Ambientes motivadores
05/10/2017
No fim de 2014, quando a indústria começou a registrar os primeiros sinais de queda de consumo com o aumento de estoques, Lucas Keiti enxergou uma boa oportunidade para iniciar um novo negócio. A ideia era escoar o excesso de estoques de produtos de higiene, limpeza e de beleza, de fabricantes com vendas pela internet. No início, o negócio era feita apenas no site criado por Keiti para "sentir" o mercado. "A receptividade foi muito boa, mas a proposta só virou um modelo de negócio promissor quando passamos a oferecer não apenas o encalhe, mas a linha completa de produtos de higiene e beleza em marketplaces como Mercado Livre, Walmart, B2W ", diz Keiti. Isso foi no início de 2015, quando a P&G entrou no jogo. Atrás da multinacional, vieram outras, como Duracell e Reckitt Benckiser.

Um ano e meio mais tarde, surgia a Sage's, loja on-line especializada em produtos de limpeza e higiene e beleza, criada com um investimento de R$ 1 milhão. A ideia era atingir uma média de vendas de R$ 1 milhão ao mês em 2017, um crescimento de 20% em relação a 2016. "Para nossa alegria, fecharemos este ano com números acima do previsto, movimentando R$ 18 milhões", comemora Keiti. "Para 2018, a meta é ainda mais ousada: R$ 3 milhões de vendas mensais."

Na visão do empreendedor, parte do sucesso da Sage's é resultado da boa leitura que os sócios fizeram do cenário no qual começamos a trabalhar. "Na crise, as pessoas buscam fazer mais por menos. Nós conseguimos viabilizar um negócio que era bom para a indústria, pois aumentava suas vendas, e para o consumidor, que comprava com conveniência e preço competitivo", observa. "Nós enxergarmos a mudança de comportamento de consumo pelos milleniuns; aproveitamos o amadurecimento do e-commerce no Brasil e a disposição da indústria de ir para o varejo on-line."

Embora a Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) sinalize que a taxa de empreendedorismo no ano passado caiu para 36%, contra 39% em 2015, casos como o da Sage's têm se multiplicado pelo país. A mesma pesquisa destacou que 75% dos empreendedores nascentes em 2016 buscaram esse caminho porque encontram um nicho. Em 2015, metade das pessoas com empresas iniciantes investiu no próprio negócio por causa da necessidade.

"A evolução, embora discreta, pode revelar um início de reação da economia", afirma Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae Nacional. "Os pequenos negócios apresentaram saldo positivo de contratações nos sete primeiros meses de 2017. De janeiro a agosto, somaram 327 mil empregos, enquanto as médias e grandes eliminaram 182, 4 mil postos de trabalho."

Na outra ponta, os pedidos de falência de empresas também caíram 14,6% no acumulado do ano até setembro, contra mesmo período do ano anterior, segundo dados da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).

Quem sente na prática a melhora do cenário é a Mandaê, startup especializada em logística de e-commerce para pequenas empresas, criada em 2014. "Em três anos atendemos mais de 7 mil clientes e no primeiro semestre de 2017 dobramos o nosso movimento em relação a 2016", afirma Douglas Carvalho, diretor de operações. "Enxergamos uma oportunidade na crise, quando as pessoas passaram a vender mais pela internet e os Correios abriram uma lacuna na entrega de encomendas de até 1 kg", declara.

"Além disso, oferecemos um grande diferencial que é ir até o remetente para recolher a mercadoria, embalar e transportar, tornando simples e cômodo o processo de envio de produtos tanto para o lojista, quanto para o e-commerce e as pessoas físicas."

A startup trabalhou o chamado mercado de cauda longa, conectando os pequenos e-commerces às transportadoras, algo que sozinhos não conseguiriam.

Na visão de Juliano Seabra, diretor da Endeavor, o surgimento de empresas inovadoras, que enxergam efetivamente oportunidades, não acontece por acaso. "O ambiente de suporte ao empreendedorismo melhorou muito nos últimos anos, em várias esferas: quantidade e qualidade de informação, volume de recursos, entidades de apoio, organização", afirma. "O ecossistema está muito mais maduro do que há 10 anos."

Ainda segundo Seabra, a nova geração - e isso não significa faixa etária -, que abriu suas empresas nos últimos três anos está realmente escolhendo empreender. Seja porque já abriu e fechou outros negócios e, por isso, criou mais 'casca', seja porque se preparou mais para ter a própria empresa. "Somando-se o amadurecimento do ecossistema à melhor formação e informação dos novos empreendedores, geram-se empresas com maior potencial de partida e com mais chances de sucesso, mesmo na crise", diz.

A opinião é compartilhada por Lineu Andrade, responsável pelo Cubo, espaço de fomento ao empreendedorismo criado pelo Itaú, em São Paulo. "Quando decidimos colocar o projeto em prática, tínhamos mais dúvidas do que certezas. Até que ponto valia a pena aproximar todos os agentes do ecossistema empreendedor, como investidores, empresas nascentes, universidades, bancos?", recorda Andrade.

As respostas vieram aos poucos. Desde 2015 foram avaliadas 850 startups das mais variadas áreas, e destas, 74 passaram pelo Cubo, 54 fixaram residência, duas fecharam e 18 saíram porque cresceram muito.

O espaço virou referência. "Em 18 meses, as startups receberam R$ 150 milhões de investimento, geraram mais de mil empregos e faturaram R$ 200 milhões", diz Andrade. "Em 2018 trabalharemos mais fortemente em cinco verticais: saúde, educação, varejo, indústria 4.0 e fintechs."

Selecionada na primeira turma de residentes do Cubo, em setembro de 2015, a startup Kitado, uma plataforma de negociação de dívidas, reflete o quanto a criação de um ecossistema de incentivo ao empreendedorismo tem impacto positivo nos resultados.

"Quando chegamos ao Cubo, tínhamos quatro funcionários e menos de 300 mil nomes na base de dados, o que nos garantia uma média de 1500 negociações de dívidas por mês", diz o sócio Alexandre Lara. Hoje, são 52 colaboradores, 5,5 milhões de clientes e mais de 45 mil negociações por mês, num valor acumulado superior a R$ 550 milhões.
Fonte: Valor




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