Com sensores no asfalto, em postes e em veículos, a gestão dos semáforos faz o trânsito fluir e pode criar um corredor livre para a passagem de ambulâncias acionada automaticamente por dispositivos remotos. Os postes, dotados de lâmpadas LED, suportam a gestão da rede, estações meteorológicas, alimentação solar, tomadas para celulares e carros elétricos, além de pagamentos por aproximação de cartões.
Sensores ajudam a gerenciar o meio ambiente e enviar alertas para o cidadão, em caso de previsão de ocorrências extremas, como temporais. Totens e aplicativos orientam turistas e, nas escolas, projetores, câmeras e microfones inteligentes produzem aulas a distância. Todos esses serviços são integrados, com uma central unificada e podem ser acessados por smartphone.
Impensável há uma década, esse conjunto de serviços urbanos sustentado por alta tecnologia, presente na chinesa Yinchuan, capital da província de Ningxia, ilustra como o uso de internet das coisas (IoT), big data, analytics, computação em nuvem e mobilidade, entre outras soluções, pode contribuir com a qualidade de vida dos cidadãos em cidades inteligentes.
A americana BCC Research aponta que este mercado alcançou US$ 342 bilhões em 2016 e deve chegar a US$ 774,8 bilhões em 2021. O salto deriva do barateamento de sistemas baseados em sensores, ferramentas de análises preditivas e outras, mas estima-se que aquisições feitas agora ainda levarão anos para atingir estágio verdadeiramente operacional.
O relatório da BCC sinaliza uma prioridade para os investimentos no setor de energia, seguida por gerenciamento de água e de resíduos, transportes, cuidados com idosos e necessitados e serviços de governo eletrônico, incluindo aplicativos para os cidadãos.
A consultoria IHS Markit, por sua vez, apontou o fortalecimento, este ano, de tendências como mais investimentos públicos e privados em infraestrutura de conectividade; adoção de plataformas de gestão integrada - sejam horizontais, para toda a cidade, ou verticais, para serviços específicos, com integração de outras áreas; novas tecnologias ao redor da IoT, como machine learning, inteligência artificial, computação na borda (edge computing), drones e blockchain; e integração entre funcionalidades de casas, cidades e regiões inteligentes.
O cenário se reflete no Brasil. Entre os instrumentos para ampliar a conectividade estão as parcerias público-privadas (PPPs) voltadas à renovação das redes de energia e gestão de resíduos, associações para uso de infraestrutura - a exemplo do Estado da Bahia, que firmou parceria para uso de redes de dados de provedores de acesso regional - e estímulos à ampliação das redes de dados. Entre eles, os termos de ajustamento de conduta (TAC), que substituem multas das teles por investimentos e o Plano de Conectividade criado pelo Ministério das Comunicações, Tecnologia e Inovação (MCTIC) para desoneração de ICMS e ISS em cidades menores.
Do lado das empresas, ainda existe certa desconfiança com a recuperação da economia e com a instabilidade política local. A Cisco, por exemplo, criou um programa de financiamento mundial para cidades inteligentes, com US$ 1 bilhão. "Mas o risco Brasil é fator restritivo", avalia Renato da Silveira Pazotto, gerente da área de cidades conectadas para a América Latina.
A empresa oferece a plataforma Kinectics for Cities somando tecnologias como IoT, edge computing e APIs (conectores de softwares) para agregar dados gerados por sensores de diferentes marcas, estimular a integração de áreas da companhia e a correlação de dados com outras secretarias, criando um ambiente capaz de compartilhar informações.
A Ericsson, com projetos como a modernização do transporte público em Goiânia (GO) e videomonitoramento para segurança em São José dos Campos (SP), investe em plataformas verticais, como a Connected Urban Transport (CUT), para gestão das várias camadas envolvidas no serviço, desde a conectividade até semáforos analógicos, contadores de fluxo e câmeras; e horizontais, como a IoT Accelerator, que conta com parceria com as teles. "A cidade é um ambiente com várias verticais, com muitas empresas para soluções completas", lembra o diretor de relações com governo e indústria da companhia, Tiago Machado.
Huawei, IBM e Microsoft também estão de olho nesse mercado. Além de plataforma de IoT, a Huawei aposta em transformação digital, ou governo eletrônico, e fornece infraestrutura e tecnologia para iniciativas como a zona azul digital (aplicativo para estacionamento rotativo) na capital paulista, o Poupatempo, central de serviços do Estado de São Paulo e a recém-lançada identidade digital do governo federal, informa o diretor de marketing e soluções da companhia chinesa, Rômulo Horta.
Já a IBM tem projetos em áreas como saúde e mobilidade. O Instituto do Câncer do Ceará (ICC) adotou a solução de computação cognitiva "Watson for Oncology" para análise de prontuários e laudos de pacientes, dando a oncologistas informações sobre evidências científicas e possibilidades de terapias para cada caso.
Para a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), a IBM desenvolveu o Centro de Controle de Informações para captar e interligar dados sobre tráfego e arrecadação dos pedágios, além de outros levantados pelos diferentes Centros de Controle Operacional (CCOs) das 19 concessionárias que atuam no Estado por meio de sensores, câmeras e outras fontes. "A tendência é de maior colaboração entre as malhas de informações", diz Antonio Carlos Dias, executivo de cidades inteligentes da IBM.
A Microsoft oferece tecnologias que vão de nuvem a aplicações de gestão. A solução da zona azul paulista, por exemplo, roda na plataforma de cloud Azure. A nuvem suporta ainda o aplicativo de chamadas de táxis Táxi Rio, da Prefeitura do Rio de Janeiro, explica o gerente de desenvolvimento de negócios para o setor público da empresa, João Thiago Poço.
A Microsoft também ajudou a implantar o monitoramento da frota de ônibus paulistana em 2001. No início por GPRS, hoje por internet. Os dados gerados são abertos e permitem a criação de soluções como o aplicativo Ônibus ao Vivo.
Em Sorocaba (SP), a adoção do software de CRM Dynamics colaborou para a melhoria da comunicação entre diferentes secretarias e para ampliar o índice de resolução de chamados de cidadãos na central de atendimento da prefeitura, de 5,6% para 86% em seis meses, com todas as solicitações registradas e abordadas em prazo de cinco dias.
Na linha da especialização, um dos destaques na área de energia é a GE, cujas soluções digitais são empregadas pela AES Eletropaulo. Outras apostas da marca são as tecnologias de armazenamento e soluções para gestão de microrredes, voltadas a atender o aumento do uso de energias renováveis, informa o líder de soluções digitais da empresa, Rodrigo Salim.