Há uma cesta de ativos farmacêuticos à venda no Brasil, fruto da revisão da estratégia tanto de laboratórios multinacionais quanto locais e da elevada ociosidade em certas unidades fabris, apurou o Valor. Juntas, essas potenciais transações podem movimentar bilhões de reais no curto e médio prazos e, apesar da recente correção nos preços pretendidos pelos vendedores, a avaliação geral é a de que os ativos disponíveis continuam caros.
Segundo fontes do setor, no Rio Grande do Sul, a Takeda colocou à venda o laboratório Multilab. O valor da operação, sem considerar dívida, gira em torno de R$ 90 milhões a R$ 100 milhões, bem abaixo dos R$ 540 milhões pagos pela farmacêutica japonesa em 2012. Em Minas Gerais, a Hipolabor contratou um banco brasileiro para buscar compradores dispostos a desembolsar R$ 1 bilhão pela empresa.
Há ainda informações que circulam no setor que envolvem diferentes farmacêuticas e unidades industriais dedicadas tanto a medicamentos de uso humano quanto veterinário que estariam à espera de um comprador.
A TheraSkin, de dermocosméticos, teria sido colocada novamente à venda por R$ 1 bilhão - segundo uma fonte, uma oferta de R$ 800 milhões foi recusada - e a Hypermarcas estaria em busca de um sócio, o que a farmacêutica negou "veementemente" há alguns dias.
No caso da Multilab, disseram fontes, o processo já está em andamento e ao menos dois interessados, um deles um laboratório nacional, apresentaram ofertas não vinculantes ao banco estrangeiro que tem o mandato da operação. A expectativa é a de que a transação seja concluída no curto prazo.
Um dos desafios à concretização da venda em um prazo mais acelerado, conforme uma das fontes, está relacionado a problemas regulatórios em um dos principais produtos do laboratório, o MultiGrip. Além disso, pesa contra a empresa um passivo tributário de R$ 120 milhões.
Por outro lado, desde a aquisição da Multilab, a Takeda teria investido na operação e atualizado a fábrica de São Jerônimo do Sul (RS). A decisão de se desfazer do ativo, conforme uma fonte, se deve ao ajuste do foco da Takeda em três áreas estratégicas, gastroenterologia, oncologia e sistema nervoso central, além das pesquisas na área de vacinas.
A Multilab produz genéricos, similares, medicamentos hospitalares e isentos de prescrição (OTCs) e, segundo outra fonte, não trouxe o retorno esperado pelos japoneses. A Takeda Pharmaceutical, cujo faturamento anual gira em torno de US$ 16 bilhões, fechou a compra do laboratório brasileiro por preço considerado elevado à época - cerca de 17 vezes o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).
Com a crise econômica e a redução do ritmo de crescimento do mercado farmacêutico, os ativos em geral na indústria estão ganhando "valores mais reais", segundo a fonte. Um laboratório nacional com intenção de ampliar presença no Sul do país teria o perfil do provável comprador, destacou. Procurada, a Takeda informou que não comenta rumores de mercado.
Essa decisão de venda, na avaliação de fontes da indústria, é parecida à tomada pela Pfizer ao se desfazer de sua fatia no Teuto, de genéricos. No início de julho, a multinacional revendeu à família Melo a participação de 40% que tinha comprado no laboratório brasileiro em 2010 por R$ 400 milhões. Também nesse caso, o valor da transação ficou abaixo do preço pago pelo ativo.
O Hipolabor, cujo faturamento está na casa de R$ 500 milhões, também informou que não comenta rumores de mercado. Conforme uma fonte, o laboratório, especializado no segmento hospitalar, enfrenta com alguma recorrência a suspensão de medicamentos pela Anvisa e já foi alvo de investigações, a mais grave delas por sonegação fiscal, fraude em licitações e adulteração de medicamentos, em 2011.
Por outro lado, é dono de uma fábrica que goza de incentivos fiscais em Minas Gerais, o que pode ser um bom atrativo no processo de venda.