Diante da adoção de novas tecnologias como automação robótica, inteligência artificial e internet das coisas na dinâmica da economia brasileira, mais empregos correm o risco de desaparecer. Um estudo realizado pela Accenture Research sobre vulnerabilidade no mercado de trabalho formal indica que 25% das vagas ocupadas atualmente têm alto risco de serem afetadas por práticas produtivas mais modernas até 2020.
Trata-se de postos de trabalho com tarefas excessivamente repetitivas, portanto mais suscetíveis a eventuais processos de automação baseado em tecnologias avançadas. O estudo aponta indústria, construção, transporte e armazenamento, telecomunicações e remessa de documentos e objetos como as atividades mais ameaçadas.
Essa tendência, se não for devidamente endereçada com políticas públicas e investimentos em capacitação, também contribuirá para o aumento da informalidade da mão de obra e o achatamento da renda dos trabalhadores, sugere a pesquisa.
O estudo inédito da Accenture Research, que será divulgado hoje, mostra ainda que mais do que o desaparecimento de vagas por causa da adoção de novas tecnologias, esse movimento sugere a renovação do mercado de trabalho, com o surgimento de novas tarefas e o desenvolvimento de novas habilidades por parte dos trabalhadores.
"Desde meados da década de 90 vários tipos de trabalhos deixaram de existir e novos apareceram. A proporção de empregos em ocupações intensivas em habilidades repetitivas caiu de 50% para 44% nas economias em desenvolvimento entre 2000 e 2012", destaca o estudo, citando um levantamento divulgado pelo Banco Mundial.
A pesquisa destaca a vulnerabilidade do trabalho a partir de um catálogo de 720 ocupações, definindo como alto risco de substituição por automação tecnológica até 2020 as profissões em que os trabalhadores gastam 75% ou mais do seu tempo realizando tarefas que demandam mais habilidades semelhantes às das máquinas.
Na metodologia do estudo há ainda as faixas de médio e baixo riscos. Nesses casos o profissional executa menos tarefas mecânicas ou repetitivas. Educação, saúde, serviços comunitários são exemplos de atividades menos propensas a serem substituídas por novas tecnologias.
Um dos autores do documento, Matthew Govier, diretor-executivo da Accenture Strategy, pondera que a pesquisa construiu uma modelagem estatística para mensurar a vulnerabilidade das profissões diante de transformações tecnológicas num cenário de três anos.
"Mas a real substituição ou extinção desses empregos dependem de vários fatores difíceis de mensurar, como o ritmo de investimento de empresas para se modernizar", afirma o executivo.
Uma das principais mensagens do estudo, diz Govier, é chamar atenção de empresas e formuladores de políticas públicas para a necessidade de uma transição responsável quando mercado de trabalho e tecnologia se confrontam.
"Os empregos mudam, o tipo de trabalho e as tarefas estão mudando com a aceleração digital. Esse processo ocorre há mais de cem anos e temos a percepção de que é mais acelerado agora, mas o importante é que essa transição ocorra com responsabilidade social. Ou seja, devemos identificar os empregos mais vulneráveis e oferecer possibilidades, políticas para que essas pessoas não sofram tanto com mudanças; ao contrário, aproveitem novos empregos que estão surgindo, novas oportunidades de mercado", destaca o diretor-executivo da Accenture.
Uma das formas de suavizar essa transição, diz o autor, é oferecer melhor treinamento e formação para trabalhadores com o objetivo de ampliar as habilidades profissionais. Em uma comparação com a Europa e os Estados Unidos, o Brasil e a América Latina estão muito atrás em termos de qualificação da força de trabalho.
Com base em dados de 2017 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apenas 22% dos trabalhadores formais brasileiros e latino-americanos realizam tarefas altamente qualificadas, enquanto na Europa e nos Estados Unidos, esse índice fica acima dos 40%.
"Como a forma de se trabalhar está mudando rapidamente, o profissional precisa cada vez mais saber fazer mais coisas de formas diferentes e usando a tecnologia. Conhecimento técnico com competências humanas, como saber aprender, criatividade, colaboração, resiliência, adaptabilidade e agilidade, é essencial nesse processo", afirma.