As companhias brasileiras de capital aberto que realizaram fusões e aquisições nos últimos 20 anos apresentaram, na média, retorno para os acionistas mais elevado do que as que buscaram apenas o crescimento orgânico. A conclusão faz parte do estudo "M&A Made in Brazil", realizado pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG).
A consultoria analisou pouco mais de 1,1 mil fusões e aquisições realizadas entre 1995 e 2016 por 217 empresas listadas na B3 (ex-BM&FBovespa). O objetivo da pesquisa foi avaliar o impacto desses negócios na geração de valor para os acionistas.
A consultoria considerou como principais indicadores de ganhos para as empresas e acionistas o crescimento da receita, do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) e o retorno total ao investidor (que inclui os ganhos com a valorização das ações, distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio).
As companhias que realizaram fusões e aquisições apresentaram, em média, um crescimento anual de 17,9% no retorno total ao acionista, ante um aumento de 14,6% das demais empresas abertas. Em relação à receita líquida, as companhias que fizeram fusões e aquisições entre 1995 e 2016 tiveram um incremento médio anual de 16,3%, ante 9,4% das demais. O Ebitda das empresas que compraram ou se fundiram avançou, em média, 16,8% ao ano, contra uma alta anual média de 8,8% nas demais abertas.
Masao Ukon, sócio do BCG e um dos responsáveis pelo estudo, observou que o retorno total ao acionista das empresas que fizeram aquisições apresentou uma diferença de 3,3 pontos percentuais em relação ao indicador das demais companhias abertas. Essa diferença é menor do que a observada em receita (6,9 pontos percentuais) e Ebitda (8 pontos percentuais). Esse crescimento diferenciado deve-se a itens que afetam o retorno ao acionista, como excesso de alavancagem e altos preços de aquisição de companhias. "Esses fatores podem neutralizar ou se sobrepor ao efeito positivo de crescimento em lucro e receita na geração de valor", observou Ukon.
A pesquisa também revelou que, embora as fusões e aquisições tenham se mostrado eficientes para gerar valor, fatores internos e externos também exercem impacto no desempenho das companhias.
Em relação a questões internas, a consultoria notou diferenças entre os grupos que só fizeram uma aquisição e as empresas consideradas compradoras ativas.
As companhias que realizaram apenas uma compra apresentaram, nos dois anos seguintes à transação, um retorno anual total ao acionista de 31%, em média. Já as companhias que contabilizaram várias aquisições, tiveram um retorno anual total ao acionista de 42%, em média, nos dois anos após o negócio. Entre as companhias abertas que não fizeram aquisição, o retorno total ao acionista foi de 6% ao ano. Ukon cita como uma possível explicação a experiência que as compradoras ativas adquiriram para obter ganhos de sinergias e integrar empresas com estruturas e culturas diferentes.
Em relação a fatores externos, o analista considerou o momento da compra como um fator determinante para o sucesso da operação. O retorno médio aos acionistas das empresas sofreu variações de acordo com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e com o risco-país de cada ano.
De acordo com o estudo, as aquisições feitas em anos com risco-país baixo (inferior a 300 pontos base) tiveram retornos melhores do que em períodos de risco-país alto. As aquisições realizadas em anos de baixo crescimento do PIB (inferior a 3%) apresentaram retornos maiores aos acionistas do que as aquisições feitas em anos de forte avanço da economia. Isso porque, em anos de grande expansão, o valor das empresas tende a aumentar. Já em intervalos de baixo crescimento, as incertezas sobre o desempenho futuro das companhias cresce e os investidores podem fazer avaliações mais conservadoras sobre seu valor.
"As companhias que fizeram aquisições em 2002, 2004, 2005 e 2008 tiveram, na média, uma perda de 50% no valor do retorno total ao acionista", disse Ukon. "Embora tenham sido anos de crescimento do PIB e euforia, também foram anos de muito risco. Além disso, é possível que as empresas tenham feito aquisições a preços altos, com base em uma visão muito otimista para aquele momento."
No outro extremo, as companhias que realizaram aquisições em 2009, 2012, 2013 e 2014 apresentaram um retorno médio total ao acionista de 68%. Esses foram anos em que o Brasil apresentou um risco-país baixo e crescimento também baixo do PIB (entre 1% e 3%).
Ukon considerou que o país amadureceu em fusões e aquisições nos últimos 20 anos e que essas transações têm crescido ao longo desse período, em quantidade e valor. Entre 1995 e 2016, o número anual de fusões avançou 352%, passando de 110 para 498. Em valor, houve aumento de 274%, passando de R$ 26,64 bilhões em 1995 para R$ 99,63 bilhões em 2016. Também houve aumento das "supertransações" (negócios com valor superior a US$ 5 bilhões), sendo que, entre 2007 e 2012, essas operações chegaram a responder por 25% de todo o volume de fusões e aquisições no país.
"Existem vários setores que ainda têm muitas aquisições a fazer, olhando a indústria como um todo", observou Ukon. O especialista afirmou que não vê muita diferença no ânimo das empresas por aquisições e fusões em comparação ao ano passado. Ele considerou que, em setores mais pulverizados, como alimentos e moda, existe espaço para aquisições de pequenas e médias empresas. Em outras categorias, como saúde, beleza e educação, a tendência é de negócios de grande porte.