Novas aplicações de realidade virtual e aumentada (VR e AR, respectivamente, nas siglas em inglês) vão demandar um maior uso da computação em nuvem, por conta da necessidade de processar e armazenar dados e imagens. Para especialistas, se depender da escalada de investimentos em VR e AR, as aplicações em cloud computing poderão se tornar um porto seguro para esse novo mercado.
Projeções da empresa de pesquisa IDC indicam que os gastos globais em serviços e produtos de VR e AR devem saltar de US$ 9,1 bilhões em 2017, para US$ 17,8 bilhões até o final de 2018, com possibilidade de aumento de quase 100%, ao ano, até 2021. Multinacionais como a Samsung e companhias brasileiras como Beenoculus e VirtualEye já oferecem soluções com os recursos.
No segundo trimestre do ano passado, a fabricante sul-coreana foi considerada líder global no mercado de VR e AR, segundo a IDC, com uma fatia de 26,7% das vendas no período e cerca de 568 mil dispositivos entregues.
No Brasil, o volume de companhias que atua no segmento também segue em alta. Levantamento feito a pedido do Valor pelo Movimento 100 OpenStartups, plataforma que conecta startups a grandes empresas, indica que o número de negócios que desenvolve soluções de VR e AR subiu de oito para 150, entre 2014 e 2017.
Na prática, a realidade virtual permite "transportar" o usuário para outro lugar ou ambiente, com a ajuda de headsets ou óculos especiais, enquanto a tecnologia aumentada possibilita uma interação visual com objetos ou conteúdo feito sob demanda, como roupas ou sapatos. "A transmissão e o armazenamento dessas imagens podem fazer a capacidade de processamento de dados subir em setores como games, construção civil e comércio, considerados os carros-chefes nessa área", afirma Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria da IDC Brasil.
Um dos exemplos da realidade aumentada nos nossos dias foi o aplicativo Pokémon GO, jogo eletrônico hospedado em nuvem que se tornou uma febre global. Criado em julho de 2016, estima-se que alcançou 100 milhões de downloads em apenas três semanas, após o lançamento. Na época, não era difícil encontrar grupos de jogadores em ruas e parques à procura dos personagens coloridos.
Renato Citrini, gerente de produtos de dispositivos móveis da Samsung Brasil, afirma que, aliados à computação em nuvem, os recursos de VR e AR podem oferecer mais agilidade e precisão na disponibilidade de dados e imagens. "Independentemente de onde o usuário estiver, será possível acessar conteúdos em tempo real."
A marca lançou a primeira versão dos óculos de realidade virtual Gear VR, em 2015. No ano seguinte, apareceu a Gear 360, uma câmera que dá ao usuário a chance de produzir imagens em 360 graus, para a criação de ambientes de realidade virtual. No ano passado, apresentou uma nova versão do Gear VR, à venda no Brasil, com controle remoto. Custa a partir de R$ 800. Pelo menos cinco smartphones da fabricante também têm funções de AR. Ao apontar a câmera do aparelho para determinada direção, a tela mostra locais de interesse como restaurantes e atrações turísticas.
A curitibana Beenoculus também está na briga pelo setor de óculos especiais e produção de conteúdo. Em 2015, apresentou seus primeiros dispositivos para uso com celulares. "Agora, estamos lançando um modelo autônomo, com eletrônica própria", revela o diretor de marketing Rawlinson Peter Terrabuio, com clientes como Itaú e Embraer. O produto é feito em parceria com a Qualcomm, em um acordo inédito na área de realidade virtual.
A nuvem é importante para armazenar e distribuir o conteúdo de VR para os usuários, permitindo um rápido crescimento da base de clientes, diz Terrabuio. A Beenoculus também pretende criar outras companhias para ganhar mercado. "Estamos abrindo quatro empresas para escalar negócios nas áreas de educação, saúde e entretenimento."
Já a VirtualEye, sediada em Jundiaí (SP), está fechando seus primeiros contratos na área industrial. Criada em 2016, desenvolve soluções para as áreas de inspeção e controle de qualidade. "Os operadores das fábricas podem trabalhar com óculos inteligentes em que são projetadas as informações necessárias para a inspeção, substituindo os manuais", explica o sócio Marco Luvizan. "Já desenhamos a solução para trabalhar em nuvem, com o intuito de reduzir os custos dos clientes e proporcionar maior escala da ferramenta." Outras companhias de pequeno porte, como a paulista VRMonkey e a amazonense Dreamkid Studio também desenvolvem aplicações.