Pêmio global incentiva estudantes a desenvolver negócios de impacto social
Valor Econômico
19/06/2013

Prêmio global incentiva estudantes a desenvolver negócios de impacto social

Por Letícia Arcoverde | De São Paulo
 
Daniel Wainstein/Valor / Daniel Wainstein/Valor
Ahmad Ashkar anunciou para 2014 uma etapa do Hult Prize em São Paulo

 

O Hult Prize, um dos principais prêmios do mundo em empreendedorismo social, vai promover pela primeira vez uma etapa regional latino-americana no ano que vem, em São Paulo. Mas a intenção do CEO da competição, Ahmad Ashkar, é ir além e contribuir para que o Brasil se torne um centro de desenvolvimento de negócios sociais.

Ashkar esteve no país no início do mês em palestras nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba para apresentar o prêmio a estudantes e empresas. A competição global, voltada para alunos de escolas de negócios, está na quarta edição e funciona como aceleradora de startups. Grupos de alunos de todo o mundo enviam projetos que tenham como missão resolver um problema social relacionado a um tema previamente definido pela organização. O de 2013 é segurança alimentar. A startup vencedora recebe US$ 1 milhão de capital de investimento.

O Hult Prize já conta com etapas regionais em Boston e São Francisco, nos Estados Unidos, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Xangai, na China, e Londres, no Reino Unido, além de uma edição on-line que reúne projetos de alunos que não podem viajar até essas cidades. A nova edição de São Paulo se deu em razão do alto número de participantes da América Latina. Em 2013, dos 10 mil inscritos na competição, 500 eram da região.

Ashkar ressalta, contudo, que o foco é mesmo o Brasil. Para ele, a juventude brasileira tem o DNA mais empreendedor do mundo, e pode contribuir com uma visão única de quem viveu e aprendeu com a entrada do país nos mercados emergentes. "Acredito que os negócios desenvolvidos aqui serão adaptados para outras regiões do mundo", diz.

Até o ano que vem, o Hult Prize vai buscar cerca de 15 executivos e diretores de organizações não governamentais para serem jurados na edição sediada em São Paulo. Em 2014 o prêmio também vai promover pequenas disputas em universidades ao redor da América Latina, anteriores ao evento em São Paulo. O objetivo é testar o modelo para, em 2015, implementá-lo nos outros locais onde o prêmio está presente.

Outro aspecto que influenciou a decisão de vir ao Brasil foi o pedido de um parceiro ilustre do prêmio, o ex-presidente americano Bill Clinton. A Clinton Global Initiative (CGI), organização que reúne líderes da iniciativa privada, terceiro setor e governos para pensar soluções inovadoras para problemas mundiais, vai realizar pela primeira vez uma reunião específica para a América Latina, no Rio de Janeiro, em dezembro deste ano. Também é Clinton quem escolhe o tema do Hult Prize todos os anos - segundo Ashkar, um dos mais cotados para 2014 envolve soluções para a área de saúde.

Todos os anos, os grupos responsáveis pelos seis projetos finalistas, um de cada região, apresentam suas ideias na assembleia do CGI, onde são ouvidos por chefes de estado, empresários, investidores e líderes de organizações sem fins lucrativos. Em 2013, foi introduzida mais uma etapa, que terá início no fim de junho: um período de sete semanas que os finalistas passarão em Boston para que possam desenvolver melhor o projeto com a ajuda de mentores, além de participar de encontros com investidores.

É o que fará a brasileira Monica Noda, que junto com outros quatro colegas faz parte do grupo de alunos da escola de negócios espanhola Esade, que venceu a etapa regional de Dubai com um projeto de startup voltado para o comércio de alimentos em favelas indianas. Formada em marketing pela ESPM, Monica cursa MBA na Espanha desde o ano passado, e diz que já pensava em participar do prêmio antes mesmo de entrar na escola.

O projeto leva em conta que o comércio de alimentos na Índia é feito, basicamente, por meio de pequenos mercados onde, ao contrário das grandes redes que começam a se instalar no país, a comida é vendida em quantidades pequenas e com linha de crédito. O modelo é fruto das necessidades dos moradores, que possuem renda muito baixa e geralmente não têm emprego estável. "No entanto, são comércios individuais e muito fragmentados, sem poder de barganha na cadeia de distribuição", explica a estudante.

A startup que Monica e os colegas desenvolveram pretende oferecer um sistema unificado em que esses comerciantes poderão inserir informações sobre as vendas e agregar a demanda de vários lojistas, organizando melhor a compra de produtos e o poder desses microvarejistas na cadeia.

Para rentabilizar, os estudantes esperam usar os dados coletados sobre a procura e demanda dos consumidores que moram nas favelas - um vácuo de informação que Monica diz que o grupo identificou - e fornecê-los para governos, ONGs e empresas que produzem alimentos de alto valor nutritivo específico para esse segmento. Pelos cálculos do grupo, o modelo pode reduzir o custo dos alimentos em cerca de 5%, o que representa 24 dias a mais de acesso a comida ao fim do ano para cada habitante envolvido.

No último domingo, o grupo viajou para Mumbai para conhecer a Índia pela primeira vez e fazer pesquisas de campo. De lá, vão direto para Boston. Monica diz que eles já consideram a ideia "uma empresa em estágio inicial, e não mais apenas um projeto."

Na passagem pelos Estados Unidos, ela espera fazer contatos e avançar na captação de investimentos para continuar a tocar a startup mesmo se o prêmio de US$ 1 milhão não vier, uma possibilidade que ela considera um dos aspectos mais importantes do Hult Prize. "Todos os projetos apresentados são diferentes e podem ser muito úteis", diz.

 

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