A crise econômica estimulou o consumo de medicamentos genéricos no Brasil. Um levantamento recente da PróGenéricos, com base em indicadores do IQVIA (ex-Quintiles IMS), instituto que audita as vendas do varejo farmacêutico no mundo, mostra que, nos três anos de crise, o consumo desse tipo de remédio cresceu quase duas vezes mais que o mercado total no país. "A indústria farmacêutica de genéricos segue investindo. É um produto de baixa margem, mas que em volume tem participação efetiva no faturamento das empresas", afirma a presidente da PróGenéricos, Telma Salles.
Conforme o levantamento, enquanto o mercado total avançou 15,18% em unidades entre 2015 e 2017, o de genéricos subiu 29,73%, impulsionado pelos tratamentos para doenças crônicas. No caso de medicamentos antilipêmicos, usados no controle do colesterol, a participação dos genéricos foi de 44% há três anos para 58%. Em anti-hipertensivos, o crescimento também foi significativo nos últimos três anos. Com alta de 34% nas vendas em unidades, o avanço da participação de mercado foi de 64% para 70%.
De acordo com a presidente da PróGenéricos, pacientes que não buscavam outras marcas acabaram entrando nesse mercado em momentos de crise. "Notamos que, após essa migração, existe continuidade de uso do genérico uma vez que não há decréscimo das vendas", afirma a executiva.
Os tratamentos para doenças crônicas, que abarcam os antilipêmicos e os anti-hipertensivos, correspondem à maior parte das vendas de medicamentos no país por causa da necessidade de uso contínuo e do número de pacientes. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 57 milhões de brasileiros sofrem de algum tipo de doença crônica.
O IQVIA mostra que a indústria de genéricos encerrou 2017 com crescimento de 11,78% nas vendas em unidades, para 1,2 bilhão. Dessa forma, encerraram o ano com 32,46% de participação de mercado contra 30,70% verificados em 2016. Com tal desempenho, esse tipo de medicamento avançou seis pontos percentuais acima do mercado farmacêutico total, que registrou expansão de 5,73% em unidades no ano passado.
O grande apelo dos genéricos vem do preço. Por lei, esse tipo de medicamento deve custar 35% menos que o de referência, cálculo que deve ser feito a partir do valor estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) para o segundo produto. Na prática, porém, os genéricos chegam ao mercado com desconto médio de 60%. Diante disso, explica Telma, tornaram-se alternativa importante sobretudo para pacientes de doenças crônicas, que não podem interromper o tratamento porque sua condição econômica é mais adversa.
A chegada da versão genérica ao mercado também pode ter reflexo no preço do tratamento de referência. Por estratégia comercial ou por causa da maturidade do remédio de marca, há laboratórios que praticam para esses produtos, esporadicamente ou permanentemente, preços tão ou mais baixos que os dos genéricos. Em tratamentos para diabetes, exemplifica a PróGenéricos, os medicamentos de referência ficaram mais baratos e mantiveram a participação de mercado durante a crise - 42% em 2015 frente a 43% em 2017.
O lançamento de novas moléculas, o estabelecimento de um parque fabril com escala e que atende a critérios rigorosos de qualidade e maior confiança da classe médica nesse tipo de medicamento também ajudam a explicar a crescente adesão dos brasileiros.