Bancos de ideias
Valor Econômico
17/06/2013

Bancos de ideias

Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
 
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Richard Schwarzer, diretor de P&D do Boticário: cerca de metade do faturamento é resultante da venda de ofertas recém-lançadas e no último ano foram apresentados mais de 1,5 mil novos itens

 

Grandes empresas estão concentrando ativos ligados à inovação em centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. A ideia, além de alavancar a criação de produtos, é unir esforços para prospectar tendências de consumo e realizar atividades de colaboração com outras companhias e universidades. O Grupo Boticário investiu R$ 37 milhões em uma unidade aberta em março, no Paraná; a HP injetou mais de R$ 250 milhões, nos últimos cinco anos, em uma central no Rio Grande do Sul, e a Johnson & Johnson dispara para mercados internacionais itens desenvolvidos em laboratórios instalados em São José dos Campos (SP).

Para manter acesa a chama da inovação em processos produtivos e de gestão, algumas empresas investem de 2,5% a 10% do faturamento anual no setor. As estratégias incluem ainda o envolvimento de todos os funcionários na geração de projetos, ampliação das equipes envolvidas em P&D e a antecipação às demandas do mercado. Em alguns casos, cerca de metade do faturamento já é obtida com a venda de novos produtos.

No Grupo Boticário, cerca de 2,5% dos resultados anuais são reinvestidos em P&D. Em março, a empresa reuniu todos os setores ligados à inovação em uma única estrutura física, com mais de oito mil metros quadrados de área construída, avaliada em R$ 37 milhões. O novo centro, em São José dos Pinhais (PR), funciona no mesmo local da fábrica de produtos de beleza. Guarda um acervo de fragrâncias, com capacidade para oito mil compostos, entre perfumes, óleos e amostras de matérias-primas.

"Duzentas e trinta pessoas, dedicadas à inovação, trabalham no local", diz Richard Schwarzer, diretor de P&D do grupo que controla as unidades de negócio O Boticário, Eudora; quem disse, berenice?, The Beauty Box e Skingen Inteligência Genética. Nos últimos dois anos, a equipe de pesquisa aumentou 40%. O grupo trabalha com o desenvolvimento de mais de dois mil produtos, simultaneamente.

Os resultados dos investimentos em inovação já pipocam no livro-caixa. Segundo Schwarzer, cerca de metade do faturamento do grupo é resultante da venda de ofertas recém-lançadas. Apenas no último ano, foram apresentados mais de 1,5 mil novos itens ao mercado. Só a marca quem disse, berenice?, criada em 2012, envolveu o desenvolvimento de mais de 500 mercadorias. Entre as novidades, uma máscara para cílios "3 em 1", que promete mais volume, alongamento e definição.

De acordo com Schwarzer, o processo de inovação da companhia é alimentado pela prospecção de tendências, execução de projetos de pesquisa tecnológica e atividades de co-criação. Também segue fases definidas, como análises de viabilidade técnica e financeira, além de monitoramento de resultados. O Boticário trabalha com a inovação aberta, processo em que as empresas atuam colaborativamente, com parcerias, para desenvolver soluções. Na lista de parceiros estão a Universidade da Califórnia e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para Glauco Arbix, presidente da Agência Brasileira da Inovação (Finep), apesar de algumas companhias apresentarem estratégias maduras de investimento, ainda há muito a ser feito no setor. "O Brasil investe cerca de 1,2% do Produto Interno Bruto em P&D. Dessa parcela, as empresas brasileiras respondem por um aporte de apenas 0,6% do PIB", diz.

Arbix afirma que é preciso engordar a taxa de investimento e o número de organizações que inovam sistematicamente. "Não há um 'número mágico' de quanto deve ser investido em inovação, mas estimamos que a economia brasileira comporte valores dois ou três vezes maiores do que os de hoje."

O presidente da Finep acredita que o país precisa avançar também em direção a uma cultura de investimento privado. No Brasil, para cada R$ 1 aplicado em P&D por uma empresa, o governo investe outro R$ 1. Nos Estados Unidos e na Alemanha, os recursos corporativos valem quase o triplo dos aportes públicos.

A americana HP mantém uma unidade de inovação no Brasil há 15 anos, dez deles no Parque Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Tecnopuc). O local, que conta com mais de mil colaboradores, entre funcionários e pesquisadores, recebeu mais de R$ 250 milhões nos últimos cinco anos, segundo Cirano Silveira, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da HP Brasil.

Os esforços na frente brasileira resultaram em novas tecnologias como a impressão a distância e recursos mais modernos de arquivamento de dados. Atualmente, cerca de 80 projetos estão em andamento na central gaúcha. "Mantemos parcerias com seis institutos de pesquisa e sete universidades no Brasil, além de empresas como Microsoft e Intel ", diz Silveira. "No próximo ano, continuaremos investindo em áreas como 'cloud computing', segurança e mobilidade."

Para se manter inovadora, além de costurar alianças com a academia e parceiros da cadeia produtiva, a companhia envolve os funcionários na criação de ideias. Este ano, foram recebidos mais de 1,8 mil novos projetos em todo o mundo.

De acordo com Paulo Yazigi Sabbag, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e autor do livro Gerenciamento de Projetos e Empreendedorismo (Saraiva), os bancos de ideias contribuem para a geração de possibilidades de inovação, mas, na maioria das vezes, a demanda por alternativas inovadoras responde a pressões externas, por parte de clientes e concorrentes. "Algumas empresas conseguem antecipar demandas, criando uma fonte de vantagem excepcional."

É o caso da Johnson & Johnson, que investe há mais de 40 anos em um centro de pesquisa em São José dos Campos (SP). Desde 2012, a unidade, uma das cinco do gênero que a fornecedora possui no mundo, passou a ser responsável pelo desenvolvimento global de produtos ligados à proteção solar e de cuidados femininos, de marcas como Sundown e RoC. O parque fabril, o maior da empresa no planeta, supre 31 países com itens de saúde e higiene. "Investimos 10% do faturamento mundial em inovação", diz Samuel Santos, vice-presidente do Centro de Pesquisa e Tecnologia da J&J.

Segundo o executivo, a inovação na linha de produção pode ser provocada por meio de sugestões de consumidores, necessidades detectadas pelos cientistas do centro ou a partir de novas tecnologias que aperfeiçoam alternativas existentes.

Desde 2007, a J&J estabeleceu um prêmio de inovação, para projetos assinados por funcionários. Um dos vencedores, um sabonete facial que promete remover 99% das impurezas da pele, chegou às prateleiras no ano passado. A empresa mantém uma média de 150 lançamentos ao ano, no Brasil. "Buscamos também aliar a inovação a processos sustentáveis", relata Santos.

 

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