Uma das maiores empresas de cartão-refeição do país, a Ticket se volta agora para a prestação de serviços na área de saúde. O objetivo é ajudar as companhias a diminuir os custos com convênio médico e evitar faltas dos funcionários ao trabalho. Também é uma forma de diversificar a oferta de produtos às companhias, após o segmento de vales-refeição ter sido fortemente afetado pelos altos níveis de desemprego durante a recessão.
"No passado, as maiores despesas das empresas depois da folha de pagamento eram os 'vouchers' [de benefícios como refeição]. Agora, é o plano de saúde", diz Marilia Rocca, diretora-geral da unidade de benefícios ao trabalhador da Ticket Serviços.
Em julho do ano passado, a companhia lançou o aplicativo Ticket Fit, que funciona como um diário de alimentação e exercícios, a partir de metas de saúde que o usuário pretende atingir. O serviço é gratuito. Para receber os dados captados pelo aplicativo e ter um panorama do estilo de vida de seus funcionários, a empresa paga uma taxa à Ticket. São fornecidos dados estatísticos do grupo de empregados participantes, sem identificação individual. "Se o IMC [Índice de Massa Corporal] dos colaboradores está piorando, por exemplo, o RH pode agir", diz a executiva.
Além disso, a companhia está ampliando os serviços de saúde que podem ser pagos com o Ticket Plus - cartão que os empregadores podem oferecer a seus funcionários para uso em estabelecimentos credenciados. Em dezembro, foi fechada uma parceria com a rede Fares, de clínicas médicas populares, para pagar consultas até de membros da família do funcionário que não têm plano de saúde. Quando o cartão é usado, os estabelecimentos pagam uma taxa à Ticket, num sistema semelhante ao dos cartões de crédito.
As maiores rivais da Ticket no país, Alelo e Sodexo, também têm investido em serviços voltados ao bem-estar dos funcionários das empresas que formam sua base de clientes. O momento é propício para oferecer mais opções, com a entrada em vigor da reforma trabalhista aprovada no ano passado.
"Antes da nova lei, as empresas tinham receio de premiar os funcionários e gerar encargos trabalhistas com essas premiações. Agora, podem fazer isso com maior segurança jurídica", diz Rocca.
A diversificação faz parte de uma estratégia mundial do grupo francês Edenred, dono da Ticket. Em janeiro de 2016, a companhia comprou a brasileira Embratec, especializada em cartões de combustíveis e gestão de despesas corporativas. O segmento cresce a taxa de dois dígitos no país, segundo balanço global da Edenred publicado em outubro, e ajudou o grupo a compensar a queda nas receitas com benefícios decorrentes do aumento do desemprego.
Como resultado, a receita do grupo no país de janeiro a setembro de 2017 ficou estável sobre um ano antes. A receita operacional na América Latina somou € 388 milhões no período, uma alta de 20,9%, puxada pelo desempenho em outros países da região, principalmente México e Argentina, apesar da conjuntura econômica ainda difícil no Brasil.
A expectativa é que esse cenário mude este ano. "Nossa avaliação do mercado de benefícios para 2018 é muito positiva. Acreditamos na recuperação econômica e na tendência de melhoria da situação brasileira", diz Rocca.