Um dos maiores fabricantes de excipientes para medicamentos em todo o mundo, o laboratório brasileiro Blanver está deixando esse negócio para se concentrar na produção de medicamentos e de princípios ativos (IFA, ou insumo farmacêutico ativo). Ao mesmo tempo, a empresa pretende aproveitar a experiência em comércio exterior adquirida com os excipientes e tornar-se exportadora de medicamentos para tratamento da Aids.
"A internacionalização dilui riscos e aumenta a massa crítica em medicamentos, com maior volume", diz o principal executivo do laboratório, Sérgio Frangioni. No caso específico da Blanver, a redução de risco está relacionada à diminuição da dependência em relação ao Ministério da Saúde, que é o grande comprador de seus medicamentos genéricos usados no tratamento do HIV. "Cada vez mais, o governo comprará dos laboratórios oficiais", explica.
Hoje, a Blanver produz drogas para o tratamento do HIV - Tenofovir e 2 em 1 (Tenofovir + Lamivudina) - que são distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) com o Ministério da Saúde e laboratórios oficiais. Acordos dessa natureza, porém, preveem transferência de tecnologia para os laboratórios públicos. "Tem prazo de validade vender para o governo", reitera.
Após analisar esse cenário de longo prazo, a Blanver definiu seu processo de transformação há cerca de dois anos. A estratégia começou a se consolidar em janeiro do ano passado, com a aquisição da CYG Biotech, que produz princípios ativos em Indaiatuba (SP). Mais recentemente, em junho, a Blanver acertou a venda de sua divisão de excipientes, a Itacel, para a francesa Roquette, que também produz ingredientes funcionais alimentícios. O valor das operações não foi divulgado, por acordo de confidencialidade.
Segundo Frangioni, a Blanver alcançou participação de 15% no mercado mundial de excipientes e, para manter-se entre os maiores, teria de investir cerca de US$ 100 milhões em ampliação da capacidade instalada - a taxa de ocupação já havia chegado a 95%. A decisão, porém, foi voltar-se ao mercado de medicamentos e farmoquímicos (princípios ativos) e abandonar o mercado de excipientes, que são considerados commodities. Enquanto o quilo de excipiente vale algo em torno de US$ 3,50 a US$ 4, o quilo de determinados insumos farmacêuticos gira em torno de US$ 600 a US$ 800.
No ano passado, o laboratório teve receita líquida de R$ 333,2 milhões, com alta de 7,3%. Desse total, 49% foi gerado pela área de medicamentos e 51%, em excipientes.
Já em 2018, afirma Frangioni, a área de farmoquímica (insumos) deverá exibir o mesmo faturamento que a empresa obtinha com o negócio de excipientes.
A fábrica de insumos de Indaiatuba receberá investimentos para atender à demanda da unidade de medicamentos da Blanver, em Taboão da Serra (SP). "A produção própria de insumos estratégicos é fundamental para ganho de escala e menor dependência de fatores externos", diz o executivo. Em três ou quatro anos, a meta é alcançar exportações de remédios da ordem de US$ 50 milhões.
O alvo inicial na estratégia de internacionalização da Blanver é a América do Sul, uma vez que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é reconhecida em muitos países da região. Em paralelo, o laboratório vai se preparar para entrar em países europeus, mediante o aval da agência europeia de medicamentos, Emea.
Até o fim deste ano, os pedidos junto à autoridade europeia, à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à agência canadense deverão ter sido protocolados. Em 2018, a Blanver buscará a permissão da agência americana Food and Drug Administration (FDA).