A poluição está por trás de 9 milhões de mortes em 2015, o que equivale a aproximadamente uma a cada seis mortes que ocorreram no mundo durante o período, informa relatório organizado pelo periódico científico “The Lancet” publicado nesta quinta-feira (19).
A poluição do ar respondeu por 6,5 milhões das mortes, a água poluída a 1,8 milhões e a poluição no local de trabalho a 0,8 milhões de óbitos. Segundo o relatório, os números podem ser maiores – já que muitos poluentes químicos emergentes sequer foram identificados.
A publicação é o resultado de dois anos de projeto de uma comissão organizada pelo “The Lancet” sobre os efeitos da poluição na saúde. Com financiamento da União Europeia, o trabalho envolveu mais de 40 organizações internacionais e foi liderado por Philip Landrigan, médico e pesquisador ambiental na Universidade de Harvard (EUA) e Richard Fuller, fundador da Pure Earth, organização não-governamental.
“A poluição é muito mais do que um desafio ambiental: é uma ameaça profunda e generalizada que afeta muitos aspectos da saúde humana e do bem-estar”, destacou Landrigan, em nota.
Landrigan afirmou ainda, em nota, que a poluição tem sido negligenciada nas agendas globais de saúde e estratégias de controle não estão recebendo financiamento suficiente.
Segundo o estudo, a maioria dos óbitos se deve a associação da poluição com as doenças não-transmissíveis (DNTs); entre as mais letais estão as doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica.
Um evento da Organização Mundial da Saúde no Uruguai que ocorre essa semana reuniu mais 30 ministros da Saúde e especialistas para discutir as DNTs, que respondem a 70% das mortes no globo.
No caso da poluição da água, as mortes estão mais diretamente associadas com doenças gastrointestinais e infecções parasitárias.
Em relação às mortes no local de trabalho, o relatório aponta que a maioria dos óbitos se deu com trabalhadores expostos a componentes tóxicos – como é o caso das mortes por pneumoconiose em trabalhadores de carvão, câncer de bexiga em trabalhadores de tintas e câncer de pulmão e outros tipos de câncer em trabalhadores expostos ao amianto.
Industrialização desenfreada empurra números
Quase todas as mortes relacionadas com a poluição (92%) ocorrem em países pobres como Índia, Paquistão, China, Bangladesh, Madagáscar e Quênia. Nessas regiões, o peso da poluição nas mortes pode representar até um em cada quatro óbitos, informa o documento.
Esses países têm em comum o fato de terem tido uma industrialização rápida e sem o desenvolvimento de políticas que impõem restrições à emissão de poluentes.
No entanto, segundo o relatório, nenhum país sai ileso dos efeitos deletérios da poluição, já que ela é o resultado de diversas atividades humanas realizadas em ambientes industrializados e urbanos.
Apesar disso, os países pobres, além de terem mais mortes, também arcam com os maiores custos em saúde -- enquanto sistemas de saúde em países de baixa renda gastam 7% por ano com doenças associadas à poluição, esse número é de 1,7% nos países mais ricos.