Diante do impasse entre operadoras de planos de saúde e hospitais, que vivem às turras sobre de quem é a responsabilidade do elevado custo dos convênios médicos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) defende que as companhias contratantes do benefício pressionem as empresas do setor. "Os empregadores precisam ser protagonistas nesse processo, eles é que pagam o plano de saúde. As grandes empresas não participam das discussões sobre as mudanças necessárias para o setor", disse Leandro Fonseca, presidente interino da ANS. Os planos de saúde corporativos, benefício concedido pelas empresas aos seus funcionários, representam 66% do 47,3 milhões de usuários de convênios médicos no país.
O modelo de saúde vigente hoje no Brasil é alvo de críticas porque quanto mais a operadora restringe o acesso melhor será a sua rentabilidade. Já para os hospitais, clínicas e laboratórios é o contrário, ou seja, quanto mais procedimentos forem realizados maior é o faturamento. Na ponta final desse processo que incentiva o gasto está o empregador que paga a conta. A negociação de reajuste do convênio é livre entre a operadora e o contratante, diferente do que ocorre na modalidade individual, cujo aumento é regulado pela ANS. Neste ano, a inflação médica - que mede a variação dos preços de serviços de saúde e é usada para calcular o reajuste do convênio - ficou em 19%, contra uma projeção de IPCA de 3,5%.
Fonseca defende ainda uma parceria das operadoras com o SUS para fazer deslanchar o plano de saúde ambulatorial - modelo que não dá direito à internação e tem em média um custo 30% menor. Sua ideia é que os procedimentos básicos sejam feitos na rede privada e os de alta complexidade encaminhados à rede publica de saúde. Seu argumento é que 80% dos procedimentos são casos simples e uma maior quantidade de pessoas com acesso ao plano ambulatorial desafogaria o sistema público de saúde, que poderia destinar mais recursos para alta complexidade.
Hoje, o plano ambulatorial é pouco procurado pelas pessoas e as operadoras quase não ofertam porque veem risco de o paciente precisar de uma internação e entrar na Justiça contra a empresa. Já existe uma resolução que obriga a operadora a encontrar um leito no SUS em caso de necessidade de internação do usuário do convênio ambulatorial.
Outra proposta de longo prazo é a criação de uma "poupança saúde" que poderia ser utilizada para pagar a despesa do convênio médico quando a pessoa já estivesse aposentada - nos moldes de uma previdência privada. "Nos Estados Unidos, 22 milhões de pessoas já aderiram a um produto chamado 'health savings account' que se destina a isso", disse. "Há vários modelos que podem ser desenhados, inclusive, de as empregadores pagarem uma parcela enquanto o funcionário está na ativa", complementou.
Questionado sobre o modelo ideal de remuneração das operadoras de planos de saúde, o presidente da ANS pontuou que o atual formato de conta médica aberta (conhecido como 'fee for service') é insustentável porque incentiva a quantidade de procedimentos e não está atrelado ao desempenho, ao resultado. "Não existe uma bala de prata. O modelo ideal é que o serviço médico seja remunerado de acordo com o resultado alcançado", disse o presidente da ANS.
De 2015 para cá, cerca de 3 milhões de pessoas perderam o plano de saúde, principalmente por conta do aumento do desemprego no país. Neste cenário de crise, algumas operadoras e hospitais estão tocando projetos com novos formatos de remuneração, mas são ainda iniciativas isoladas que não conseguiram frear o custo do plano de saúde. Nos últimos cinco anos, os convênios acumulam um reajuste de 67,9% - patamar bem acima dos demais serviços de saúde como hospitalização e cirurgia, que aumentaram 44,7% no mesmo período, segundo estudo da Anahp, associação nacional dos hospitais privados.