O crescimento vigoroso do mercado de segurança no mundo está aumentando o ritmo de fusões e aquisições. Pelas estatísticas da consultoria inglesa Hampleton Partners, serão cerca de 150 negócios este ano, dos quais perto de 80% estratégicos e o restante de private equity. Um dos casos mais emblemáticos é o da Blue Coat, especializada em segurança de redes, comprada pela Bain Capital por US$ 2,4 bilhões em 2015 e vendida um ano depois à Symantec por US$ 4,65 bilhões.
A Symantec, na verdade, sempre fez aquisições, diz Vladimir Amarante, diretor de vendas técnicas e serviços da empresa para a América Latina. "O segredo é o que fazemos com essas aquisições, já que nem tudo é integrado ao nosso portfólio", explica. Uma das outras aquisições foi a Veritas, especializada em cópia de segurança de dados, vendida pouco antes da aquisição da Blue Coat. "Neste caso trouxemos para os clientes um produto e um serviço melhores, e em consequência o valor das ações da Blue Coat duplicou em um ano", conta Amarante. Agora, a marca está deixando de ser usada e sendo substituída pela da Symantec. "Essas aquisições são feitas sempre para complementar nosso portfólio e reforçar nossa visão de cibersegurança", acrescenta.
Para Cassio Spina, presidente da aceleradora Anjos do Brasil, esse é um mercado de grande interesse para investidores: "Com tudo o que tem acontecido, é natural que o mercado seja de demanda elevada. Ao mesmo tempo, o crescimento da internet das coisas (IoT) também gera a necessidade de mais soluções de segurança que uma empresa dessa área pode oferecer", pondera.
Entre os outros segmentos de startups também aquecidos estão, segundo ele, os que empregam soluções com inteligência artificial, com realidade virtual e com blockchain, a tecnologia de registro de dados em cadeias imutáveis. "Em cibersegurança, o aumento da velocidade de demanda também é causado pela quantidade de inovações embarcadas, como as que levam ao desenvolvimento dos carros autônomos", diz Spina.
O valor de startups no setor de cibersegurança está nas possibilidades de geração de boas receitas a partir da tecnologia, diz o investidor Élcio Morelli, líder do grupo de investimento-anjo Health Angels. "Geralmente, a visão dos empreendedores fica muito presa ao produto e menos ao cliente, mas o valor de uma tecnologia não está apenas no grau de inovação e no número de horas investido para desenvolvê-la", explica.
Oscar Malvessi, coordenador do curso de fusões & aquisições e valuation da FGV, tem certeza de que as vendas no mercado de segurança tendem a manter-se em alta: "Elas podem até oscilar, mas a tendência é de alta". Empresas do setor, por causa disso, tendem também a ganhar valor. "A área de tecnologia é muito relevante, representando no Brasil de 15% a 20% do número de fusões e aquisições, e esse número vem crescendo de 2009 para cá", diz Malvessi. Elas oferecem ao investidor, segundo ele, a essência do que eles procuram: remunerar o custo de capital acima das expectativas.