Em meio à expansão do e-commerce no Brasil, é crescente a preocupação das empresas com a entrega dos produtos e serviços. Os motivos são fortes: os custos logísticos correspondem a 12,3% do PIB brasileiro, segundo pesquisa do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Tais gastos representam, ainda, 7,6% da receita líquida das companhias, considerando transporte, estoque e armazenagem. Para contornar esse quadro, inovação e tecnologia ajudam a reduzir custos, melhorar processos e aumentar a produtividade. Nesse cenário, ganham força as startups com soluções voltadas para o setor de logística.
De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), existem 84 startups com produtos ou serviços para a área de logística, de um total de 4.200 cadastradas. Segundo Pedro Francisco Moreira, presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog), essas empresas dedicam-se a resolver problemas reais de modo simples, prático e com eficiência. "É difícil fazer logística de alta performance sem tecnologia, roteirizadores, rastreadores, sistemas de gestão de frotas, softwares e aplicativos de gerenciamento", afirma.
Especializada em gestão de frotas, a Cobli nasceu em janeiro de 2015, fruto da parceria entre o matemático americano Parker Treacy e o engenheiro brasileiro Rodrigo Mourad. A tecnologia para frotas foi desenvolvida ao longo de 2016 e o produto começou a ser vendido oficialmente em março do ano passado. "Há cerca de 9 milhões de veículos comerciais no Brasil, mas apenas entre 5% e 10% deles têm sensores instalados. Nos Estados Unidos, o percentual é de quase 40%", diz Rodrigo Mourad, sócio da Cobli. É nesse mercado em potencial que a startup está de olho.
Por meio de inteligência artificial, a empresa monitora e entrega relatórios que avaliam logística, rastreamento de veículos, roteirização e acompanhamento do modo de condução dos motoristas. Em geral, a economia proporcionada pelo sistema é de R$ 300 a R$ 400 mensais por veículo. Com 500 clientes de diversos setores, como a operadora de saúde Hapvida e a empresa de cosméticos Davene, a startup tem presença em todos os Estados brasileiros e clientes na Argentina, Chile, Portugal e Turquia.
A gestão de frotas é somente uma das pontas na cadeia logística. Para o e-commerce brasileiro, um dos grandes entraves é a última milha, ou seja, a entrega ao consumidor final. Tanto é que o frete é o maior responsável pelos custos logísticos das lojas virtuais, conforme pesquisa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). Segundo Maurício Salvador, presidente da entidade, os pick-up points (pontos de coleta), realidade em vários países, ajudam a diminuir os gastos na última milha. "Como a roteirização é a mesma, o resultado é uma redução de custos e no prazo de entrega."
A Pegaki trouxe esse modelo de economia compartilhada ao Brasil no começo do ano passado. Em pouco mais de um ano de operação, a startup atua nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro com cem pontos de retirada de mercadorias, sendo 80 deles na capital paulista. Outros mil pontos estão em processo de negociação, segundo João Cristofolini, CEO da empresa. "No próximo ano, o objetivo é estar presente nas principais capitais brasileiras", diz. Hoje, a startup tem parceria com grandes marcas, como Carrefour, AccorHotels e 5àsec. Recentemente, a Pegaki também fechou negócio com a Dafiti. Após comprar o produto no e-commerce de moda, o consumidor poderá retirar a encomenda em 15 pontos da Pegaki na cidade de São Paulo. Estão previstas mais de mil entregas por dia.
Aumentar a qualidade da entrega é um dos principais objetivos da Mandaê. Fundada há quatro anos, a startup atende e-commerces no Estado de São Paulo e prevê expandir a atuação para outras regiões do Brasil ainda em 2018. Há dois meses, a empresa lançou um serviço de logística reversa. "Agora, estamos lançando um produto para melhorar o rastreamento das encomendas", conta Marcelo Fujimoto, co-fundador e CEO da startup, hoje com cem funcionários e expectativa de dobrar esse número até o fim do ano. Ao todo, a startup captou cerca de R$ 25 milhões em rodadas de investimento, incluindo aportes de gestoras como monashees, Qualcomm Ventures, Valor Capital e Performa Investimentos.
A devolução de mercadorias é mais uma barreira a ser enfrentada pelo comércio eletrônico. "Hoje, em média, 8% de tudo o que é comercializado pelo varejo acaba sendo devolvido", afirma Ricardo Salazar, sócio-fundador da eStoks, startup que promete reduzir em até 65% o custo operacional de logística reversa. Os produtos devolvidos são coletados pela empresa e enviados a um centro de distribuição para avaliar o que ainda pode ser aproveitado. A startup também montou uma rede de varejo sustentável, a Verdhe Outlet, que comercializa as mercadorias em três unidades, duas no Recife e uma na cidade de São Paulo. Atualmente, a eStoks atende cinco grandes empresas, entre elas, Magazine Luiza, Lojas Americanas e Ricardo Eletro. Depois de registrar expansão de 140% no ano passado em relação a 2016, a startup espera um faturamento duas vezes maior neste ano.
Com receita de R$ 150 milhões em 2017, a CargoX - conhecida como "Uber dos caminhões" - prevê crescimento de 30% em 2018, segundo Federico Vega, CEO da startup fundada em março de 2016. Na lista dos atuais mil clientes, há gigantes como Unilever, Ambev, Votorantim e Heineken. Por meio da plataforma, é possível mapear as rotas e visualizar o fluxo de caminhões e cargas nas estradas. "O Brasil tem um grande problema em transportes. Então, ainda temos muito trabalho a fazer", observa o empreendedor argentino.
Por meio da computação em nuvem, a plataforma Nimbi oferece soluções em supply chain management para cem clientes, entre eles, Vale e Diageo Brasil, movimentando cerca de R$ 45 bilhões por ano. Baseada em serviços como Netflix e Spotify, a plataforma trabalha com pacote de serviços por assinatura. Atualmente, a startup está em fase de expansão, com abertura de operações via franquia na Argentina, Chile, México e Paraguai. No ano passado, a Nimbi faturou R$ 28 milhões. Para 2018, a expectativa é atingir R$ 34 milhões, diz Felipe Almeida, CEO da empresa.
Em março, a startup espanhola de entregas rápidas Glovo desembarcou no Brasil com operações inicialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, mas com plano de chegar a 12 cidades brasileiras até junho. "O mercado de delivery no Brasil tem crescido acima de 10% nos últimos anos. Acreditamos que o país tem grande potencial para se tornar um dos nossos maiores mercados nos próximos anos", diz Bruno Raposo, country manager da startup.