Remédios: Maconha medicinal
14/07/2017
Remédio à base maconha custará até R$ 2.800 e deve chegar neste ano 

Primeiro medicamento à base de maconha aprovado no país, o Mevatyl (Sativex no exterior) deve chegar ao mercado com preço de até R$ 2.837,40, segundo informações obtidas pela Folha. 

O valor, equivalente à caixa com três frascos de spray de 10 ml cada, refere-se ao preço máximo permitido para ser aplicado pelas farmácias ao consumidor. 

O preço pode ter variações por Estado, conforme o ICMS (no exemplo, de 18%). Para distribuidores, o preço máximo de venda às farmácias será de R$ 2.129,69. 

Os valores foram definidos neste mês pela Cmed (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), composta por representantes de cinco ministérios e que regula preços antes da oferta no mercado. 

Aprovado em janeiro pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Mevatyl é indicado para adultos com esclerose múltipla e quadro de espasticidade moderada à grave –situação que ocorre quando há rigidez muscular e incapacidade de controlar os músculos. 

Segundo a agência, que participa da Cmed, o cálculo considerou o fato do medicamento ser composto por THC (tetra-hidrocanabinol) e CBD (canabidiol), duas substâncias inéditas no país em medicamentos, "sem patente e sem comprovação de ganho para o tratamento em relação aos medicamentos já utilizados". 

Também foi levado em conta o valor de comercialização em outros nove países, informa. Para o Brasil, foi adotado o preço do Canadá, o menor entre os pesquisados. 

Apesar da definição da Cmed, as empresas também podem oferecer descontos –algo, porém, que só costuma ocorrer quando há remédios semelhantes no mercado. 

'IMPEDITIVO' 

O preço surpreendeu pacientes e médicos. Com quadro de dor neuropática, Juliana Paolinelli, 38, recebeu indicação para utilizar o Sativex em 2014. Mas desistiu ao saber do valor de importação na época, orçado ao todo em US$ 9.300 (incluindo taxas). 

"Nunca vi nem um frasquinho", diz ela, que é coordenadora da Ama-me (Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal). 

Para ela, o preço máximo ao consumidor estipulado para o Brasil ainda é alto. "Fiquei anos tentando, e vou continuar sem acesso", diz ela, que passou a recorrer a um extrato caseiro de Cannabis. 

Para Gustavo San Martin, 30, diretor-executivo da Ame (Amigos Múltiplos pela Esclerose), o alto preço pode levar à judicialização."É o principal resultado disso. Estamos sempre em busca de novos tratamentos, mas o preço pode ser impeditivo", diz. 

"Já imaginava que não viria por menos de R$ 1.000, mas ficou inacessível. Normalmente os pacientes com espasticidade já tem custo alto com outras coisas ou estão afastados do trabalho devido à doença avançada", diz Denis Bichuetti, professor de neurologia da Unifesp. 

Segundo ele, a maioria dos outros medicamentos hoje disponíveis para quadros de espasticidade custam em torno de R$ 200 por mês –o valor varia conforme a dose indicada para cada paciente. 

O impacto do custo do Mevatyl, diz, dependerá das doses indicadas para uso. Cada frasco de 10 ml tem cerca de 90 doses, e o tratamento geralmente é feito com 6 a 12 doses diárias –a caixa do medicamento seria suficiente para cerca de um mês. 

Para Bichuetti, o remédio será uma alternativa para pacientes com baixa resposta a outros tratamentos. "Há uma parcela de pacientes que quando chega numa dose mais alta [dos medicamentos atuais], não a tolera. Aí pode ser uma opção", explica. 

NOVIDADE 

Fabricado pela britânica GW Pharmaceuticals e distribuído no Brasil pela Ipsen, o Mevatyl tem chamado a atenção por ser o primeiro medicamento aprovado no país à base de maconha. 

Hoje, a maioria dos pacientes que usam produtos derivados da Cannabis para fins medicinais recorrem a extratos ricos em CBD (canabidiol). Já o Mevatyl tem 50% de THC, substância também alvo de estudos por efeitos terapêuticos, mas que gera desconfiança de alguns médicos por estar associada ao efeito psicoativo da Cannabis. 

Estudos clínicos, no entanto, apontaram como improvável o risco de dependência, de acordo com a Anvisa. 

Orlando Barsottini, da Academia Brasileira de Neurologia, diz que tratamentos à base de Cannabis são promissores em casos como os de esclerose múltipla, "mas ainda não conhecemos bem os efeitos a longo prazo". 

Nas farmácias, o medicamento terá tarja preta, requerendo receita médica especial A (amarela) e termo de consentimento assinado pelo paciente. A previsão é que esteja disponível neste semestre, de acordo com a Ipsen.




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