Os primeiros sistemas com inteligência artificial (IA) foram criados por grandes empresas, mas a popularização da tecnologia abriu espaço para o crescimento de pequenos empreendedores e startups especializados em resolver problemas em diferentes áreas como varejo, recrutamento, atendimento a clientes, padronização de processos e saúde. "As grandes empresas buscam parcerias para se posicionar rapidamente no mundo digital e atrair talentos", afirma Marco Antonio Pereira, CEO e diretor de negócios da Itera, que surgiu no departamento de computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A entrada na área de IA, segundo Pereira, veio do interesse em inovar na área jurídica, na qual a Itera já atuava, desenvolvendo um sistema de análise de sentenças judiciais. Ele permite uma visão estratégica dos contenciosos para o profissional do departamento jurídico. Outro projeto uniu gestão de documentos à de conhecimento, dando aos profissionais da área informações de contexto que podem ser adicionadas às buscas feitas por conteúdo do documento.
Com vocação na área de comércio eletrônico, a Neomode, nasceu em uma hackathon (maratona de programação) promovida pela L'Oréal, para integrar canais de compra de seus produtos. Após 33 horas seguidas de maratona, Fabíola Paes e os sócios Carlos Balsalobre, Daniel Koleski e João Souza, desenvolveram um aplicativo para celular que serviu de protótipo para unificar as compras na loja física e no e-commerce. "Atendemos a necessidade das empresas de melhorar a experiência de compra em suas lojas físicas e virtuais, e também o consumidor que busca atendimento mais qualificado e está cada vez mais presente em todos os canais de venda", explica Fabíola Paes co-fundadora da Neomode.
Em parceria com a Enfoca Chabots, a Neomode também desenvolveu um chatbot para o grupo O Boticário que "conversa" com as consumidoras no celular sobre uma nova linha de produtos para cabelos, por exemplo, dando dicas sobre cuidados e tratamentos. O sistema usa linguagem natural para entender e interpretar as ações desejadas no diálogo, diz Fabíola.
Para atender a demanda de padronização de processos e redução de custos surgiu a Fhinck, criada por ex-executivos de multinacionais. A contratação de consultorias muitas vezes atrapalha o dia a dia dos funcionários e resulta em análises superficiais.
Fabíola Paes, da Neomode: sistema 'conversa' com consumidoras no celular
Os sócios tiveram a ideia de fazer um software que é instalado nos computadores para mapear os tempos e movimentos de todas as operações, independentemente do número de funcionários. "A riqueza dos dados coletados automaticamente permite diversas análises", aponta Paulo Castello, fundador e CEO da Fhinck.
O sistema identifica, por exemplo, os níveis de concentração e foco de cada funcionário, seja no escritório ou em trabalho remoto, apontando quem precisa de treinamento. Por meio da análise dos atalhos de teclados, aponta quais arquivos devem ser automatizados e sistemas que poderiam ser integrados.
A inteligência artificial junta conhecimento do negócio, matemática aplicada, modelos estatísticos e programação avançada para gerar códigos ou algoritmos a partir do volume de dados coletados. Ao longo do tempo, conforme novos dados são processados, o programa aprende como aumentar a precisão nos acertos, destaca Castello.
O que faz um vendedor vender mais? Algoritmos buscam entender a navegação nos sistemas, sites e arquivos que os melhores profissionais usam no dia a dia para descobrir padrões que possam ser replicados para que os demais funcionários façam mais vendas, explica Castello. Outro uso para esses algoritmos é antecipar informações na batalha por talentos. O sistema pode ser alimentado com informações dos funcionários que pediram demissão, detectando seus padrões de navegação para que os gestores possam se antecipar a possíveis baixas, antes que elas aconteçam.
A área de saúde é outro campo fértil para a IA. Para dar escala ao trabalho médico, a Data H desenvolveu um sistema que permite ao profissional dar prioridade aos exames por meio de análises de imagens de mamografias, ranqueando os casos que aparentam ter maior urgência, explica Evandro Barros, fundador da Data H.
Outra startup que se especializou na área foi a Healthy AI, que criou um sistema para encontrar profissionais que não apenas tenham qualificação técnica, mas o perfil psicológico e personalidade de acordo com os valores do hospital contratante. "Manualmente, esse processo leva meses e tem alto custo", diz Rubens Fernando Mendrone, diretor de inovação da Healthy AI.
A plataforma mapeia candidatos e entrega, em questão de segundos, uma lista refinada das melhores pessoas disponíveis para aquela vaga.