A combinação dos juros em baixa com inflação menor e uma leve queda no dólar tornaram o ambiente macroeconômico mais favorável para as empresas, que devem apresentar um crescimento expressivo em seus lucros no terceiro trimestre, segundo analistas e especialistas ouvidos pelo
Valor. As pesquisas englobam, em média, 86 companhias de capital aberto.
O BTG Pactual projeta aumento médio de 29,2% no lucro líquido das companhias, frente a igual período de 2016. Para a receita líquida, a estimativa é de alta de 3,7% e, para o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), de 8,2%.
No Itaú BBA, as previsões também mostram cenário bastante positivo. A instituição calcula avanço médio de 13,6% no lucro líquido das empresas, com incremento de 6,1% na receita e de 6,4% no Ebitda. O Morgan Stanley é um pouco mais cauteloso, mas ainda assim as indicações sugerem melhora expressiva nos resultados: elevação de 10,5% no lucro, de 2,3% na receita e de 10% no Ebitda.
Nos três casos, para não distorcer a análise geral, foram excluídas a Vale e a Petrobras da amostra. As projeções para a mineradora foram feitas em dólar, enquanto as estimativas para a petrolífera seriam destoantes dos números, já que a estatal teve prejuízo de R$ 16,4 bilhões no terceiro trimestre de 2016.
Em linhas gerais, espera-se que os demonstrativos do terceiro trimestre mostrem receitas maiores e despesas financeiras menores, a combinação ideal para aumentar o lucro.
"A linha financeira continua sendo beneficiada pela Selic [taxa básica de juros] menor. Teremos a despesa financeira menos pesada, com uma receita líquida crescendo mais, e isso resulta em ganho de margem para grande parte das empresas", diz Pedro Menezes, analista do Brasil Plural.
De acordo com os especialistas, o ciclo de corte na Selic, iniciado em outubro de 2016, já estava em linha com as perspectivas mais favoráveis para o ambiente de negócios e apontava um ponto de inflexão para as companhias desde o segundo trimestre deste ano, mas os efeitos serão realmente sentidos nos números de julho a setembro.
Ao término do terceiro trimestre de 2016, a Selic estava em 14,25% ao ano. Em junho deste ano, a taxa básica de juros já havia caído para 10,25% ao ano e, no fim de setembro, estava em 8,25% ao ano.
Em relatório, o Santander reforça que o ponto mais baixo para os resultados de 2017 já passou e as tendências positivas devem se manter neste e no próximo ano. O banco espera que 65% e 68% das empresas registrem melhoras nas margens Ebitda e líquidas, respectivamente.
A temporada de balanços começa hoje, com a divulgação da Fibria, produtora de celulose. O setor terá um dos melhores desempenhos no período, de acordo com Felipe Silveira, analista da Coinvalores. Ele lembra que a demanda continua aquecida, sobretudo na China, e ressalta que as empresas aumentaram os preços neste ano. "É um setor que apresenta um momento operacional muito bom, e, diferentemente do passado, o resultado financeiro não será um vilão."
Além disso, segundo relatório do Morgan Stanley, controles ambientais na China implicaram em uma alta adicional na demanda e nos preços da celulose.
Para Silveira, as exportadoras, de forma geral, terão resultados positivos. Apesar de um leve recuo em relação ao segundo trimestre deste ano, o câmbio permanece em um patamar elevado, não afetando a geração de receita dessas empresas.
"A queda do dólar, no entanto, tem um impacto importante no resultado financeiro, já que boa parte dos exportadores têm dívida em dólar", diz.
A cotação média do dólar Ptax no terceiro trimestre de 2017, utilizada como referência para cálculo das receitas em moeda estrangeira, ficou em R$ 3,16, o que significa quedas de 1,6% e de 2,5% em relação ao segundo trimestre deste ano e ao terceiro trimestre do ano passado, respectivamente.
Já a cotação de fechamento do dólar ao fim de setembro foi de R$ 3,17, patamar 4,2% menor que o visto ao término de junho e 2,4% abaixo da cotação de setembro de 2016. O valor de fechamento de cada trimestre serve como base para cálculos de despesas e receitas financeiras.
Relatório do Itaú BBA afirma que, em geral, o trimestre deve ser positivo para as empresas da América Latina em função da relativa estabilidade cambial ante junho, do contexto macroeconômico e dos aumentos nos preços das commodities. "No Brasil, verifica-se um movimento generalizado de melhora na atividade econômica, com as dinâmicas de inflação permanecendo bastante favoráveis", afirma a instituição.
Menezes, do Brasil Plural, concorda. "Um ou outro indicador ainda pode mostrar oscilação, mas sem dúvida estamos em uma tendência positiva."
Além das fabricantes de celulose, outros destaques citados pela maior parte dos analistas foram as companhias no setor de consumo, como a Renner, a Via Varejo, a operadora de turismo CVC, a de comércio eletrônico B2W, as frigoríficas BRF, JBS e outras indiretamente dependentes do bom momento do varejo, como as administradoras de shoppings center Iguatemi e Multiplan.
Considerando a análise por setores, as empresas de consumo conseguirão manter uma melhora de desempenho, ainda sentindo um pouco dos efeitos dos saques das contas inativas do FGTS.
"O segundo trimestre teve impacto positivo do FGTS em três meses, enquanto o terceiro teve um mês só. Claro que a base do segundo trimestre é mais forte, mas ainda devemos ter uma estabilidade no crescimento", diz Menezes.
Segundo ele, outros indicadores também contribuem para a evolução do segmento. "A alavancagem das famílias vem diminuindo, houve melhora no emprego e os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) vieram fortes."
Dados do Banco Central (BC) apontam que o endividamento familiar ficou em 41,58% em julho - o menor patamar desde meados de 2011 - e a taxa de desemprego caiu para 12,6% em agosto, nível mais baixo desde fevereiro. Já os dados sobre comércio calculados por analistas de mercado mostram que o varejo ampliado avançará 1,7% no terceiro trimestre.
Para o Itaú BBA, essa dinâmica fará com que as varejistas registrem bons resultados, com a continuidade da melhora nas vendas e rentabilidade, verificadas no segundo trimestre. Tais perspectivas, de acordo com o banco, podem indicar que os trimestres passados foram, de fato, os piores em termos de desempenho operacional.
Já a melhora nos preços das commodities metálicas mais uma vez traz a Vale como a líder da temporada, em disparada. O BTG projeta um aumento de cinco vezes no lucro da mineradora e o Morgan Stanley prevê uma alta de 267% na última linha do balanço da companhia. Os cálculos foram feitos em dólar.
No terceiro trimestre, o preço médio do minério com teor de 62% de ferro negociado no porto chinês de Qingdao foi de US$ 71,42 por tonelada, alta de 22,4% em relação ao mesmo período de 2016 e de 13% ante os três meses anteriores.
Do lado negativo, especialistas citam principalmente as varejistas de alimentos. A baixa inflação desses produtos e a concorrência apertada, principalmente em termos regionais, deve impactar os números, diz relatório do BTG.
Outros setores que terão mais dificuldade de recuperação são incorporação imobiliária com foco em alta renda e educação. Na opinião de analistas, tais nichos não foram ainda tão influenciados pela melhora econômica. No primeiro caso, os destaques negativos são Cyrela e Gafisa e, no segundo, Kroton e Estácio, conforme aponta o Itaú BBA.