Imagine que você acumulou uma pequena fortuna comprando o equivalente a R$ 5 mil em bitcoins em janeiro de 2013 e hoje seu investimento valha cerca de R$ 10 milhões.
Qual a melhor estratégia daqui para frente?
Se resolvesse seguir as recomendações de um consultor financeiro, a decisão seria diversificar os investimentos. É essa lógica que começa a movimentar os negócios com ativos virtuais no mundo.
Um mercado vibrante de ofertas iniciais de moedas (ICOs na sigla em inglês) vem sendo desenvolvido progressivamente. Segundo reportagem da revista "The Economist", um montante equivalente a mais de US$ 2 bilhões foi alocado nessas modalidades desde 2013.
As moedas virtuais vendidas em oferta pública são, na verdade, um meio de pagamento que serve para comprar os produtos e serviços comercializados pelas companhias que emitiram esses ativos. São chamadas, também, de "tokens".
Para entender a mecânica, considere uma empresa interessada em gerar energia elétrica a partir da utilização de painéis solares. A companhia poderia, em tese, emitir uma moeda virtual, por exemplo o solar, que seria usada apenas para aquisição da energia produzida pela própria empresa.
Se o projeto efetivamente der certo e a demanda por energia renovável subir, o solar tende a valorizar. E os investidores que compraram a moeda na oferta inicial realizariam um lucro expressivo.
Para a empresa, a vantagem é fazer uma pré-venda da energia futura que ainda não foi produzida. E usar os recursos captados para financiar a empreitada.
Se a emissão da moeda virtual da companhia elétrica fosse trocada apenas por bitcoins, sem o envolvimento de moedas tradicionais tais como o real ou o dólar, é provável que os órgãos reguladores tivessem pouco poder para regulamentar a transação. Isso ocorreria tanto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do Brasil quanto a Securities and Exchange Commission (SEC) dos Estados Unidos.
Potencialmente, um mundo financeiro diferente, mais acessível e menos regulamentado, poderia surgir em decorrência do crescimento do mercado de moedas virtuais. Qualquer investidor que se interessasse pelo projeto de uma determinada empresa poderia comprar ativos virtuais emitidos por essa companhia.
Conceitualmente, a forma de financiamento da operação da companhia elétrica hipotética não é nada inovadora. Estruturas financeiras envolvendo a antecipação de receitas futuras para viabilizar a captação de recursos para o desenvolvimento de um empreendimento são relativamente comuns no mercado de capitais.
O que promete ser revolucionário é a ampliação do acesso a esse tipo de operação para empresas e investidores de maneira generalizada. A expectativa dos futuristas é de um amplo processo de desintermediação institucional.
Isso seria possível a partir da chamada internet dos valores e da tecnologia "blockchain". Para discutir o assunto, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo organizou o evento "Revolução Blockchain", no fim de setembro.
O encontro trouxe Don Tapscott, considerado um dos pensadores mais influentes do mundo, que apresentou sua visão otimista sobre os impactos do blockchain. Para o especialista, os governos podem ter um papel ativo na defesa da privacidade dos cidadãos difundindo o uso da nova tecnologia.
Hoje, ao realizarmos qualquer transação na internet vamos deixando rastros pelo caminho. Essas informações são coletadas e apropriadas pelas empresas gigantes do setor de tecnologia, tais como Facebook, Google e Amazon, que lucram com esses dados.
No relacionamento entre governos e cidadãos, o blockchain acena com uma forma mais eficiente e rápida na prestação de contas. Ou mesmo na execução de políticas públicas.
Empresas que processam pagamentos, bancos e demais instituições financeiras estão empenhados em entender e desenvolver aplicações para o blockchain. No mínimo para entender os impactos da nova tecnologia e adaptarem seus negócios a tempo.
Nesse ambiente futurista, otimista e pouco regulamentado, o investidor deve ter cautela com as promessas de ganhos rápidos e estratosféricos com as moedas virtuais. A rentabilidade passada tem sido um forte atrativo para convencer os mais céticos.
A maioria dos investidores perdeu a oportunidade de lucrar com a alta do bitcoin. Agora, a lista de ativos virtuais que se apresentam como alternativas para recuperar o ganho que ficou para trás aumenta dia a dia.
Entretanto é prudente seguir o exemplo dos bancos e, antes de investir em qualquer moeda virtual, entender profundamente os impactos reais do blockchain para os investimentos.