setor onde os profissionais estão cada vez mais disputados por conta do aumento da demanda causada pela transformação digital no mercado, empresas de tecnologia estão tendo que reinventar suas estratégias de atração de novos talentos. Apostando nas redes de relacionamentos de seus funcionários e de outros especialistas do setor, as companhias vêm usando plataformas digitais para modernizar o tradicional sistema de indicação premiada.

"O profissional de tecnologia não tem o hábito de procurar trabalho. Quando procura, a demanda é tão grande que ele encontra muito rápido", afirma Lachlan de Crespigny, cofundador da plataforma de recrutamento Revelo, especializada em cargos de tecnologia e inovação. A empresa desenvolveu um algoritmo que avalia currículos de candidatos e seleciona os 5% melhores para disponibilizá-los aos clientes.

Há pouco mais de dois anos, notando a falta de alguns especialistas no mercado, a Revelo tomou a decisão de pagar por indicações na área de desenvolvimento de softwares. "Começamos a perceber que havia muitas comunidades de desenvolvedores e que a melhor maneira de acessá-los era por meio de suas redes de contatos", diz. Para cada contratação bem-sucedida, a Revelo paga um prêmio de 20% do salário mensal, que é dividido entre o profissional recrutado e a pessoa que o indicou na plataforma.

O projeto deu certo, mas a dinâmica desse mercado vem exigindo que a empresa atue de forma mais rápida para manter os candidatos engajados no processo. Por esse motivo, no final do ano passado, a Revelo decidiu ampliar o programa - se o algoritmo da empresa identificar que o profissional indicado tem alto potencial de contratação, o prêmio já é pago mesmo antes de ele ser contratado. "As empresas de tecnologia trabalham em um ritmo muito acelerado e precisamos nos adaptar a isso", diz Crespigny.

Em plena fase de expansão, a plataforma de finanças pessoais GuiaBolso enfrentou o desafio de recrutar 36 profissionais de tecnologia no primeiro trimestre deste ano. No começo, a empresa optou pelas estratégias tradicionais como postar vagas em redes profissionais e acionar grupos de tecnologia. "O efeito foi razoável, mas no primeiro mês conseguimos fazer apenas quatro contratações", conta a diretora de pessoas Cecilia Lanat. A escassez de profissionais levou a companhia considerar alternativas mais ousadas, como abrir um escritório fora do Brasil e adquirir outras empresas para ter acesso a uma gama mais ampla de talentos.

"Decidimos implementar uma série de iniciativas de atração de pessoas, e a que mais surtiu efeito foi a indicação premiada", afirma. Usando um sistema de preço dinâmico, inspirado em aplicativos de transporte como o Uber, a empresa criou um programa interno em que paga de R$ 500 a R$ 5 mil por indicação - quanto maior a senioridade e a dificuldade de encontrar determinado perfil, maior o prêmio. Como resultado, a GuiaBolso recebeu mais de 70 indicações internas. "O engajamento foi muito interessante e consideramos repetir a campanha em outras situações", afirma Cecilia.

Na Vulpi, empresa de recrutamento especializada em posições de tecnologia, o programa de indicações foi implementado este ano. Desde o final de janeiro, profissionais da área podem preencher um formulário na plataforma digital da empresa e indicar contatos on-line. Caso a pessoa seja contratada, a Vulpi pode pagar até R$ 2 mil de bônus, a ser dividido entre as duas partes. Até o momento, a plataforma recebeu mais de 300 indicações, conta Felipe Couto, CEO e fundador da empresa. "A meta é chegar a cinco mil até o final do ano", afirma.

Em casos como desenvolvedores de software, a dificuldade não está somente na escassez de pessoas com perfil técnico e comportamental adequados. Além de não estarem habituados a buscar emprego devido ao aquecimento do setor, esses profissionais tendem a se desmotivar durante o processo seletivo. "Há muitos que estão felizes em seus atuais empregos e têm preguiça de fazer uma entrevista", diz Cecilia Lanat, do GuiaBolso. Por esse motivo, plataformas como a Revelo investem na busca de profissionais com disponibilidade imediata. "Quando o candidato dá sinais de que não está procurando, seu perfil desaparece da plataforma", afirma Lachlan de Crespigny.

Outro desafio, segundo Cecilia, é que o interesse em uma nova oportunidade é normalmente financeiro. "Como somos uma startup e não queremos estar em um mercado inflacionado, o programa de indicação ajudou porque trouxe pessoas motivadas pelo desafio profissional e pelo propósito da empresa", conta. Hoje, a companhia tem aproximadamente 100 especialistas em tecnologia em seu time, o equivalente a 40% de todos os funcionários. Os planos de contratação, no entanto, continuam. "Tecnologia e produto são os grandes focos da empresa este ano", diz.
Fonte: Valor




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