Os negócios de datacenter devem continuar em alta no país por muito tempo. Os dez novos centros com mais de 25 mil racks e 120 MW instalados entre 2014 e 2016 são insuficientes para atender a necessidade das empresas e os investimentos se mantêm elevados. "Ainda tem muito pouco piso de datacenter para a demanda no Brasil", avalia o líder de IaaS (infraestrutura como serviço) na Accenture Operations, Moyses Rodrigues.
Nuvem, terceirização da TI nas empresas e transformação digital são tendências por trás do movimento e aceleram a especialização no setor. De um lado estão os datacenters de hiper escala para "colocation" - espaço para abrigar os servidores dos clientes com segurança e energia em níveis industriais e serviços mínimos. De outro, negócios mistos com portfólios de serviços cada vez mais sofisticados.
"A transformação dos datacenters por hiperconvergência [que permite que recursos de armazenamento e computação sejam gerenciados no mesmo servidor], automação, definição por software e sistemas especializados reforçam a tendência de escala industrial", aponta o diretor de pesquisa do Gartner, Henrique Cecci. "O próprio mercado de datacenter também apresenta comoditização e pode ser substituído por oferta de infraestrutura como serviço em cloud", acrescenta Maurício Chede, analista da Frost&Sullivan.
Ascenty, Equinix e Odata representam o primeiro grupo, incentivado pelos grandes provedores mundiais de nuvem e conteúdo sem infraestrutura local. A Ascenty investiu em dois anos mais de R$ 500 milhões. Em 2016 vendeu a área de serviços para a Mandic, cresceu 75%, projetando 85% para 2017. Depois de levantar US$ 340 milhões em financiamento e investimentos, prevê finalizar 2018 com mais quatro datacenters em operação no Brasil, um no Chile - somando oito - e 5 mil km de fibra óptica, contabiliza o CEO, Chris Torto.
A Equinix mira também provedores de conteúdo, redes sociais, provedores de internet e grandes empresas de segmentos como finanças e pagamentos. Investiu US$ 69 milhões na primeira fase do seu quinto datacenter no país, recém-inaugurado este ano, com capacidade total superior a 2,7 mil racks, e absorveu um sexto com a compra de datacenters da Verizon. "Neste ano vamos trazer PTT [Pontos de Troca de Tráfego] privado para cá", conta o diretor de operações Nelson Mendonça.
A Odata já nasceu de olho em "colocation" no atacado para fornecedores de nuvem, como IBM, Microsoft e Oracle. "A especialização ajuda a ser mais competitivo em preço", afirma o diretor de marketing, André Busnardo.
De R$ 400 milhões previstos, investiu R$ 150 milhões para colocar a primeira fase de seu datacenter em operação, mas já prevê novas unidades no Brasil e na América do Sul - para o segundo, em Bogotá (Colômbia), já anunciou US$ 100 milhões.
T-Systems, UOL Diveo e Tivit transitam entre diferentes segmentos. A T-Systems anunciou R$ 20 milhões para ampliar seu datacenter de 1.800 m2. Oferece de "colocation" a outsourcing de TI e metade do faturamento de perto de R$ 500 milhões vem de serviços de nuvem, diz o líder de operações de infraestrutura, Guilherme Barreiro.
O UOL Diveo hospeda grandes fornecedores de infraestrutura de cloud em seus quatro datacenteres interligados com 27 mil m2 de área disponível, mas tem foco na prestação de serviços como nuvem e outsourcing para segmentos como e-commerce e as empresas do grupo. "O preço por metro é commodity", diz o CEO, Gil Torquato.
No ano passado a empresa passou a atuar como broker - com revenda e integração de nuvens públicas de terceiros. A Tivit foi pelo mesmo caminho. Comprou a One Cloud e hoje tem parceria com AWS, Microsoft e Google. Além disso, separou a área de terceirização de serviços diversos (BPO), criando a Neobpo, e se prepara para ir à bolsa com venda de ações dos sócios - o fundo APX Brasil detém 92,64% do capital.
"O mercado tem barreira de entrada por investimento alto", diz o vice-presidente de gestão de tecnologia, Carlos Gazaffi. A Tivit atua em sete países e tem nove datacenters, quatro no Brasil. O maior fica em São Paulo.
A IBM também investiu em plataforma de serviços de brokerage, para gestão de nuvens híbridas e criação de catálogos de serviços disponíveis em nuvens nas empresas clientes, com políticas de segurança pré-definidas. A oferta já atraiu mais de 20 clientes, diz o líder de serviços de infraestrutura, Rodrigo Schiavon. A empresa inaugurou em 2015 seu primeiro datacenter de nuvem pública, rebatizada Blue Mix Infraestructure, que oferece desde serviços gerenciados a nuvem.
As operadoras de telecom também ampliam suas ofertas. Com cinco datacenters no Brasil, a Oi observa o crescimento de "colocation" e hosting (com fornecimento e gestão de servidores) para segmentos como o agronegócio. Vai se tornar broker com um marketplace apoiado por um consórcio mundial de provedores, para oferecer desde aplicativos até provisionamento de nuvem, pública ou privada, em seus próprios datacenters ou em parceiros. Para isso, já fechou parceria com a Microsoft. "Vamos realizar o sonho de vender rede por marketplace", comemora o diretor de TI, Carlos Faray.
Segundo Mário Rachid, diretor executivo de soluções digitais da Embratel, o crescimento exponencial dos volumes de dados mantém em alta os investimentos em datacenter e infraestrutura, apesar da crise. O que muda é o formato de contratação, com reforço de modelos sob demanda e serviços medidos por disponibilidade das funções de negócios, não só de hardware. "O desafio é a dificuldade de competir com datacenters fora do país, com preços melhores em função da carga tributária que temos no Brasil."