Ao contrário do que se possa imaginar, hospitais e operadoras de planos de saúde também estão enfrentando problemas com o alto custo do convênio médico concedido aos seus funcionários e dependentes. Diante desse cenário, hospitais como Albert Einstein, Sírio-Libanês e BP (novo nome da Beneficência Portuguesa) e a operadora Amil iniciaram ações internas para baixar o custo. O ponto em comum entre essas ações é o foco no atendimento básico, ou seja, fazer com que funcionários e dependentes sejam acompanhados por um médico de família para evitar idas desnecessárias ao pronto socorro, a médicos especialistas ou a ocorrência de exames em duplicidade.
"Não éramos o melhor exemplo. Nossa taxa de sinistralidade era alta. Sabe aquele ditado: casa de ferreiro, espeto de pau? ", disse Catia Porto, vice-presidente de capital humano do UnitedHealth Group Brasil, dona da Amil. Há um mês, a operadora mudou o formato do convênio médico oferecido aos seus 40 mil funcionários e 20 mil dependentes. Todos tiveram um "upgrade" do plano de saúde, mas passaram a pagar uma coparticipação de 20% do valor do procedimento médico, cuja quantia não pode ultrapassar 5% do salário.
Nesse processo, foi dada uma contrapartida: o funcionário que aderir ao programa de promoção à saúde da Amil não paga a coparticipação. O programa exige que o empregado faça adesão a uma das ações como acompanhamento com nutricionista, médico de família ou pré-natal no casos de gestantes.
"Já administramos esse programa para outras empresas que nos relataram uma queda expressiva no custo do plano", disse Catia. Para facilitar a adesão, a Amil está instalando, dentro de seus escritórios, ambulatórios para atender os colaboradores. O programa de promoção à saúde da Amil é vendido como um serviço para outras empresas e tem cerca de 85 mil usuários que também são clientes da operadora.
O Hospital Albert Einstein se deparou com reajustes elevados do convênio médico, administrado pela Sompo (ex-Marítima). No ano passado, o Einstein desembolsou R$ 73 milhões com o plano de saúde que é oferecido a cerca de 27 mil pessoas, entre funcionários e dependentes, que em sua maior parte não tem acesso ao hospital Albert Einstein. Essas pessoas continuam não tendo a cobertura, mas desde o começo do ano, quando um dos funcionários é internado em outro hospital, o Einstein coloca um de seus médicos para acompanhá-lo. Nos casos de alta complexidade, a pessoa é transferida para o Albert Einstein.
"É preciso mudar o atual modelo de remuneração que paga pelo tratamento da doença. O caminho é a promoção da saúde, a prevenção da doença. Por isso, estamos investindo em clínicas com médicos de família para acompanhar nossos colaboradores", disse Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein.
No primeiro semestre, o Einstein investiu R$ 10 milhões na construção de duas clínicas para atender funcionários e dependentes. Mais R$ 60 milhões serão aplicados em 2018 para erguer novos consultórios em São Paulo. Segundo Klajner, com o atendimento centralizado no médico generalista houve uma queda de cerca de 20% no volume de procedimentos. Nos primeiros nove meses do ano, o custo do plano de saúde caiu 6,2%, o que representa uma economia de cerca de R$ 4,5 milhões, considerando o montante gasto em 2016 com plano de saúde.
No longo prazo, o objetivo do Einstein é vender esse modelo de clínicas com um médico de família para outras empresas. Isso começou a ser feito, recentemente, pelo Sírio-Libanês, que também viu sua conta com plano de saúde disparar nos últimos anos. O custo per capita do convênio médico dos funcionário baixou 27% em 2016 com a adoção de um modelo concentrado no atendimento médico primário.
No Sírio, além das consultas médicas e exames, os colaboradores também ganharam o direito de se internar no hospital, o que não era permitido até 2014. Com esse modelo de gestão da saúde dos colaboradores, o Sírio economizou, no ano passado, R$ 16 milhões com o convênio médico, que atende 12 mil pessoas.
O Sírio está em negociações finais com duas empresas que terão médicos do hospital dentro dos escritórios ou fábricas para acompanhar de perto os funcionários. "Cerca de 80% dos casos são resolvidos por um médico de família. Cada vez que a pessoa vai à emergência, são pedidos novos exames, começa tudo de novo", disse o cirurgião Paulo Chapchap, CEO do Hospital Sírio- Libanês. Além da comodidade de ter um médico no próprio prédio do trabalho, o que deve atrair às pessoas é a credibilidade médica do Sírio.
A BP (Beneficência Portuguesa) também criou um programa para seus empregados baseado em atendimento primário. "Enfrentávamos os mesmos dilemas do mercado, com alto custo no plano de saúde mesmo com os funcionários tendo acesso ao hospital", disse Juliana Caligiuri, superintendente executiva da BP.
Criado há um ano e meio, o programa interno, que atende 15 mil pessoas, reduziu a taxa de sinistralidade em 15%. Segundo Juliana, foi feita uma análise do perfil de saúde dos funcionários e dependentes da BP, seguida de um acompanhamento sistemático com recomendações alimentares ou instruções após alta de uma internação. "Muitos pacientes não fazem o tratamento adequado ao deixarem o hospital, o que ocasiona a reinternação", disse Ana Elisa Siqueira, presidente do Grupo Santa Celina, consultoria que faz gestão de usuários de planos de saúde.