O aumento da expectativa de vida do brasileiro colocou a medicina em xeque. Se por um lado o setor melhorou as condições gerais para que a população vivesse mais, por outro enfrenta o desafio de atender bem os longevos a custos adequados. Essa nova realidade vale para todos: hospitais públicos e privados, laboratórios e planos de saúde.
A questão é como aliar gestão eficiente a tratamentos de alto padrão de modo a atender à crescente demanda por serviços de saúde. A resposta passa por investimentos em tecnologia e prevenção.
De 2011 para cá, foram investidos R$ 12,5 bilhões em empresas de tecnologia de saúde no Brasil. A tendência aponta para o uso crescente de inteligência artificial para aumentar a produtividade de procedimentos, cirurgias digitais, tratamentos com dispositivos minimamente invasivos, diagnóstico por imagem humanizada e adoção compartilhada do prontuário eletrônico com mapeamento de dados sobre a saúde do paciente.
"A medicina entra de vez na chamada saúde 4.0. Há hospitais que já utilizam inteligência artificial para melhorar resultados na UTI", afirma Fabrício Campolina, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed). Nos Estados Unidos, sistemas computadorizados já realizam diagnóstico por imagem com precisão e alguns protótipos de cirurgia digital devem começar a chegar ao Brasil em 2019.
A adoção e compartilhamento do prontuário eletrônico é um dos pontos críticos a serem resolvidos pelo setor e passam pela integração de dados do paciente. Especialistas veem esforços tanto do governo quanto do setor privado nesta direção.
"A consolidação dessas informações vai proporcionar melhor atendimento à população e ajudar a resolver um problema financeiro e de gestão de recursos do sistema público e privado", afirma Campolina.
O desafio, no caso, é fazer de forma eficaz a transmissão de informações e o monitoramento da saúde do paciente a distância. "É possível monitorar a distância eventuais acidentes, queda, parada cardíaca, mau funcionamento do coração, queda de pressão, medição de glicose, AVC, que são mais recorrentes nos idosos", afirma Paulo Henrique Fraccaro, superintendente Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo).
O executivo alerta, no entanto, que medidas preventivas deveriam ser tomadas com maior eficácia e que o setor ainda investe muito pouco nisso. "O convênio deveria ter classificação especial, por exemplo, para quem não bebe, não fuma e faz ginástica. Deveria ter programa massivo para aconselhar os idosos a fazerem exercícios e adaptações em casa."
A temática envolve quase 7 mil hospitais e 10 mil laboratórios e interessa em especial à fatia dos 14% dos brasileiros mais velhos, que, segundo o IBGE, devem dobrar em número até 2050.
O levantamento indica ainda que 60% dos idosos no país convivem com algum tipo de doença crônica como diabetes, hipertensão, câncer, obesidade, osteoporose e doenças degenerativas. "Os desafios são enormes, pois a prevalência de várias doenças nessa faixa etária é maior. O tratamento, a recuperação e o risco de complicações são maiores, o que tem impacto importante para o sistema de saúde", explica Campolina, da Abimed.
Alguns hospitais e laboratórios começam a investir em inovações e novos modelos de gestão para resolver esses gargalos. O Hospital Israelita Albert Einstein, que há mais de 15 anos mantém um residencial de idosos da comunidade judaica, recebeu há pouco mais de um ano o selo "amigo do idoso", da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O selo é conferido a hospitais que seguem critérios e indicadores de gestão voltada para esse público, como reabilitação, conselho de pacientes idosos, educação, acessibilidade, ações de humanização, oficinas e atividade ocupacionais.
"O Einstein adotou a política de "Tripla Meta", que associa qualidade do atendimento e do tratamento à experiência do paciente e seus cuidados. Compartilhamos informações e acolhemos a família", exemplifica Sidney Klajner, presidente do hospital. O Einstein adota a tecnologia de tele home care, que permite ao paciente comunicar-se com o seu médico remotamente.
A segunda medida é estabelecer iniciativas que visam promover a saúde e ampliar a qualidade do tratamento. "A terceira é a redução do custo per capita e do desperdício por meio da eficiência operacional", diz Klajner. O Einstein investiu R$ 200 milhões para implantação do prontuário eletrônico, que começou a operacionalizar em janeiro. Além disso, aposta no uso de plataformas em smartphones e em relógios para medição de atividades físicas, frequência cardíaca e pressão. Tudo integrado a sua central de dados.
No Hospital Sírio-Libanês o uso de ferramentas como a telemedicina também são frequentes. Além da tecnologia, o hospital defende o médico de família como modelo ideal para os cuidados de pacientes crônicos. "Hoje 85% dos casos podem ser resolvidos pelo médico de família, por meio do atendimento da estrutura familiar e com o histórico do paciente", diz o doutor André Osmo, diretor de desenvolvimento de projetos em saúde da instituição.
O Sírio tem mudado sua estratégia de gestão para valorizar a chamada medicina baseada em valor, com resultados que estejam direcionados para melhoria nas condições de vida do paciente. "Um dos princípios é o cuidado geral do paciente e o acompanhamento dos desfechos, melhorando a relação custo benefício. Isso implica também novos modelos de remuneração", diz.
Em vez do pagamento por serviço ou procedimento, o que se propõe é o pagamento baseado em pacote de resultado, com indicadores de qualidade e eficiência. "Já começamos a implementar no começo do ano e servirá de modelo de remuneração entre operadoras e hospitais."
Para o Grupo Fleury o foco está na saúde, e não doença. "Investindo na medicina de precisão e no tratamento direcionado e personalizado, conseguimos atuar mais na prevenção", diz a doutora Jeane Tsutsui, diretora executiva médica, técnica, de pesquisa e desenvolvimento do Fleury.
Dessa forma dá para ajudar as pessoas a mudar seus hábitos para atingir um envelhecimento mais saudável. Outro ponto importante é o uso da tecnologia para aumentar a produtividade e o acesso à saúde. "Na medicina de precisão lançamos o portal Fleury Genômica este ano. Uma plataforma digital na qual as pessoas podem ter informações a respeito de exames na área genômica, inclusive comprar o teste, receber o kit em casa, fazer coleta e enviar o kit pelos Correios ", explica Jeane.
Outra novidade é o centro integrado de avaliação osteomuscular. Este ano, o Fleury introduziu a tecnologia EOS, que permite, com baixa radiação, avaliar o paciente em pé e fazer a reconstrução tridimensional de sua parte óssea. "Problemas de coluna e quadril, por exemplo, podem ser avaliados com precisão."