A gestora de fundos de private equity Advent deu dois importantes passos ontem. Vendeu em leilão na bolsa toda a fatia que detinha na rede de medicina diagnóstica Fleury por R$ 1,3 bilhão e assegurou duas cadeiras no conselho de administração da Estácio - o que lhe confere maior autonomia para sugerir mudanças no grupo de educação carioca. Tanto o Fleury quanto a Estácio se posicionam como as segundas maiores empresas de seus respectivos setores.
Segundo fontes, a Advent pretende replicar na Estácio algumas das iniciativas adotadas no Fleury que trouxeram resultados positivos para a rede de laboratórios nos dois anos em que foi acionista. Entre elas, está a indicação de executivos para comitês e diferentes posições na companhia carioca. Além disso, a Advent quer colocar seu time para identificar os problemas na Estácio e com esses dados em mãos traçar estratégias. Essas ideias já vinham sendo conversadas informalmente com os conselheiros e diretores executivos da companhia carioca, mas esses trabalhos começam oficialmente agora com a nomeação de dois sócios da Advent para o conselho de administração.
Os nomes indicados para o colegiado da Estácio foram de Brenno Raiko e Juan Pablo Zucchini, que também ocupam cadeiras no conselho do Fleury - ainda não está definido se ambos continuam na empresa de medicina diagnóstica. A gestora de fundos zerou, ontem, sua posição na empresa de saúde que era de 14,7% e que a colocava como a segunda maior acionista.
Na Estácio, a Advent também é o segundo maior sócio, com cerca de 10,5% do capital. Porém, segundo fontes, a gestora pode vir aumentar esse percentual e tornar-se o maior acionista. Hoje, essa posição pertence ao fundo Oppenheimer que tem 13% e vem reduzindo sua participação, desde que a fusão da Estácio com a Kroton, líder no mercado brasileiro de educação superior, foi barrada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no fim de junho.
Ao que tudo indica, a Advent vem trabalhando para manter uma política de boa vizinhança com o conselho da Estácio, que já teve conflitos com o ex-presidente Rogério Melzi e o empresário Chaim Zaher, que era o maior acionista individual da companhia até o mês passado. Na assembleia em que o colegiado propôs mudanças polêmicas, como a cobrança de um ágio de 30% para o investidor que adquirisse 20% da companhia (pela regra atual, o acionista que chega a essa participação é obrigado a fazer uma oferta pública de ações por 80% do capital), a gestora se absteve. Mas foi contra a criação de um comitê de estratégia que acabou sendo aprovado e tem como integrantes os conselheiros João Cox, Líbano Barroso, Maurício Luchetti e Jackson Schneider.
Há uma grande expectativa do mercado de que a Advent traga ganhos de eficiência à Estácio. Desde o anúncio de que a gestora estava montando posição na companhia, em 28 de julho, as ações da empresa já valorizaram 66,5%. A gestora de fundos tem a seu favor a experiência bem-sucedida com a Kroton, entre 2009 e 2013, e mais recentemente com o Grupo FSG, dono do Centro Universitário Serra Gaúcha. Esse último ativo, inclusive, está a venda.
Procurada pela reportagem, a Advent informou que não poderia comentar.