Relatório do Ministério da Saúde mostra que o diagnóstico e o tratamento de pessoas vivendo com HIV-aids melhorou no Brasil nos últimos quatro anos, embora deixe claro que há ainda desafios a serem enfrentados. De acordo com o trabalho, o número de pessoas com HIV que sabem da sua condição aumentou. Também é maior a parcela dos que estão em tratamento com medicamentos antirretrovirais. Ao mesmo tempo, as taxas de abandono da terapia ainda são altas e continua significativo o número de pessoas que descobrem a infecção pelo HIV de forma tardia - o que dificulta o sucesso no tratamento.
“Há conquistas, mas também desafios”, constata a diretora do Departamento de Prevenção e Controle das ISTs, HIV-aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken. Um dos maiores avanços apontados pelo trabalho é a melhora no diagnóstico. Estima-se que 830 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Desse total, 694 mil (84%) sabem que são portadoras do vírus - aumento de 18% quando comparado com dados de 2012.
Em 2016, 72% das pessoas diagnosticadas estavam em tratamento. Uma proporção bem maior do que em 2012, quando 62% das pessoas vivendo com HIV-aids estavam em terapia com antirretrovirais. A supressão viral (quando a proporção de vírus circulante no sangue é considerada pouco expressiva, o que indica o sucesso do tratamento) também avançou. Dos pacientes tratados, 91% apresentam carga mínima de vírus.
Os dados indicam que o Brasil está próximo de atingir pelo menos duas das três metas do Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids), batizado de 90-90-90. O compromisso dos países é chegar até 2020 com 90% das pessoas com HIV-aids diagnosticadas; desse grupo, pelo menos 90% em tratamento e, dos que estão em tratamento, 90% com supressão viral. “Estamos a seis pontos porcentuais da meta do diagnóstico”, constata Adele. A meta da supressão viral já foi atingida e agora precisa ser mantida até 2020.
Um dos maiores desafios é tentar garantir que as pessoas diagnosticadas entrem em tratamento - e mantenham essa condição. A diretora chama a atenção para os dados da população entre 18 e 24 anos. Nesse grupo, apenas 56% dos diagnosticados estão em tratamento e 49% têm carga viral em níveis considerados ideais. “É preciso fazer um esforço para melhorar esses indicadores.” A ideia é fazer uma campanha para mobilizar pessoas nessa idade a se testar e manter o tratamento. Tão importante quanto isso, ressalta Adele, é tentar identificar as falhas do sistema que levam jovens a se manter afastados dos sistemas de saúde.
Adesão
Os dados do trabalho indicam que 9% das pessoas vivendo com HIV-aids abandonaram o tratamento em 2016. Mesmo porcentual apresentado em 2014. As taxas, no entanto, mudam quando se analisa raça-cor. Ano passado, a taxa de abandono na população branca foi de 8%. Entre negros, no entanto, foi de 11%, o mesmo porcentual constatado entre população indígena. “Há uma sinergia de estigmas”, afirma Veriano Terto, da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids.