Os hotéis de Campinas (SP) recebem mais de 60 mil hóspedes por ano atraídos pelo “turismo de saúde”, inclusive estrangeiros de diversas partes do mundo. Segundo a diretora de Turismo de Campinas, Alexandra Caprioli, esse é o terceiro segmento mais importante no setor hoteleiro local, só ficando atrás do turismo de negócios e o de eventos, e movimenta milhões de reais por ano.
A reconhecida qualidade dos profissionais da área, bons hospitais e especialistas renomados, aliados a preços mais baixos que os cobrados em outros países, são as principais razões da força desse tipo de turismo na cidade. Nem mesmo a crise que afeta o setor de saúde local, tanto em hospitais públicos quanto privados, diminuiu a atração de pacientes para Campinas.
Para atender melhor e conquistar mais hóspedes, os hotéis e os profissionais de saúde estão oferecendo serviços e preços diferenciados, além de quartos com características que atendem às necessidades desses pacientes e seus familiares.
Movimenta a economia
Não há um cálculo exato de quanto isso movimenta em geral para a economia local, mas é possível ter alguns indicativos pontuais. Esse público se encaixa em sua maioria como hóspedes de gasto considerado médio no meio hoteleiro, cujas diárias ficam na faixa de R$ 320.
A média de diárias por hóspede em Campinas gira em torno de duas, cada um, por ano. Por essa média, 120 mil diárias por ano seriam só de turistas de saúde, gerando um movimento bruto de R$ 38,4 milhões.
Mas o setor hoteleiro sabe que esse tipo de turista para tratamento médico tem períodos de hospedagem acima da média por conta dos seus tratamentos. Se for calcular uma média de ao menos três diárias por hóspede, o gasto anual per capita será de R$ 960 (R$ 320 de cada diária). Multiplicando pelos 60 mil visitantes o valor total seria de R$ 57,6 milhões só em diárias a cada ano.
Junto a isso, há os gatos com as clínicas, transporte, alimentação, medicamentos, passeios e outras despesas. Esse número de 60 mil é só de hóspedes que ficam em hotéis, mas há muito mais turistas de saúde em Campinas que ficam em pousadas, albergues, hostels, abrigos de instituições, apartamentos alugados por período e casas de amigos ou familiares.
Esse público é formado por pacientes e familiares que estão na cidade para tratamento médicos e odontológicos, além de estudantes, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos, médicos, dentistas, pesquisadores e outros profissionais de saúde que chegam a Campinas para participar de cursos, convenções e workshops.
Segundo Douglas Marcondes, coordenador de hotelaria do Campinas e Região Convention & Visitors Bureau, esse público chega a 10% do total de hóspedes atendidos anualmente pelos 38 hotéis que fazem parte da associação.
Isso é importante para garantir o crescimento da ocupação dos hotéis em Campinas e região, afetada pela crise econômica dos últimos anos. Segundo dados da associação, no primeiro semestre deste ano a ocupação média foi de 44,09 %, sendo a menor ocupação em janeiro, de 35,66%, e a maior em junho, de 50,41%.
Por isso, o setor investe em ações para aumentar a ocupação, e uma delas é conhecer as necessidades dos diferentes públicos.
Serviços diferenciados
A importância desse público para o turismo local se reflete nos serviços oferecidos. Há atendimento em inglês e espanhol, transporte especial, cardápio adaptado, descontos por tempo de permanência e até pagamento de diárias por parte de clínicas.
O anestesiologista Fabrício Dias Assis recebe em sua clínica especializada em dores crônicas 40% dos pacientes de outras localidades, incluindo alguns vindos de Angola, Peru, Bolívia e Argentina.
A clínica não atrai apenas pacientes de fora, mas também médicos que fazem especialização com os profissionais de Campinas em 25 finais de semana por ano.
O médico de medicina preventiva Érico Delgado Rolvare recebe pacientes de todo o Brasil e faz um esquema especial de atendimento nos finais de semana.
O cirurgião plástico Eduardo Keppke também costuma receber pacientes de todo o Brasil e alguns do exterior.
“Na maioria são brasileiros que moram fora ou estrangeiros casados com brasileiros. Eles chegam por recomendação de amigos e parentes que já conhecem meu trabalho. Eu chego até a ir aos hotéis visitar os pacientes para acompanhar o pós-operatório”, diz.
Douglas Marcondes diz que no hotel onde atua há convênio com uma empresa especializada em transporte médico só para atender esse tipo de hóspede. Na cozinha também há um trabalho voltado para elaborar pratos seguindo as recomendações médicas de cada paciente que fica no hotel.
“Os hotéis da cidade também dão descontos especiais de acordo com o tempo que ficam na cidade, podendo chegar a até 40%. Muitos deles fazem tratamentos que duram anos e voltam para a cidade constantemente”, diz.
A contadora Kátia Aparecida Cochoni, de Santo Antonio da Alegria (SP), veio para Campinas nesta semana para tratamento odontológico. Conheceu os profissionais com quem fez tratamento pela internet.
Cidade é referência
Campinas tem uma série de referências nacionais e internacionais na área de saúde, como a Unicamp, Sobrapar, Boldrini, clínicas odontológicas, oftalmológicas, de cirurgia plástica, oncologia e reprodução humana, além de hospitais particulares e maternidades que atendem moradores de todo o interior e Sul de Minas Gerais.
A Sobrapar, que atende pacientes com má-formação craniofacial, faz uma média anual de 1,2 mil cirurgias e 22 mil atendimentos ambulatoriais em 2,4 mil pacientes, sendo 60% de Campinas e região e 40% de outras cidades do Estado de SP e de outros Estados.
Além dos que pagam os custos de viagem e hospedagem por conta própria, o hospital conta com um trabalho de assistência social que ajuda a encontrar locais de hospedagem. Também há um subsídio de pagamento de passagens aéreas e hospedagem bancadas pelo SUS para famílias carentes.
O setor hoteleiro também avalia que abertura de um novo centro de convenção na cidade junto ao The Royal em meados de 2018 também aumentará o turista que vem para eventos e convenções na área de saúde. Três novos hotéis estão em fase de conclusão, alguns deles voltados para esse tipo de turista, nas regiões do Cambuí e perto da Aquidabã.