Apesar de temer o câncer, o brasileiro ainda tem conhecimentos muito falhos sobre a doença, revela pesquisa inédita divulgada nesta terça-feira pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), véspera do início do XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontece desta quarta até domingo no Rio de Janeiro.
De acordo com o levantamento, intitulado “Panorama sobre grau de informação, hábitos e atitudes do brasileiro em relação ao câncer”, 44% das 1,5 mil pessoas ouvidas nos 26 estados da Federação, mais o Distrito Federal, admitiram ter um conhecimento apenas “mediano” sobre o câncer (notas 5 a 7 em uma escala que varia de 1 a 10). Outros 26% afirmaram entender profundamente sobre o tema (notas 8 a 10), enquanto 31% pouco sabem sobre a doença (notas 1 a 4) – a soma ultrapassa os 100% devido a arredondamentos dos valores.
Já os tipos de câncer que o brasileiro mais conhece estão justamente os que mais atingem a população segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Na pesquisa da Sboc, 94% responderam já terem ouvido falar do câncer de mama, 90% dos de próstata e pulmão, 89% do de pele, 87% da leucemia e 86% do câncer de colo do útero.
De acordo com o Inca, entre os homens o câncer de próstata responde por 28,6% dos novos casos anuais da doença, num total de cerca de 61,2 mil, seguido pelo de traqueia, brônquio e pulmão, com 8,1%, ou 17,3 mil, casos. Entre as mulheres, por sua vez, são registrados quase 58 mil novos casos de câncer de mama, ou 28,1% do total, com o de colo do útero na terceira posição (7,9%, ou 16,3 mil casos) e os de traqueia, brônquio e pulmão em quarto, com 5,3% e 10,9 mil casos.
Por outro lado, o brasileiro pouco citou menos outros cânceres muito comuns tanto em homens quanto em mulheres, como os de intestino e estômago. Apesar de ficarem em segundo e quinto lugar na incidência nas mulheres e em terceiro e quarto entre os homens, estas formas da doença foram esquecidas por cerca de um em cada cinco dos entrevistados.
- Essa estatística reforça a importância da realização de grandes campanhas informativas e educacionais para a população, uma vez que os tipos de câncer mais reconhecidos são aqueles alvos de ações como o “outubro rosa” e “novembro azul”, por exemplo – diz Cláudio Ferrari, diretor de Comunicação da Sboc.
Com relação aos fatores de risco, 93% dos brasileiros apontaram o tabagismo entre as principais causas do desenvolvimento da doença, seguido de herança genética (84%) e exposição ao Sol (83%). Mesmo assim, 21% dos entrevistados discordaram que fumar ocasionalmente possa causar câncer, enquanto 27% não identificaram relação entre obesidade e sobrepeso e risco para a doença e 26% não a relacionaram com doenças sexualmente transmissíveis.
Diante disso, o comportamento do brasileiro também se mostrou pouco saudável na prevenção do câncer. Quase a metade confessou não praticar exercícios com qualquer frequência, proporção que é ainda maior entre as mulheres (56%) e nas pessoas com mais de 50 anos (54%). Além disso, 43% ingerem bebidas alcoólicas regularmente e 14% ainda fumam, sendo que 30% deles consomem um maço por dia, e 9% mais de dois maços diários.
A falta de informação sobre variações importantes de câncer se reflete também em desconhecimento de sintomas importantes da doença que possibilitariam seu diagnóstico precoce. Assim, por volta de um em cada cinco brasileiros não reconhece que sangue nas fezes, perda de peso, sangue na urina ou dor no estômago são possíveis sintomas de um câncer.
Outro empecilho ao diagnóstico precoce é a baixa procura por exames preventivos. Assim, apesar de 80% reconhecerem a importância de check ups regulares, apenas 49% o fazem. Além disso, 24% dos brasileiros admitem não realizarem nenhum levantamento preventivo. E embora a maioria justifique não fazê-lo por não ter plano de saúde (29%) ou tempo para tanto (28%), um em cada cinco (20%) não acha necessário este tipo de pesquisa, e 11% temem descobrir algum problema pois “quem procura, acha”. Isto apesar de o câncer ser um profundo temor do brasileiro. Na pesquisa, 41% dos entrevistados disseram ter muito medo da doença, resultado impactado principalmente pelas mulheres (48%).
Por fim, a pesquisa revela que o brasileiro ainda acredita em alguns mitos em torno do câncer. Desta forma, apesar de o otimismo prevalecer quando o assunto é a cura da doença, com 80% afirmando ser possível vencer a doença, sendo 80% com radioterapia e 79% com a combinação de tratamentos existentes, 78% ainda apontam a “fé” como um possível caminho para tanto, 62% uma “alimentação natural”, 39% dietas “vegetarianas ou veganas”, 34% “medicina oriental” ou meditação e 26% acreditam que basta estimular o próprio corpo para se curar.
- Por meio do “Panorama do conhecimento, hábitos e estilo de vida dos brasileiros em relação ao câncer” é possível identificar as principais lacunas de conhecimento e reconhecer oportunidades para intervir junto à população, de forma a buscarmos juntos, governo e sociedade civil, reduzir o risco e aumentar o diagnóstico precoce do câncer – defende Ferrari.