Sobram recursos, faltam bons projetos
01/09/2017
Mais recursos do que projetos inovadores para investir. Esta é a realidade encontrada hoje por boa parte dos investidores-anjo no Brasil. A dificuldade em encontrar ideias revolucionárias, bem-estruturadas e com empreendedores maduros para o negócio tem feito com que uma boa quantidade de dinheiro fique estacionada à procura de onde investir.

No ano passado, o total aplicado em projetos iniciantes ou mesmo ainda no papel girou em torno de R$ 810 milhões, um crescimento de 9% se comparado ao ano anterior. Mas uma involução no ritmo que em 2015 havia avançado 11% em relação a 2014.

Entre investidores ativos e passivos, a Anjos do Brasil estima que hoje tenha disponíveis R$ 1,5 bilhão para investimentos. "Fazemos estimativa por amostragem e cruzamos com dados estatísticos do próprio IBGE. E achamos que este ano pode haver queda no nível de crescimento dos aportes novamente", indica Cassio Spina, presidente da associação, que reúne 320 membros.

Nos EUA, esse mesmo tipo de investimento somou US$ 22 bilhões em 2016. Na avaliação de especialistas, apesar do volume e da qualificação dos projetos terem melhorado de cinco anos para cá, o país ainda não está em estágio maduro quando o assunto é inovação e qualidade. Até mesmo a 'profissão' de investidor-anjo é algo relativamente recente no Brasil, tem cerca de dez anos.

O ambiente para que esse tipo de negócio se efetive tem que melhorar. Falta criar mais canais qualificados de conexão dos dois lados para que o investidor procure ou receba e possa avaliar os novos projetos. Além da Endeavor, do Sebrae e do Seed - ligado ao governo federal -, há poucos veículos de orientação e fomento ao empreendedorismo no país. Muitos empreendedores não conseguem investimentos, não apenas porque não estão preparados, mas, às vezes, porque não tiveram contato com os investidores. "Ou porque está em uma região distante, sem investimento acessível. Daí a concentração de aportes no eixo São Paulo/Rio. Alguns chegam a se deslocar para essas capitais para destravar o investimento", diz Spina.

Além disso, é preciso observar que a capacitação básica de empreendedores ainda é muito ruim. São poucas universidades que oferecem formação ligada à atividade empreendedora. No currículo básico escolar, nem se fala. Quem tem interesse em empreender tem que se virar sozinho. "Outro ponto tem a ver com a valuation - valor de mercado - do negócio. Muitos empreendedores colocam valores impraticáveis e projetos legais se inviabilizam por esse motivo", avalia Fernando Kuzuhara, da F2 Investimentos, que possui R$ 3 milhões em capital para este tipo de aporte, sendo que R$ 1,5 milhão já estão aplicados em novos negócios.

Pensar em escalar a operação só no mercado nacional também é visto como um fator limitador pelos anjos. "O fato de o Brasil ser um país continental limita os empreendedores a acharem que só o mercado nacional é o suficiente. E não é", diz Kuzuhara. A crise econômica ainda impôs, ainda um fator adicional às exigências dos investidores, que estão mais cautelosos e exigentes com os projetos. "Alguns projetos que passariam no passado, hoje não passam. Qualquer ideia conectada a tecnologia e o acesso ao capital hoje está mais difícil", afirma.

Considerado um investidor-anjo passivo, já que não sai à procura de projetos, mas analisa os que chegam até ele, Pedro Henrique Moreira Soares, dono da Laversa - comércio atacadista de acessórios e semijoias - tem R$ 250 mil para investir, mas ainda não encontrou nenhum negócio que o atraísse. Quando encontra, tem algum impedimento por parte do empreendedor. "Às vezes o empreendedor não aceita opinião ou ceder a cadeira de líder para você porque ele não tem a cabeça de gestão. Tem só a cabeça criativa, mas não empreendedora de fato", diz Moreira Soares, que, por afinidade, gostaria de encontrar algo ligado a tecnologia e software para o setor automotivo. Engenheiro com pós-graduação pela Fundação Dom Cabral (FDC), ele diz que a falta de maturidade do empreendedor brasileiro é imensa se comparada aos do Vale do Silício, nos EUA.
Fonte: Valor




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