O modelo de atenção primária à saúde, que privilegia prevenção, medidas epidemiológicas e atendimento concentrado no indivíduo de maneira integral, pode ser uma saída economicamente sustentável para a saúde suplementar do país, que enfrenta queda do número de beneficiários devido à crise econômica e ao desemprego.
Essa foi a conclusão dos participantes da terceira mesa do fórum Saúde Suplementar, realizado pela Folha com o patrocínio de FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), Unimed, Pfizer, Bristol e Anab (Associação Nacional das Administradoras de Benefícios).
"Hoje temos um modelo absolutamente irreal e caótico, que precisa ser superado", afirmou Alexandre Ruschi, presidente da Central Nacional Unimed. "Se temos personal trainer e consultor financeiro, por que não podemos ter um 'personal médico'?"
Para ele, no entanto, a transição para outro modelo deve contar com a participação da academia, dos governantes e, principalmente, da sociedade. "Quando a sociedade não participa os projetos fracassam."
Na Unimed Vitória, que oferece um pacote baseado no modelo de atenção primária à saúde, houve redução de 20% na frequência de internações e 23% nas consultas em relação aos clientes de outros pacotes oferecidos, segundo Ruschi. O Brasil ainda precisa, porém, construir seu modelo para implantação em maior escala.
De acordo com Celso Evangelista, superintendente médico da administradora de planos de saúde coletivos Qualicorp, um dos elementos fundamentais para a mudança é fazer com que o primeiro contato do beneficiário com esse novo serviço, conhecido como acolhimento, seja de alto nível.
"Se trocamos um acesso indiscriminado por um outro serviço específico, então [este] deve ser extraordinário."
A demanda por incorporação de tecnologia, na opinião de Evangelista, deve facilitar a adoção de um novo modelo mas ser feita com racionalidade, dando prioridade à eficiência das novidades para evitar gastos desnecessários.
Para José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), a chegada de novos tratamentos e procedimentos é inevitável, mas precisa acontecer com base no orçamento do consumidor.
"Queremos ter acesso a tudo e de maneira rápida, mas a sociedade pode pagar?", perguntou.
REMUNERAÇÃO
Segundo José Cechin, da FenaSaúde, o atual sistema de remuneração, que permite margem maior de ganhos para procedimentos mais caros, produz um incentivo inadequado e leva a um comportamento irracional e ineficiente.
A transformação desse sistema contribuiria para a manutenção e sustentabilidade da saúde suplementar brasileira, disse Chechin. "Esse sistema deve mudar e acredito que vai mudar, mas num processo mais lento do que gostaríamos."