Não existe um mês sequer em que o mercado segurador mundial deixe de anunciar negócios envolvendo fusões e aquisições (M&A). Segundo relatório do escritório de advogacia inglês Clyde & Co divulgado no início de março, 350 aquisições foram concluídas no setor de seguros em 2017 - em 2016 foram 387. Do total de operações, 50% aconteceram nas Américas, 36% na Europa, 11% na Ásia-Pacífico e 2% no Oriente Médio e África.
Se por um lado os negócios encolheram em 2017, por outro as pressões do mercado pelo crescimento deverão motivar conversas que estavam em banho maria. As motivações dos que procuram negociações são busca por escala, redução de custos, aumento da lucratividade, abrangência internacional. E, mais recentemente, pelas insurtechs - empresas de tecnologia voltadas para seguros.
Segundo especialistas, os acordos se tornam mais sofisticados à medida em que o setor se transforma em resposta ao impacto da inovação tecnológica e também pelos reflexos da baixa atividade econômica, principalmente em grandes projetos de infraestrutura, e queda nos retornos dos investimentos nos mercados financeiros.
Duas das negociações mundiais anunciadas neste ano trazem impactos para o Brasil. A maior delas foi a oferta de US$ 15,4 bilhões da AXA para comprar mundialmente a XL, que atua em grandes riscos. O negócio, quando aprovado pelos órgãos reguladores, criará a maior seguradora no segmento de seguros empresariais. A Zurich anunciou a compra das operações da América Latina da australina QBE Insurance Group, por US$ 409 milhões. O objetivo da compra foi posicionar a Zurich como seguradora líder na Argentina e ampliar o escopo e as capacidades do grupo no Brasil, Colômbia e México e se torna a terceira maior do Equador.
O anúncio mais recente no Brasil ocorreu no fim de 2017, quando a alemã HDI comunicou a formação da joint-venture com o Santander para uma seguradora digital de automóvel. "Identificamos sinergias importantes baseadas na digitalização entre as duas empresas. Hoje o Santander é líder em financiamento de veículos e a ferramenta que usam é o app. A HDI, devido aos investimentos em tecnologia, se mostrou parceira ideal para a joint venture que originou a Santander Auto, empresa detida 50% pela Sancap Investimentos e Participações, sociedade controlada pelo banco, e 50% pela HDI", diz Murilo Riedel, CEO da HDI.
A AIG também movimenta o mercado de fusões e aquisições. Depois de uma série de vendas em 2017, em janeiro deste ano o grupo americano anunciou a compra da resseguradoras Validus, por US$ 5,56 bilhões a vista. Também lançou a marca Blackboard para sua divisão de tecnologia digital, com a aquisição da Hamilton USA.
No Brasil, o grupo vendeu a carteira de seguro auto para a Porto Seguro, em março de 2016, e transferiu parcialmente, neste ano, suas carteiras de seguros garantia estendida e de riscos diversos para a Assurant. "Começamos 2018 em linha com nossa estratégia de atuar nos segmentos de grandes riscos e soluções para pequenas e medias empresas", afirma Fabio Protasio de Oliveira, no comando do grupo desde setembro de 2017.
O setor de saúde é um caso à parte. Três gigantes - Berkshire, Amazon e JPMorgan - anunciaram a formação de uma operadora de saúde para atender mais de um milhão de funcionários dos três grupos incluídos na lista dos dez mais valiosos dos EUA. A ideia é reduzir gastos e melhorar o serviço prestado. Outros dois anúncios bilionários sinalizam a posição ativa da saúde suplementar nos EUA e no Brasil. A CVS Health, maior rede de farmácias dos EUA, adquiriu a seguradora de saúde Aetna, por US$ 69 bilhões. Em marco, a seguradora americana de saúde Cigna anunciou a compra da Express Scripts, maior negociadora independente de programas de descontos farmacêuticos dos EUA, por US$ 67 bilhões. No Brasil o segmento é um dos mais movimentados, segundo as consultorias. Neste ano, as notícias são sobre captação de recursos via emissão de ações, como os IPOs protocolados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela Notredame Intermédica e pela Hapvida.
As corretoras do segmento de atacado também buscam expansão internacional, em resposta às demandas de grandes corporações por parcerias com empresas com presença internacional e à consolidação em mercados domésticos. "As três aquisições mais recentes do grupo, na Bélgica, Argentina e Estados Unidos, fortalecem nossa posição como especialistas e nos dão maior escala na oferta de soluções globais para estes e outros mercados como Ásia e Brasil, com a aquisição da International Risk Consultant (IRC)", diz Nicolau Daudt, CEO da JLT Brasil.