Qual é a trilha sonora que dá o ritmo do trabalho nos escritórios
27/07/2017
"The Sounds of the Office" é um disco de 1964 em que o ouvinte se deleita com 35 minutos de máquinas de escrever em ação e os sons de café sendo preparado. Ele foi lançado nos EUA pelo selo Folkways. "Os sons do escritório são basicamente os sons de papel e máquinas", diz o texto na capa.

Se essa excêntrica gravação corporativa fosse feita hoje, as máquinas de escrever seriam os teclados dos computadores e o café viria em cápsulas. Mas ela também incluiria uma série de sons que não eram ouvidos no local de trabalho na década de 60 e que são cada vez mais comuns nos escritórios de 2017 - a "playlist" do escritório.

Em 2016, a PRS for Music, uma organização que recolhe direitos autorais para compositores do Reino Unido, concedeu mais de 27 mil licenças a escritórios para a execução de músicas gravadas.

É uma pequena proporção dos 351 mil locais de trabalho britânicos - incluindo pubs, lojas e salões de cabeleireiros - com licença para tocar músicas, mas a organização diz que esse número está crescendo.

Transformar os locais de trabalho em enormes "jukeboxes" tem lá suas armadilhas. A possibilidade de você estar em sua mesa e ser exposto à paixão do colega ao lado pela banda Iron Maiden na "Segunda-feira do Metal" não é uma coisa que necessariamente pode tornar seu emprego mais feliz. O mesmo pode acontecer com o batidão pop implacável que trata os trabalhadores como uma experiência pavloviana, enquanto eles digitam e-mails em um ritmo ainda mais furioso que a batida das músicas. Mas a música tem um longo histórico de auxílio à produtividade. As canções de trabalho (work songs, em inglês) há muito estão presente no trabalho manual, aliviando o tédio e proporcionando um ritmo ao dia de trabalho.

Entre 1940 e 1967, a BBC transmitiu o programa "Music While You Work" (em uma tradução livre, "Música para Trabalhar"), para melhorar a eficiência e manter o moral em alta nas fábricas. Sua música-tema era "Calling All Workers", uma canção orquestrada leve e alegre.
O "muzak" foi inventado nos Estados Unidos em 1922 para uso em locais de trabalho. Ele patenteou a abordagem "Progressão de Estímulos", dividindo o dia em partes de 15 minutos e alterando a intensidade da música tocada em cada um desses períodos, segundo os níveis oscilantes de energia da força de trabalho. Mas o sentido pejorativo que o "muzak" acabou ganhando - sem graça, inofensivo - é uma amostra do perigo de se usar música para moldar o comportamento no trabalho. Ninguém gosta de se sentir manipulado.

Anneli Haake, uma consultora e pesquisadora, publicou seu PhD sobre música nos escritórios em 2010, o primeiro do tipo. Sua pesquisa envolveu quase 300 funcionários de uma variedade de escritórios. "Muitos participantes disseram que a música era muito importante para gerenciar o ambiente auditivo do escritório e suas distrações, administrar o humor e os processos mentais internos, acompanhar tarefas tediosas no trabalho e inspirá-los", diz ela. "A coisa mais importante é ter controle sobre o que você está ouvindo, e se você está ouvindo ou não. Ser forçado a ouvir música quando você está trabalhando pode ser irritante e estressante", diz.

Serviços de "streaming" como o Apple Music e o Spotify fornecem o equivalente moderno da "Progressão de Estímulos" do "musak". As playlists do Spotify incluem a "Your Office Stereo", com seleções de músicas suaves como "CocoHello" da banda independente The Modern Strangers, e "Another Weekend" de Ariel Pink, sugerindo uma atmosfera de informalidade estudada ao estilo das companhias de tecnologia.

Enquanto isso, a playlist "Productive Morning" (Manhã Produtiva) do Spotify usa músicas-ambiente instrumentais no estilo "pós-rock" para induzir um estado de concentração imersiva, com picos musicais cirúrgicos para aqueles momentos "Eureka", quando um trabalhador do escritório resolve algum problema complicado.
As playlists oferecem, de certa maneira, a possibilidade dos funcionários interferirem sobre o que é tocado. Na sede da PRS for Music em Londres, os empregados votam sobre a programação da trilha sonora diária do escritório, com diferentes dias sendo dedicados a diferentes gêneros.
"Também temos bingo musical às sextas-feiras", diz Sam Pickering-Dunn, diretora da PRS for Music. A equipe escolhe três artistas que acredita que serão tocadas no rádio: a primeira pessoa a acertar os três escolhidos é a vencedora.

Mas há um problema com os sons no local de trabalho. Qualquer empresa do Reino Unido com mais de um funcionário que decidir tocar música gravada precisa pagar por isso, uma vez que a iniciativa é tratada como uma forma de radiodifusão.

Duas licenças são necessárias, uma da PRS for Music, cobrindo os direitos autorais, e uma da PPL, outra sociedade de recolhimento de royalties, que cobre os direitos de gravação. Mesmo ter um rádio tocando músicas exige licenciamento.

A PRS for Music e a PPL pretendem fundir suas licenças no fim do ano. Enquanto isso, os locais de trabalho que gostam de música precisam dar conta de uma quantidade nada agradável de mais de 40 tarifas somente da PRS.
"Se você está tocando música no local de trabalho e também coloca música de espera no telefone, quando clientes ligam, haverá tarifas diferentes para cada um dos casos", explica Sam Pickering-Dunn.

As empresas tentadas a fazer isso sem licença devem ficar atentas para uma visita dos coletores de direitos autorais. "Temos uma força de campo muito ativa que visita locais diariamente", acrescenta ela.

Mas há outros obstáculos. Contas pessoais em serviços de "streaming" não podem ser usadas para tocar música alta em escritórios. Um serviço mais caro associado ao Spotify, o Soundtrack Business, que custa 34,99 libras por mês, foi lançado no Reino Unido no ano passado para uso comercial, mas ele não permite aos usuários fazer suas próprias playlists. Ignorar essas restrições representa uma nova variedade de crime do colarinho branco: o aparelho de som do escritório como a nova rádio pirata.
Fonte: Valor




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