BR Pharma pressiona BTG para receber mais capital de giro
09/01/2018
Sem solução de curto prazo para manter a Brasil Pharma operando, o controlador da empresa, Paulo Remy, tem pressionado credores desde o ano passado em busca de novos recursos. No fim de 2017 e já no começo deste ano, Remy esteve com sócios do grupo BTG Pactual, que fazem parte de uma holding credora da varejista, mas não houve avanços nas conversas.

A situação da BR Pharma é dramática, com prejuízo bilionário, patrimônio líquido negativo e queima contínua de caixa. Remy tem informado aos sócios do BTG que, sem um novo aporte, um dos caminhos para a empresa passaria pela recuperação judicial, segundo fontes a par do assunto.

Em abril de 2017, o fundo de participações do BTG Pactual, que controlava a rede, anunciou a venda do negócio para Remy e hoje tem apenas 2% da BR Pharma. A PPLA Participations, holding offshore de investimentos dos sócios do banco, tornou-se a maior credora da varejista.

Esta holding concentra 90% da dívida da rede de farmácias, pois a transferência do negócio à Remy envolveu a reestruturação dos compromissos anteriores e ainda um novo financiamento, de R$ 420 milhões por meio de uma operação de debêntures com vencimento em 30 anos.

No total, os créditos da PPLA somavam, neste mês, quase R$ 1 bilhão, apurou o Valor. É apostando no interesse de recuperação desse crédito que Remy vem solicitando recursos ao BTG Pactual. Uma recuperação judicial passaria necessariamente por uma negociação com os sócios do banco. Fornecedores e empregados têm parcela bem menor dos débitos.

A empresa tinha R$ 1,1 bilhão em dívida financeira ao fim de setembro do ano passado, para R$ 3,9 milhões em aplicações financeiras - um décimo do que tinha ao fim de 2016.

Procurados, Remy, o BTG e os acionistas da PPLA preferiram não se pronunciar.

Nas últimas conversas com Remy, o BTG tem dito que o empresário precisa avançar mais na reestruturação da rede, que ainda não teria evoluído de maneira a trazer todos os benefícios da integração dos negócios comprados no passado. Nesse cenário, novos aportes estariam fora de discussão.

Para analistas, a gestão tem dito que aprofundou os ajustes operacionais desde o ano passado, com fechamento de mais lojas e avanço na integração dos sistemas de tecnologia. E isso já estaria trazendo alguns ganhos ao negócio. A rede opera com três bandeiras: Farmais, Sant'Ana e Big Ben. Em março, antes de Remy assumir oficialmente os negócios, eram 784 lojas. Seis meses depois, esse número tinha caído menos de 10%.

Remy está à frente da BR Pharma, na prática, desde o começo de 2017, quando começou o plano de transição da antiga gestão para a sua administração.

Na última teleconferência para analistas, em novembro, a diretoria do grupo afirmou que a empresa tem buscado alternativas ao negócio como novos investidores, venda de ativos, novas fontes de financiamento com bancos e renegociação com fornecedores para retomar as vendas e o capital de giro. O Valor apurou que uma recente busca de interessados nas marcas da rede não avançaram.

Durante a negociação com Remy, quando o BTG buscava um novo dono para a BR Pharma em 2016, outras propostas foram feitas, mas com valor de aportes acima do pedido pelo empresário. Ele comprou o controle por R$ 1 mil e recebeu um financiamento, via debêntures, de R$ 400 milhões. Outras duas propostas envolviam uma emissão de debêntures bem maior que a fechada, porque os interessados consideravam que a necessidade de caixa era elevada. Uma proposta previa emissão de dívida de R$ 1 bilhão e outra de R$ 1,5 bilhão, segundo fonte.

Hoje há busca urgente de mais recursos para capital de giro, especialmente para pagar fornecedores de medicamentos, com os quais a BR Pharma tem dívidas em aberto. Isso aumenta o risco de pedido de falência, o que estaria motivando a atual gestão a avaliar a hipótese de uma recuperação judicial, segundo fonte. A varejista tem R$ 110 milhões em dívidas com fornecedores já vencidas e R$ 40 milhões a vencer. Dívidas com o Fisco somam R$ 400 milhões.

A BR Pharma registrou vendas brutas no terceiro trimestre de 2017 de R$ 140 milhões. O patrimônio líquido negativo em setembro alcançou R$ 1,1 bilhão. O prejuízo, no período acumulado de nove meses, era de R$ 1,45 bilhão.

Hoje, a Brasil Pharma é alvo de uma oferta para saída do Novo Mercado, mas sem fechamento de capital. Há 5,5% do capital em circulação. Com liquidez reduzida, a companhia estava avaliada em pouco mais de R$ 430 milhões na B3. O laudo de avaliação exigido para saída do segmento, feito pelo banco Modal, apontou que o valor econômico da empresa equivale a R$ 0,14 por ação - substancialmente abaixo do preço de mercado de ontem, de R$ 3,84 por papel.

A BR Pharma foi criada em 2009 com a proposta de tornar-se uma grande consolidadora de farmácias. Após 2013, erros na gestão, segundo analistas, afetaram o negócio. Algumas operações compradas tiveram dificuldades e a manutenção de um modelo com marcas descentralizadas ficou complexa demais.
Fonte: Valor




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