“Sou formado pela Faculdade de Medicina de Jundiaí e fiz residência médica em administração de saúde na Universidade de São Paulo. Sou presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) e vou presidir a Federação Internacional dos Hospitais (IHF) pelo próximo biênio.”
Conte algo que não sei.
O sistema de saúde privado brasileiro, em relação a recursos, é maior que o público. Isso é inusitado no cenário mundial, porque das 10 maiores economias do mundo, só duas têm esse perfil, nós e os EUA. Com nossa estrutura financeira e social, nós merecíamos ter uma percepção de setor público mais condizente com nosso país e com as necessidades de saúde dos cidadãos.
Quais os maiores desafios da medicina atualmente?
O primeiro desafio é o acesso. Precisamos permitir que a pessoa chegue ao sistema de saúde. Uma vez que isso acontece, que seja um atendimento num ambiente adequado, do ponto de vista de tecnologia, formação do médico, atenção e organização. Tendo o atendimento, que seja em um ambiente de qualidade e segurança assistencial. Falo qualidade porque, muitas vezes, proporcionar um acesso e um atendimento sem condições básicas é irresponsável. Não adianta disponibilizar um atendimento se você não pode garantir a segurança dele.
O que é ser um gestor de saúde?
A grande função do gestor de saúde é reestruturar o sistema, de forma que os profissionais de saúde em geral, e os médicos, em particular, possam, realmente, compor um quadro no qual eles sejam úteis à sociedade.
Como o gestor de saúde pode contribuir para superar essas dificuldades?
O médico lida muito com a relação individual, entre médico e paciente. E nós, como gestores, temos que ver a saúde de forma mais ampla. Precisamos ver o sistema de saúde e sua organização, porque, em certos casos, de nada vale você ter um excelente profissional se ele não tiver uma estrutura organizada, um modelo adequado e uma remuneração que faça sentido para aquilo que ele faz.
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O que é um hospital do futuro?
São hospitais organizados em rede, que alcançam o paciente fora de seu ambiente, principalmente em casa, no trabalho e no dia a dia, usando aplicativos. Também são hospitais especializados, nos quais os profissionais estão focados não somente nos pacientes, mas também no desenvolvimento de novas tecnologias e novos processos. E são instituições que têm o que chamamos de estruturas abertas: acessíveis para a sociedade como um todo, para o desenvolvimento científico e educacional.
Como a população pobre pode ter acesso a um sistema de saúde de qualidade?
O que precisamos, na realidade, são lideranças políticas comprometidas no sentido de que o sistema de saúde brasileiro esteja focado na universalização do acesso. E mais do que isso, que haja uma reestruturação do sistema no que tange à parte técnica, organizacional, estrutural e assistencial. O foco do sistema de saúde deve ser o cidadão.
Qual a situação do sistema de saúde brasileiro em comparação aos países desenvolvidos?
O Brasil é o único país da América Latina que tem um projeto focado na coleta de resultados assistenciais, o que é chamado de saúde baseada em valor. O que importa para as pessoas não são as estatísticas e o quanto foi feito, mas o resultado final. Atualmente, é preciso saber o que ocorre após os procedimentos. Saúde é um processo, não um desfecho individual.