A desaceleração da economia já pesou no bolso da alta cúpula das companhias abertas brasileiras. Depois de subir 15% em 2011, a despesa de um grupo de 220 empresas com seus diretores e conselheiros de administração estacionou no ano passado. Os gastos somaram R$ 4,06 bilhões em 2012, com leve queda ante os R$ 4,07 bilhões do ano anterior, sem considerar a inflação do período.
As informações foram apuradas com base em mais de 15 mil dados sobre remuneração de executivos e administradores entre 2010 e 2012 e foram coletadas em levantamento exclusivo feito pelo Valor, a partir da documentação enviada pelas companhias abertas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os gastos das companhias com a diretoria executiva recuaram 2% na comparação anual, para R$ 3,49 bilhões. Mas a baixa foi parcialmente compensada por uma alta de 11% nos pagamentos feitos aos conselheiros de administração, no total de R$ 524 milhões. A diferença, de R$ 46 milhões, fica com conselheiros fiscais, principalmente. No ano anterior, a despesa total com esses profissionais havia somado R$ 40 milhões.
O principal motivo para a queda nas despesas totais com administradores em 2012 foi o corte dos bônus dos diretores, uma vez que a remuneração fixa acompanhou a inflação do período.
Empresas como Iochpe-Maxion, B2W, Magazine Luiza, Hering e MRV são exemplos de companhias que simplesmente zeraram a remuneração variável de curto prazo de seus executivos referente a 2012, provavelmente em resposta ao desempenho aquém do esperado nos negócios. Outras tantas diminuíram os valores de forma considerável. As companhias foram procuradas, mas apenas a Iochpe-Maxion confirmou que os bônus não foram pagos pelo não atingimento de metas.
O gasto médio por diretoria no ano passado no grupo analisado ficou em R$ 15,87 milhões (queda de 2%). Já a mediana - que divide a amostra pela metade e reduz as distorções provocadas principalmente pelos bancos, que têm diretorias com muitos integrantes - ficou em R$ 7,27 milhões, com baixa de 4% ante 2011.
Quando se analisa o gasto per capita nas diretorias, houve queda 6% no valor médio gasto, para R$ 1,95 milhão no ano, puxada pela baixa de 13% no bônus médio. Já a mediana por cabeça teve leve alta de 1% em 2012, para R$ 1,4 milhão por diretor.
Vale notar que os valores divulgados à CVM representam a despesa registrada no balanço das empresas em cada ano, pelo regime de competência. Os valores incluem salário fixo bruto, benefícios, bônus anual, previdência privada, multas por desligamento e pagamento baseado em ações, além de encargos patronais com INSS.
Essa não é, portanto, a quantia recebida de fato pelos executivos das empresas. A diferença é grande especialmente nos pagamentos em opções de compra de ações, que têm um registro contábil específico, pelo valor justo dos papéis, no momento da outorga dos instrumentos. Quando as opções se tornam exercíveis ao longo dos anos, o montante efetivo recebido pelo executivo pode ser tanto maior do que o valor contábil como simplesmente não existir, que é o caso quando o preço de exercício determinado supera a cotação do papel na bolsa.
Pela média per capita, a remuneração fixa representou 44% do total gasto com diretores, a variável teve peso de 34% e os pagamentos baseados em ações equivaleram de 18%. Em 2011, os índices tinham sido de 40%, 37% e 19%, respectivamente. Ao todo, 85% pagam bônus ou PLR e 39% remuneram com instrumentos baseados em ações.
Na média, as companhias brasileiras tinham sete diretores estatutários e oito conselheiros em 2012. A mediana ficou em cinco diretores e sete membros no conselho.